A postura responsável do escutador

“A arte da escuta se realiza como uma arte da respiração. O registro hospitaleiro do outro é um inspirar que, todavia, não incorpora o outro, mas sim o acolhe e o protege. O escutador se esvazia. Ele se torna ninguém.

A postura responsável do escutador frente ao outro se expressa como paciência. A passividade da paciência é a primeira máxima do escutar. O escutador se expõe sem reservas ao outro.

O estar-exposto [Ausgesetzheit] é uma outra máxima da ética do escutar. Apenas ela impede que se curta a si mesmo. O ego não consegue escutar. O espaço do escutar como espaço de ressonância do outro se abre onde o ego é suspenso. No lugar do ego narcisista entra uma obsessão pelo outro, um desejo pelo outro.

“Deixe todos falarem: você não fala; suas palavras tomam das pessoas a sua figura. A sua admiração apaga suas fronteiras; elas não se conhecem mais, se você fala; elas são você”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 1205-1218.

Escutar

O escutar não é um ato passivo

“No futuro haverá possivelmente, uma profissão que se chamará escutador [Zuhörer]. Em troca de pagamento se fornecerá, ao outro, a escuta. Vai-se ao escutador pois, caso contrário, mal haverá outra pessoa que escutará o outro. Hoje, perdemos cada vez mais a capacidade de escuta. Sobretudo o foco crescente.”

O escutar não é um ato passivo. Uma atividade especial o caracteriza. Eu tenho, primeiramente, de dar boas-vindas ao outro; ou seja, afirmar o outro em sua alteridade. Então, eu o presenteio com a escuta. O escutar é um presentear, um dar, um dom. Só ele traz o outro primeiramente à fala. Ele não segue passivamente o discurso do outro. Em certo sentido, o escutar antecede a fala. Só o escutar traz o outro à fala. Eu já escuto antes que o outro fale, ou eu escuto para que o outro fale. O escutar convida o outro a falar, liberta-o em sua alteridade. O escutador é um espaço de ressonância no qual o outro fala livremente. Assim, o escutar pode ser curativo.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 1177-1181.

Escutar

Barulheira de comunicação

“A hipercomunicação atual reprime o livre-espaço do silêncio e da solidão, unicamente no qual seria possível dizer coisas que realmente valeria a pena serem ditas. Ela reprime a linguagem, da qual o silêncio faz essencialmente parte. A linguagem se ergue de uma quietude. Sem ela, ela é apenas uma barulheira.

A barulheira de comunicação não possibilita a escuta. A natureza, como princípio poético, se abre apenas na passividade originária da escuta.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 1014-1017.

Linguagem do outro

A escuta vale para o outro

“A escuta vale para o outro. O verdadeiro ouvinte se expõe incondicionalmente ao outro. Sem exposição ao outro, o Eu levanta a cabeça novamente. A fraqueza metafísica para o outro é constitutiva da ética da escuta como uma ética da responsabilidade. O ego que se fortalece é incapaz de ouvir porque em todos os lugares ele só ouve a si mesmo falando.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 1164.

Coisas do coração