O vazio

“O vazio não significa que não haja nada na sala. Ele é uma intensidade, uma presença intensiva. É uma manifestação espacial de silêncio. Vazio e silêncio são irmãos. O silêncio também não significa que nenhum som possa ser ouvido. Alguns sons podem até enfatizá-lo. O silêncio é uma forma intensiva de atenção.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1442.

Um excurso sobre o Jukebox

As informações nos roubam o silêncio

“As informações nos roubam o silêncio, impondo-se sobre nós e exigindo nossa atenção. O silêncio é um fenômeno de atenção. Somente uma atenção profunda produz silêncio. As informações, porém, fragmentam a atenção.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1355.

Silêncio

A atenção crescente às coisas

“A atenção crescente às coisas caminha junto com o autoesquecimento e a perda de si mesmo. Onde o Eu se torna fraco, ele se torna receptivo a essa linguagem silenciosa das coisas. A experiência de presença pressupõe uma exposição, uma vulnerabilidade. Sem uma ferida, eu acabo ouvindo apenas o eco de mim mesmo. A ferida é a abertura, a escuta para o outro.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 938.

Magia das coisas

Atual crise da religião

“A atual crise da religião não se pode deixar reduzir simplesmente a que perdemos a fé em Deus ou que nos tornamos desconfiados de certos dogmas. No âmbito mais profundo, a crise aponta para o fato de que perdemos cada vez mais a capacidade contemplativa. A coação crescente à produção e à comunicação dificulta o demorar contemplativo. A religião pressupõe uma forma especial de atenção. Malebranche caracteriza a atenção como a prece natural da alma. Hoje, a alma não mais faz preces. Sua hiperatividade pode ser responsabilizada pela perda da experiência religiosa. A crise da religião é uma crise da atenção.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 1559.

A sociedade que vem

Inatividades demandam tempo

“Inatividades demandam tempo. Elas exigem muito tempo [lange Weile], um demorar-se intenso, contemplativo. Elas são raras em uma época da pressa, na qual tudo se tornou tão a curto prazo, de tão curta respiração e de vista tão curta.

Hoje, impõe-se em todo lugar a forma de vida consumista, na qual toda necessidade deve ser satisfeita imediatamente. Não temos mais a paciência para a espera, na qual algo pode lentamente amadurecer. O que conta é apenas o efeito de curto prazo, o êxito rápido. Ações se encurtam em reações.

Experiências se diluem em vivências. Sentimentos se empobrecem em emoções e afetos. Não temos acesso à realidade, que só se revela a uma atenção contemplativa.”

HAN, Byung-Chul. Vita Contemplativa, ou sobre a inatividade. Ed. Vozes, 2023, Local 193-202.

Considerações sobre a inatividade

Aprender a ver

“A vita contemplativa pressupõe uma pedagogia específica do ver.

Aprender a ver significa “habituar o olho ao descanso, à paciência, ao deixar-aproximar-se-de-si”, isto é, capacitar o olho a uma atenção profunda e contemplativa, a um olhar demorado e lento.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 409-412.

5| Pedagogia do ver

Atenção profunda

“Essa atenção profunda é cada vez mais deslocada por uma forma de atenção bem distinta, a hiperatenção (hyperattention). Essa atenção dispersa se caracteriza por uma rápida mudança de foco entre diversas atividades, fontes informativas e processos. E visto que ele tem uma tolerância bem pequena para o tédio, também não admite aquele tédio profundo que não deixa de ser importante para um processo criativo. Walter Benjamin chama a esse tédio profundo de um “pássaro onírico, que choca o ovo da experiência””

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 254.

3 | O tédio profundo

Desempenhos culturais da humanidade

“Os desempenhos culturais da humanidade, dos quais faz parte também a filosofia, devem-se a uma atenção profunda, contemplativa. A cultura pressupõe um ambiente onde seja possível uma atenção profunda.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 252.

3 | O tédio profundo