“Na realidade, talvez o usuário que o anotou tenha seguido as instruções do cartomante, que recomendava a numeração e a nomeação de qualquer conjunto de 78 pedaços de papelão, fossem eles tarôs ou fragmentos recortados. Porém, em seguida, as menções à interpretação parecem ter seguido mais a inspiração de quem as escreveu. Também é possível ver que elas predominam nas imagens, que, de resto, parecem receber pouca consideração. Estamos muito distantes do apego contemporâneo à máxima “autenticidade” das imagens.
Esse tarô com menções divinatórias é uma raridade. Na realidade, durante todo o século XIX, o tarô seguiu um caminho diferente daquele da cartomancia: os ocultistas se apropriaram dele e escreveram muito a seu respeito. Transformado em livro sagrado,detentor de uma verdade oculta, foi com essa nova identidade que, em seguida, ele se voltou para as práticas divinatórias. O primeiro autor a tratar o tarô desse modo no século XIX foi Éliphas Lévi.”
NADOLNY, Isabelle. História do Tarô. Um estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 178.