O indivíduo é o pior inimigo do cidadão

“Se o indivíduo é o pior inimigo do cidadão, e se a individualização anuncia problemas para a cidadania e para a política fundada na cidadania, é porque os cuidados e preocupações dos indivíduos enquanto indivíduos enchem o espaço público até o topo, afirmando-se como seus únicos ocupantes legítimos e expulsando tudo mais do discurso público.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 691.

Capítulo 1 | Emancipação

O indivíduo em combate com o cidadão

Queixas individuais e interesses compartilhados

“O problema é, porém, que essa convergência e condensação das queixas individuais em interesses compartilhados, e depois em ação conjunta, é uma tarefa assustadora, dado que as aflições mais comuns dos “indivíduos por fatalidade” nos dias de hoje são não-aditivas, não podem ser “somadas” numa “causa comum”.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 660.

Capítulo 1 | Emancipação

O indivíduo em combate com o cidadão

O outro lado da liberdade ilimitada

“(…)o outro lado da liberdade ilimitada é a insignificância da escolha, cada lado condicionando o outro: por que cuidar de proibir o que será, de qualquer modo, de pouca conseqüência? Um observador cínico diria que a liberdade chega quando não faz mais diferença. Há um desagradável ar de impotência no temperado caldo da liberdade preparado no caldeirão da individualização; essa impotência é sentida como ainda mais odiosa, frustrante e perturbadora em vista do aumento de poder que se esperava que a liberdade trouxesse.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 654.

Capítulo 1 | Emancipação

O indivíduo em combate com o cidadão

O abismo

“(…) a maneira como se vive torna-se uma solução biográfica das contradições sistêmicas”. Riscos e contradições continuam a ser socialmente produzidos; são apenas o dever e a necessidade de enfrentá-los que estão sendo individualizados.

Para resumir: o abismo entre a individualidade como fatalidade e a individualidade como capacidade realista e prática de autoafirmação está aumentando. (Melhor ser afastado da “individualidade por atribuição”, como “individuação”: o termo escolhido por Beck para distinguir o indivíduo auto-sustentado e auto-impulsionado daquele que não tem escolha senão a de agir (…)”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 646-649.

Capítulo 1 | Emancipação

O indivíduo em combate com o cidadão

A individualização é uma fatalidade

“Não se engane: agora, como antes — tanto no estágio leve e fluido da modernidade quanto no sólido e pesado —, a individualização é uma fatalidade, não uma escolha. Na terra da liberdade individual de escolher, a opção de escapar à individualização e de se recusar a participar do jogo da individualização está decididamente fora da jogada.

A autocontenção e a auto-suficiência do indivíduo podem ser outra ilusão: que homens e mulheres não tenham nada a que culpar por suas frustrações e problemas não precisa agora significar, não mais que no passado, que possam se proteger contra a frustração utilizando suas próprias estratégias (…)”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 636-638.

Capítulo 1 | Emancipação

O indivíduo em combate com o cidadão

Identidade humana

“Resumidamente, a “individualização” consiste em transformar a “identidade” humana de um “dado” em uma “tarefa” e encarregar os atores da responsabilidade de realizar essa tarefa e das conseqüências (assim como dos efeitos colaterais) de sua realização. Em outras palavras, consiste no estabelecimento de uma autonomia de jure (independentemente de a autonomia de facto também ter sido estabelecida).”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 594.

Capítulo 1 | Emancipação

O indivíduo em combate com o cidadão

A individualização

“A sociedade moderna existe em sua atividade incessante de “individualização”, assim como as atividades dos indivíduos consistem na reformulação e renegociação diárias da rede de entrelaçamentos chamada “sociedade”

E assim o significado da “individualização” muda, assumindo sempre novas formas — à medida que os resultados acumulados de sua história passada solapam as regras herdadas, estabelecem novos preceitos comportamentais e fazem surgir novos prêmios no jogo.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 577-579.

Capítulo 1 | Emancipação

O indivíduo em combate com o cidadão

Não mais a salvação pela sociedade

“Não mais a salvação pela sociedade”, proclamou o apóstolo do novo espírito da empresa, Peter Drucker. “Não existe essa coisa de sociedade”, declarou Margaret Thatcher, mais ostensivamente. Não olhe para trás, ou para cima; olhe para dentro de você mesmo, onde supostamente residem todas as ferramentas necessárias ao aperfeiçoamento da vida — sua astúcia, vontade e poder.

E não há mais “o Grande Irmão à espreita” sua tarefa agora é observar as fileiras crescentes de Grandes Irmãos e Grandes Irmãs e observá-las atenta e avidamente, na esperança de encontrar algo de útil para você mesmo: um exemplo a imitar ou uma palavra de conselho sobre como lidar com seus problemas, que, como os deles, devem ser enfrentados individualmente e só podem ser enfrentados individualmente.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 561-564.

Capítulo 1 | Emancipação

As casualidades e a sorte cambiantes da crítica

Dar-lhes forma

“A nossa é, como resultado, uma versão individualizada e privatizada da modernidade, e o peso da trama dos padrões e a responsabilidade pelo fracasso caem principalmente sobre os ombros dos indivíduos.

(…) como todos os fluídos, eles não mantêm a forma por muito tempo. Dar-lhes forma é mais fácil que mantê-los nela. Os sólidos são moldados para sempre.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 171-173.

Prefácio

Ser leve e líquido