O estilo hermético de ficção

“O estilo hermético de ficção (composição) diz respeito à linguagem filosófica e científica da Antiguidade tardia e do período medieval. Era assim que os instruídos em alguma arte ou ciência se comunicavam. Diferentemente do que se pode conceber em relação ao discurso descritivo objetivo da modernidade, os autores herméticos se concentram em uma linguagem subjetiva e metarracional (transracional), que transcende os elementos sígnicos, abarcando, assim, uma linguagem simbólica.”

TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum graecum, São Paulo:Ed. Cultrix, 2023, Pág. 79.

Parte I- Ensaios: Aproximações e enfoques.

Capítulo 5- As edições do Texto Grego do Corpus Hermeticum.

Invenção Original e Criativa

Como os círculos de artistas hoje, os gnósticos consideravam a invenção original e criativa a marca de alguém que se torna vivo espiritualmente. Cada um, como aluno de um pintor ou escritor, esperava expressar suas próprias impressões ao revisar e transformar o que lhe fora ensinado. Quem apenas repetisse as palavras do mestre seria considerado imaturo. O bispo Irineu lamenta que

…cada um deles produza algo novo todo dia, segundo sua habilidade; pois ninguém é considerado iniciado [ou: “maduro”] entre eles a menos que desenvolva enormes ficções! *

*Irineu, AH 1.18.1.

PAGELS, Elaine. Os Evangélhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 20.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

Distinção Entre Fatos Bíblicos e Ficção

O tempo trabalha na mente dos homens, de modo especial daqueles que estão distantes da época dos acontecimentos, para acrescer ou minorar os atributos de personagens importantes e os eventos associados com suas vidas. Se estes tiverem conotação religiosa, transformaçõs de fatos em lendas parecem ocorrer de forma ainda mais temerária. (…) a Índia recobriu sua riqueza espiritual mais sagrada – e os agentes divinos deste tesouro – com um simbolismo e a profundidade de uma mitologia rica de significados que preservaram os princípios e os preceitos de suas escrituras ao longo de gerações de dominacão e influência estrangeira. Talvez as vozes da Antiguidade não devessem ser inteiramente silenciadas ou descartadas precipitadamente de nossa consideração mental. Todavia, um atento discernimento está por certo justificado.

Essa distinção entre fato e ficção, de modo a manter a integridade da Igreja e da doutrina cristãs, era claramente a intenção dos patriarcas da Igreja. Os 27 livros do Novo Testamento que hoje constituem o relato bíblico da vida e dos ensinamentos de Jesus foram compilados, nos primórdios da Igreja, de uma coleção muito mais ampla de textos. 

(…)

É difícil deixar de concordar em alguma medida com o comentarista John Jortin (1698-1770; arquidiácono de londres), que, segundo nos diz Hone, ao analisar a autoridade desses Concílios Gerais, concluiu ironicamente: “O Concílio dos Apóstolos em Jerusalém [Atos I] foi o primeiro e o último de que se pode afirmar ter sido presidido pelo Espírito Santo”

(…)

O surgimento da compilação específica de livros hoje conhecida como o Novo Testamento ocorreu no ano 367 d.C.

Durante séculos, a existência de muitos dos textos que foram suprimidos e destruídos era praticamente desconhecida – tanto para os eruditos quanto para os que professavam a fé. Alguns deles vieram à tona na famosa descoberta em Nag Hammadi, Egito, em 1945. Devido às descobertas de Nag Hammadi, escreve Elaine Pagels Ph.D., professora de religião na Universidade de Princeton e renomada estudiosa do Cristianismo original, “nós começamos a ver que o que chamamos de cristianismo – e o que identificamos como sendo a tradição cristã – na realidade representa somente uma pequena seleção de fontes específicas, escolhidas dentre dezenas de outras. (…)

Por volta do ano 200 (…) o cristianismo se tornara uma instituição encabeçada por uma hierarquia em três níveis constituída de bispos, padres e diáconos, que se viam como os guardiães da única ‘fé verdadeira’. (…) Os esforços da maioria para destruir todos os vestigios de ‘blasfemia’ herética tiveram tanto êxito que, até a descoberta em Nag Hammadi, praticamente todas as informações sobre formas alternativas de cristianismo dos primeiros séculos vinham dos violentos ataques ortodoxos contra elas. (…) Se tivessem sido encontrados mil anos antes, [esses] textos quase certamente teriam sido queimados como heréticos. (…) Hoje nós os lemos com olhos diferentes, não como mera ‘loucura e blasfemia’, mas como os cristãos dos primeiros séculos devem tê-los lido – como uma vigorosaalternativa para o que conhecemos como a tradição ortodoxa cristã.” – Elaine Pagels, The Gnostic Gospels (Nova York: Vintage Books, 1981) [Os evangelbos gnósticos (Ed. Objetiva)]. (Nota da Editora).”

YOGANANDA, Paramahansa. A Segunda Vinda de Cristo, A Ressurreição do Cristo Interior. Comentário Revelador dos Ensinamentos Originais de Jesus. Vol. I. Editora Self, 2017, pág. 75-77.

Capítulo 4: A infância e a juventude de Jesus.