As únicas lembranças que guardamos de Court de Gébelin

“As únicas lembranças que guardamos de Court de Gébelin hoje se referem ao tarô; o restante de sua obra monumental foi esquecido. Contudo, se considerarmos o tarô, o autor não parece ter escrito informações muito essenciais para compreendê-lo nem revelá-lo.

Então, por que ainda hoje ele é citado nas referências bibliográficas sobre o tema? Como dissemos, o fato é que ele foi o primeiro a falar do tarô de outra forma. Em seguida, e o que é mais importante, outros autores logo tomaram seu lugar para desenvolver essa ideia de que o tarô é algo bem diferente de um jogo de cartas. Se também não tivessem tratado do tema após Court de Gébelin, provavelmente seu texto sobre o tarô teria sido esquecido, tal como aquele sobre os brasões ou seu dicionário etimológico. Além disso, se esses autores desenvolveram a ideia, evocada no primeiro capítulo, de um tarô que, na verdade, é o “Livro de Thot” e conteria conhecimentos ocultos, e se essa ideia pôde crescer e se desenvolver, é porque eles escreveram em uma época, o final do século XVIII, em que esse tipo de concepção podia ser semeada em um terreno bastante fértil: como vimos, os mistérios do Egito eram tão populares quanto a cartomancia. O tarô como “Livro de Thot” tinha um belo futuro pela frente.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 154.

Court de Gébelin e o Mundo Primitivo

“O Mundo Primitivo é característico de sua época, pois contém a mesma ideia de um retorno a uma fonte primitiva, a uma origem primordial, da qual necessariamente derivariam a história e os saberes humanos, o que explica o sucesso da empreitada. (…) . A publicação de Le monde primitif analysé et comparé avec le monde moderne [O Mundo Primitivo, Analisado e Comparado com o Mundo Moderno] ocorreu de 1773 a 1784. A redação dessa extensa obra, na qual ele trabalhou sozinho (mais de 6 mil páginas!) não o impediu de lançar-se em outros projetos. Em 1780. tornou-se presidente da nova Sociedade Apoliniana, futuro Museu de Paris, e financiou metade dos trabalhos dessa sociedade literária. Apesar de sua notoriedade, ou talvez por causa dela, as dívidas se acumularam. Em 1783, Gébelin adoeceu. Faleceu em 12 de maio de 1784. Teria sucumbido após uma sessão de magnetismo na casa do curandeiro Mesmer conforme assinala este epitáfio: “Aqui jaz o pobre Gébelin, que falava grego, hebraico e latim. Que todos admirem seu heroísmo; ele foi mártir do magnetismo”. Morreu sozinho, sem filhos, pois não era casado. Seus bens foram vendidos para pagar suas dividas. Em 1793, sua sepultura foi profanada e destruída.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 148.

Visão egípcia de Antoine Court de Gébelin

“Em 1781, dando continuidade à sua visão egípcia, Antoine Court de Gébelin afirma que se trata de um autêntico termo “egípcio antigo”: “Seu nome é composto por duas palavras orientais: tar & ra, ro, que significam ‘caminho real”. Vale relembrar aqui que, em sua época, os hieroglifos ainda não tinham sido traduzidos. Portanto, de que egípcio ele estava falando?”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 98.