Simpatia de todas as coisas

“Não conseguia dormir. Por volta das duas horas — tinha acabado de dormir — acordei espantado, persuadido de que alguém viera ao meu quarto; tinha também a impressão de que a porta se abrira precipitadamente. Acendi a luz, mas não vi coisa alguma. Pensei que alguém se enganara de porta; olhei no corredor, silêncio de morte. “Estranho”, pensei, “alguém entrou no meu quarto!”. Procurei avivar minhas lembranças e percebi que acordara com a sensação de uma dor surda, como se algo tivesse ricocheteado em minha fronte e em seguida tivesse batido na parte posterior do meu crânio. No dia seguinte recebi um telegrama me avisando que aquele doente se suicidara. Dera um tiro na cabeça. Soube mais tarde que a bala se detivera na parte posterior do crânio. Tratava-se, nesse caso, de um verdadeiro fenômeno de sincronicidade, tal como se pode observar frequentemente numa situação arquetípica — no caso, a morte. Dada a relatividade do tempo e do espaço no inconsciente, é possível que eu tenha percebido o que se passara, em realidade, num outro lugar. O inconsciente coletivo é comum a todos os homens; é o fundamento daquilo que a Antiguidade chamava de “simpatia de todas as coisas”. No caso em questão, meu inconsciente conhecia o estado do meu doente. Durante a noite inteira eu experimentara um nervosismo e uma inquietação espantosas, muito diferentes do meu humor usual.”

 

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 2630.

Atividade Psiquiátrica

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

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