“(…) -Quando vejo um desses ases, lembro-me de que há um único Deus, criador e mantenedor de todas as coisas, e de que, no primeiro dia. Ele criou o céu e a terra. O um é a medida comum de todas as coisas, é indivisível, não pode ser multiplicado. O dois me lembra o segundo dia da criação, quando Deus disse “faça-se a luz” o dois também representa o Antigo e o Novo Testamentos, bem como o sacramento do matrimônio. Quando os animais da Terra entraram na Arca de Noé, fizeram-no de dois em dois, macho e fêmea. Quando vejo o três, lembro-me de que há três pessoas em Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo; no terceiro dia, Deus separou a terra das águas. O três também tem um valor misterioso, que se manifesta na trindade do tempo pelo passado, pelo presente e pelo futuro. No homem se encontram o cérebro, sede da inteligência, o coração, sede das coisas celestes, e o corpo, sede dos elementos. O espaço é formado por comprimento, largura e espessura. O quatro me lembra os quatro Evangelistas, São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João; no quarto dia, Deus fez o Sol, a Lua e as estrelas que regem os anos, os meses e os dias. O quatro também significa a solidez e o fundamento; há quatro elementos, quatro pontos cardeais e quatro estações. O cinco desperta em mim a ideia das cinco virgens, às quais se ordenou que mantivessem suas lâmpadas acesas. É verdade que eram dez, mas as outras cinco eram néscias, como Vossa Dignidade bem sabe. No quinto dia, Deus criou os peixes e as aves. São cinco os sentidos, e o pentagrama é composto de cinco letras; o cinco é a metade de dez, soma de todos os números. Quando considero um seis, logo penso que Deus criou o mundo em seis dias, que no sexto dia Ele criou os animais que vivem na Terra e o homem à Sua imagem e semelhança. Seis é também o número perfeito, pois é o único igual à soma de sua metade, de seu terço e de seu sexto. Representa igualmente a servidão, em razão da injunção divina: “Seis dias trabalharás, mas no sétimo dia não farás nenhum trabalho”. No sétimo dia, Deus repousou, e sete também me lembra as Sete Maravilhas do mundo. Sete representa a vida, pois compreende o corpo com seus quatro elementos, que são a mente, a carne, os ossos e os humores, e a alma com seus três elementos, que são as paixões, os desejos e a razão. Se meus olhos pousam no oito, minha mente imagina as oito pessoas que escaparam por pouco do Diluvio Universal, ou seja, Noé e sua esposa, com seus três filhos e suas respectivas mulheres. O oito também representa a justiça e a plenitude. Dividido uma primeira vez, suas metades são iguais, dividido uma segunda continua par. O nove me lembra a cura dos nove leprosos, sei muito bem que eram dez, mas apenas um agradeceu a Jesus Cristo por tê-lo curado. Nove é também o número das Musas que comandavam as artes e as ciências. O dez me faz pensar nos dez mandamentos que Deus deu a Moisés no Monte Sinai. O dez também representa a perfeição, pois, além dele, só se pode contar com combinações formadas por outros números.
(…)
– Somando os algarismos que se encontram em um baralho, o resultado da 365, ou seja, o mesmo número de dias do ano. Também se descobre que há 52 cartas em um baralho e a mesma quantidade de semanas no ano. Entre elas, há 12 figuras que também me lembram os 12 signos do zodíaco, os 12 apóstolos, as 12 tribos de Israel e as 12 portas de Jerusalém. As quarenta cartas numeradas me lembram os quarenta dias e as quarenta noites que Moisés passou no Monte Sinai antes de receber de Deus a lei e os mandamentos sagrados para o povo de Israel, ou os quarenta dias passados por Jesus Cristo no deserto. Desse modo, o baralho me serve, ao mesmo tempo, como Bíblia, almanaque, livro de orações e para jogar.”
NADOLNY, Isabelle. História do Tarô. Um estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 57-58.