Diferentes denominações: Diavolo, Plutone, Dyable, le Diable.
Outras posições ocupadas no tarô: número XIV na lista mais antiga dos trunfos e na ordem B.
Etimologia e significados do termo diable: do latim diabolus, que por sua vez vem do grego. Os tradutores do Antigo Testamento em grego utilizaram o termo diabolos, “aquele que divide”. O nome hebraico desse chefe dos demônios é “Satanás”, que significa “adversário, acusador”. “Lúcifer” ou Fósforo significa “aquele que traz a luz”; é um sinônimo do diabo, porém, mais precisamente, no sentido de príncipe das luzes, arcanjo amado de Deus que liderou os anjos revoltados, caídos, exilados do céu e lançados com todos aqueles que os seguiram no “lago de fogo e enxofre”, primeira evocação do inferno cristão segundo Mateus. “Belzebu” significa “senhor das pestilências” ou “senhor da casa alta”, ou seja, do inferno subterrâneo, do reino dos mortos. Provavelmente por essa razão, às vezes ele é chamado de Plutão em algumas evocações do tarô. Talvez o nome “Belzebu” seja uma deformação pejorativa de Ba’al Zebub, deus filisteu mencionado no Antigo Testamento.
Sobre o Diabo
O diabo é definido como a personificação do mal de acordo com o dogma cristão. No entanto, seu papel na Bíblia não é bem determinado. A serpente do Gênesis não é claramente designada como o próprio Satanás, e o anátema parece ser lançado à serpente como tal: “[…] maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferírás o calcanhar”. (Genesis, III, 14-15). As outras manifestações demoníacas no Antigo Testamento se inspiram sobretudo em demônios orientais, talvez devido ao contato com os babilonios. Há demônios que devastam o mundo físico e matam os homens, como Asmodeus no Livro de Tobias (III, 7-8). Com o cristianismo, o diabo se torna o rei do mundo terrestre e de suas tentações. Também é visto tentando Jesus no deserto ao colocar a seus pés todas as riquezas do mundo (Mateus, IV, 1-11). Inicialmente, a Idade Média o representa na forma de serpente, depois de dragão, em referência ao dragão do Apocalipse. Em seguida, a representação do diabo assume uma forma antropomórfica e animalesca, talvez sob a influência das mitologias pagās, tanto romanas quanto bárbaras. É delas que vem o homem com chifres, pés de cabra e outros atributos da bestialidade. Nesse sentido, assemelha-se a Pã, divindade grega com pés fendidos que traz em seu cortejo sátiros devassos, ou a Charu, deus etrusco dos Infernos, com asas de morcego, dentes fiados e garras encurvadas. O diabo é representado dessa forma a partir do século X nos manuscritos alemães e, posteriormente, nos anglo- saxões. É assim que aparece no tarô. Com o tempo, esse caráter animalesco se acentua, com a ideia de que o diabo já não é o mal posto no mundo pela natureza (como os demônios da Babilônia, que causam destruição), mas aquele que sai do coração do homem e de suas paixões egoístas. O cristianismo lhe deu a paternidade das práticas divinatórias e de todos que adivinhos, pitonisas, necromantes, feiticeiros. Diz a lenda que Caim, Platão, Alexandre, o Grande, Rômulo e Remo, o mago Merlin, a fada Melusina e Lutero, foram criados por íncubus (demônios machos).
Está claro que o Diabo do tarô permaneceu semelhante ao diabo dos cristãos da Idade Média: o tentador animalesco. De resto, podemos nos indagar sobre esse papel e essa imagem, que continuaram inalteradas. Os primeiros comentadores do tarô não se saíram bem ao tratar dessa representação tradicional.
Significados divinatórios
1781, Court de Gébelin: nº XV, Tifão
“O nº XV representa um célebre personagem egípcio, Tifão, irmão de Osíris e Ísis, o Príncipe mau, o grande Demônio do Inferno: tem asas de morcego, pés e mãos de harpia; na cabeça, horríveis chifres de cervo. Fizeram-no tão feio e tão diabo quanto possível. A seus pés encontram-se dois diabretes de orelhas longas, cauda comprida e mãos atadas atrás das costas.
1909, Papus: 15, o Diabo
Sentido espiritual: o destino. Sentido moral ou alquimico, a serpente mágica (o agente mágico). Sentido fisico (que também pode ser utilizado para a adivinhação): a vida fisica. Sentido divinatório: força maior. Doença.
1927, Oswald Wirth: XV, o Diabo
Desordem, paixão, cio, conjunção entre Marte e Vênus.
PARA O BEM. Atração sexual, desejos passionais, ação mágica, magnetismo, taumaturgia fluida, poder oculto, exercício de influências misteriosas. Atividade que torna inacessivel ao encantamento.
PARA O MAL Perturbação, agitação exacerbada, concupiscência, lubricidade, complicação, tolices, intrigas, emprego de meios ilícitos, feitiço, fascínio sofrido, submissão aos sentidos, fraqueza que dá lugar às influências incômodas, egoísmo.
1949, Paul Marteau: lâmina XV, o Diabo
SENTIDO ELEMENTAR. Representa uma forma da atividade humana, o amálgama da matéria, da qual o homem se tornará escravo depois de obter um sucesso efêmero. Ele pode libertar-se dessa escravidão pelos poderes do conhecimento, de acordo com seus objetivos egoistas, ou pode conhecer uma evolução material.
SENTIDO CONCRETO. O homem que age na matéria por meio de sua própria força, sem apoio espiritual, de modo que se submete à tentação de transgredir a moral cósmica e de ceder a seus instintos. Portanto, a lâmina significa sucesso na matéria por meio do esforço direto e dos conselhos da razão ou do abandono à fatalidade.
MENTAL (a inteligência). Grande atividade egoísta, sem preocupação de justiça, uma vez que essa lámina não tem significado prático no plano espiritual.
ANÍMICO (as paixões emotivas). Pluralidade, diversidade, inconstância, pois o individuo busca em todos os sentidos e traz tudo para si, sem se preocupar com os outros. Depravação.
FÍSICO (o lado utilitário da vida). Grande influência nesse plano, particularmente no campo material, na realização concreta. Grande ascendência sobre os outros. Entretanto, trata-se de uma carta deficiente no campo físico quando significa o triunfo obtido por meios escusos. No âmbito afetivo, é a conquista de um ser físico por meio de processos condenáveis e inescrupulosos, que acarretam a destruição de outros seres, mas obtém o sucesso como resultado. Contudo, é uma carta que anuncia a punição e que o triunfo será momentâneo e seguido de seu devido castigo. Quanto às doenças, indica uma grande instabilidade nervosa.
INVERTIDA. Sua ação tem uma base muito ruim, com efeitos dos mais maléficos. Desordem, inversão, negócios suspeitos ou sem saída.
NADOLNY, Isabelle. História do Tarô. Um estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 246-249.