“A crise atual da ação comunicativa pode ser atribuída ao metanível de que o outro está desaparecendo. A desaparição do outro significa o fim do discurso. Toma da opinião a racionalidade comunicativa. A expulsão do outro reforça a coação da autopropaganda de doutrinar a si mesmo com suas próprias ideias. Essa autodoutrinação produz infobolhas autistas que dificultam a ação comunicativa. Aumentando a coação à autopropaganda, espaços discursivos ficam cada vez mais recalcados por câmeras de eco, nas quais eu escuto sobretudo a mim mesmo falar.
O discurso pressupõe a separação entre opinião e identidade próprias. As pessoas que não têm essa capacidade discursiva aderem de modo desesperado à sua opinião, pois senão ficariam ameaçadas de perderem sua identidade. Por esse motivo, a tentativa de dissuadi-las de suas convicções está condenada ao fracasso. Não escutam o outro, não escutam atentamente. O discurso, contudo, é uma práxis da escuta atenta. A crise da democracia é, antes que mais nada, uma crise da escuta atenta.”
HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 453-457.
O fim da ação comunicativa