Testemunha da Própria Experiência

“Permanecer presente desafia nossas tendências reativas habituais. Você provavelmente reconhece este cenário: você está sentado à mesa em um jantar ou está em uma sala cheia de pessoas, quando de repente tudo fica em silêncio. O espaço parece estar grávido, cheio de possibilidades, e então alguém-podendo inclusive ser você se sente oprimido, desconfortável e simplesmente precisa falar. É assim que lidamos com momentos grávidos-tentamos fugir deles por meio da continua recriação do eu. Não estamos acostumados a testemunhar nossa própria experiência – a experiência da nossa vida – sem colocar uma tampa nela, manipulá-la, chegar a uma conclusão a seu respeito, ou agregar algum sentido a ela. Mas, agindo assim, alguma vez chegamos a ter uma experiência plena?”

MATTIS-NAMGYEL, Elizabeth. O Poder de uma Pergunta Aberta: o caminho do Buda para a liberdade. Teresópolis, RJ: Lúcida Letra,  2018. p. 49.

Como Encontrar a Felicidade?

“O fato de que, em última análise, o mundo não nos dá garantias não é uma punição; é apenas como as coisas são. Mas para onde isso nos leva? Como podemos apreciar a vida – nossos relacionamentos, nossos corpos físicos, o Concerto n°5 em Mi bemol maior de Beethoven – sem nos agarrarmos a eles como algo que irá durar e continuará a nos dar prazer? Como podemos encontrar verdadeira felicidade interior sabendo que estamos sujeitos à incerteza, ao envelhecimento, à doença e à morte? O Buda não havia respondido a essas questões ainda quando renunciou o direito a seu reino.

MATTIS-NAMGYEL, Elizabeth. O Poder de uma Pergunta Aberta: o caminho do Buda para a liberdade. Teresópolis, RJ: Lúcida Letra,  2018. p. 40.

Nada é Certo

O fato de que nada é certo e, portanto, não há nada em que possamos nos agarrar pode provocar medo e depressão. Mas pode suscitar também o desejo de ser surpreendido, a curiosidade e a liberdade. De fato, alguns de nossos melhores momentos se dão quando ainda não decidimos o que acontecerá a seguir: andando a cavalo, o vento em nossos cabelos; em uma bicicleta, nada além de uma estrada aberta à frente; viajando em terra estrangeira onde nunca estivemos antes. Tinta e uma tela aberta. (…)”

MATTIS-NAMGYEL, Elizabeth. O Poder de uma Pergunta Aberta: o caminho do Buda para a liberdade. Teresópolis, RJ: Lúcida Letra,  2018. p. 33.

Não Seja Tão Previsível

“O Lojong” budista, ou a tradição de treinamento da mente, diz: “Não seja tão previsível”. Como praticantes espirituais, precisamos ter alguma curiosidade em relação ao desconhecido. Quando territórios inexplorados nos assustam, poderíamos nos perguntar: “Onde está meu senso de aventura?”. É importante ter um senso de aventura na vida, porque nossa situação atual não é diferente daquela em que se escala uma rocha.”

MATTIS-NAMGYEL, Elizabeth. O Poder de uma Pergunta Aberta: o caminho do Buda para a liberdade. Teresópolis, RJ: Lúcida Letra,  2018. p. 30.

O Estado de Não Saber

O estado de não saber é um lugar fascinante de se estar. E não precisamos escalar montanhas de pedra para experimentá-lo. Deparamo-nos com o não saber, por exemplo, quando somos apresentados a alguém ou quando a vida nos prepara uma surpresa. Essas experiências nos lembram que mudança e imprevisibilidade são a pulsação inerente à nossa existência. Ninguém realmente sabe o que acontecerá de um momento para o outro: quem seremos, o que iremos encontrar e como reagiremos aquilo que encontrarmos? Não sabemos, mas há boa chance de que nos deparemos com algumas experiências duras e indesejáveis, com algumas surpresas que superam nossas expectativas e algumas coisas já esperadas também. E podemos tomar a decisão de estarmos presentes para todas elas.”

MATTIS-NAMGYEL, Elizabeth. O Poder de uma Pergunta Aberta: o caminho do Buda para a liberdade. Teresópolis, RJ: Lúcida Letra,  2018. p. 28-29.