Tudo que é manifestado é engendrado

“(…)ó Tat, explicarei a ti, para que não sejas não iniciado nos mistérios do melhor nome, que é Deus. Porém compreenda como o que parece ser o imanifesto para muitos virá a ser mais manifesto para ti. (…) Pois tudo que é manifestado é engendrado; com efeito, foi manifestado; e o imanifesto sempre existe, pois não necessita ser manifestado para existir; com efeito, sempre existe. Sendo ele imanifesto, faz todas as outras coisas manifestas; como sempre existe, ele não é manifestado pelas coisas manifestas; <engendra> não sendo engendrado; mas todas as coisas <não são de aparências sensi- veis e em aparência sensível. Pois a aparência sensível é somente dos en- gendrados. Por isso, nada mais é o engendramento do que a aparência sensível.(…) Pois somente a intelecção, e como sendo ela imanifesta, vè o imanifesto. Se puderes, ele se manifestará aos olhos da mente.(…)”

TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum graecum, São Paulo:Ed. Cultrix, 2023, Pág. 153.

Parte II- Corpus Hermeticum Graecum.

Lilellus V

O Mistério Último

“O mito é a revelação de uma plenitude de silêncio no interior e em torno de todo o átomo de existência; é algo que dirige a mente o coração, por meio de figurações cuja forma vem do plano profundo, para aquele mistério último que preenche e cerca todas as existências. Mesmo no mais cômico e aparentemente frívolo de seus momentos, a mitologia dirige a mente para esse imanifesto, que se acha precisamente além do olho.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 263.

Ciclo Cosmogônico

“A fórmula filosófica ilustrada pelo ciclo cosmogônico refere-se à circulação da consciência pelos três planos do ser. O primeiro plano é o da experiência desperta: a cognição dos fatos brutos e crus de universo exterior, iluminado pela luz do sol e comum a todos. O segundo é o da experiência divina: a cognição das formas fluidas e sutis de um mundo interior privado, auto iluminado e que forma uma única substância com o sonhador. O terceiro, por sua vez, é o do sono profundo: um sono não povoado por sonhos, profundamente recompensador. No primeiro plano, encontramos as experiências instrutivas da vida; no segundo ocorre a digestão dessas experiências, que são assimiladas pelas forças interiores do sonhador; já no terceiro plano do ser, tudo é aproveitado e conhecido de modo inconsciente, no “espaço existente no interior do coração”, na sala do controlador interno, a fonte e o fim de tudo.

O ciclo cosmogônico deve ser entendido como a passagem da consciência universal, da profunda zona adormecida do imanifesto, para a plena luz do cotidiano desperto, por intermédio do sonho, ocorrendo, em seguida, o retorno através do sonho, para as trevas intemporais. Tal como acontece na experiência real de todo ser vivo, assim também é na figura grandiosa do cosmo vivo: no abismo do sono, as energias são recompostas; na labuta diária, são exauridas; a vida do universo se esgota e deve ser renovada

O ciclo cosmogônico pulsa, tornando-se manifesto, e retorna ao estado imanifesto, em meio ao silêncio do desconhecido. Os hindus representam esse mistério por meio da sílaba sagrada AUM. Aqui, o som A representa a consciência desperta; o som U, a consciência onírica; e o som M, o sono profundo. O silêncio em torno da sílaba é o desconhecido, chamado simplesmente de “o Quarto “. A sílaba em se representa Deus como criador-preservador-destruidor, mas o silêncio representa o Deus Eterno, absolutamente afastado de todas as idas e vindas da roda.

“É  invisível, intangível, inconcebível, imperceptível, inimaginável, indescritível. É a essência do autoconhecimento, comum a todos os estados de consciência. Todos os fenômenos aí cessam. É paz, benção, não dualidade.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 261-262.

AUM

“A sílaba simbólica AUM, que é o equivalente verbal dos quatro estados de consciência e do seus campos de experiência. (A: Consciência vígil; U: Consciência onírica; M: Sono sem sonhos. O silêncio em torno da sílaba sagrada é Imanifesto Transcendente. (…) Assim sendo, o Deus se encontra tanto dentro como fora do adorador. (…) Dessa maneira, todos os aspectos da vida tornam-se suportes da meditação. Vive-se em meio a um sermão silencioso o tempo inteiro.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 184.