O pensamento ama o abismo

“O tédio profundo faz com que alvoreçam aquelas possibilidades de ação que poderiam capturar o ser-aí e que, porém, neste momento, permanecem dormentes no é um tédio. Ele convoca o ser-aí a capturar o poder-ser mais próprio; ou seja, a agir. Ele tem um caráter de chamado. Ele fala. Ele tem uma voz. O tédio de hoje em dia, que vem junto de uma hiperatividade, é sem fala, mudo. Ele é eliminado por meio da próxima atividade. Ser ativo, porém, não é ainda agir.

O pensamento ama o abismo. Inere nele uma “coragem clara para a angústia essencial”. Sem essa angústia, o igual se perpetua.

Hoje impera uma indiferença ontológica. Tanto o pensamento como a vida se tornam cegos em relação a seu plano de imanência. Sem contato com ele, o igual persiste.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 492-506.

Angústia

Condição de indivíduos

“Repito: há um grande e crescente abismo entre a condição de indivíduos de jure e suas chances de se tornar indivíduos de facto — isto é, de ganhar controle sobre seus destinos e tomar as decisões que em verdade desejam. É desse abismo que emanam os eflúvios mais venenosos que contaminam as vidas dos indivíduos contemporâneos. Esse abismo não pode ser transposto apenas por esforços individuais: não pelos meios e recursos disponíveis dentro da política-vida auto-administrada. Transpor o abismo é a tarefa da Política com P maiúsculo. Pode-se supor que o abismo em questão emergiu e cresceu precisamente por causa do esvaziamento do espaço público, e particularmente da ágora, aquele lugar intermediário, público/privado, onde a política-vida encontra a Política com P maiúsculo, onde os problemas privados são traduzidos para a linguagem das questões públicas e soluções públicas para os problemas privados são buscadas, negociadas e acordadas.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 729.

Capítulo 1 | Emancipação

O Compromisso com a teoria crítica na sociedade dos indivíduos

O abismo

“(…) a maneira como se vive torna-se uma solução biográfica das contradições sistêmicas”. Riscos e contradições continuam a ser socialmente produzidos; são apenas o dever e a necessidade de enfrentá-los que estão sendo individualizados.

Para resumir: o abismo entre a individualidade como fatalidade e a individualidade como capacidade realista e prática de autoafirmação está aumentando. (Melhor ser afastado da “individualidade por atribuição”, como “individuação”: o termo escolhido por Beck para distinguir o indivíduo auto-sustentado e auto-impulsionado daquele que não tem escolha senão a de agir (…)”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 646-649.

Capítulo 1 | Emancipação

O indivíduo em combate com o cidadão