Imagens Arquetípicas

“Numa palavra: a primeira tarefa do herói consiste em retirar-se da cena mundana dos efeitos secundários e iniciar uma jornada pelas regiões causais da psique, onde residem efetivamente as dificuldades, para torná-las claras, erradicá-las em favor de si mesmo (isto é, combater os demônios infantis de sua cultura local) e penetrar no domínio da experiência e da assimilação, diretas e sem distorções, daquilo que C. G. Jung denominou “imagens arquetípicas”. Esse é o processo conhecido na filosofia hindu e budista com viveka, “discriminação” [entre o verdadeiro e o falso].

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 27.

O Desafio da transformação interna

“– No entanto – comentei –, e se os nossos irmãos encarnados, visivelmente confiados à devassidão, resolvessem reconsiderar o próprio caminho?… se voltassem à regularidade, através da renovação mental com alicerces no bem?…

– Ah! isso seria ganhar tempo, recuperando a si mesmos e amparando com segurança os amigos desencarnados… Usando a alavanca da vontade, atingimos a realização de verdadeiros milagres… Entretanto, para isso, precisariam despender esforço heroico.”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, pp. 135-143.

Mito x Realidade

“Se as façanhas de uma figura histórica real proclamam-no herói, os construtores de sua lenda inventarão para ela aventuras apropriadas nas profundezas. Estas serão apresentadas como jornadas a reinos miraculosos e deverão ser interpretados como símbolos, de um lado, de descidas no mar de escuridão da psique e, de outro, de domínios ou aspectos do destino do homem que se tornaram manifestos na vida dessas figuras.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 312.

Limiar de Retorno

“As aventuras do herói se passam fora da terra nossa conhecida, na região das trevas; ali ele completa sua jornada, ou apenas se perde para nós, aprisionado ou em perigo; e seu retorno é descrito como uma volta do além. Não obstante – e temos diante de nós uma grande chave da compreensão do mito e do símbolo – os dois reinos são, na realidade, um só e o único reino. O Reino dos deuses é uma dimensão esquecida do mundo que conhecemos. E a exploração dessa dimensão, voluntária ou relutante, resume todo o sentido da façanha do herói. Os valores e distinções que parecem importantes na vida normal desaparecem com a terrificante assimilação do eu naquilo que antes não passava de alteridade.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 213.

Recusa do Retorno

“Terminada a busca do herói, por meio da penetração da fonte, ou por intermédio da graça de alguma personificação masculina ou feminina, humana ou animal, o aventureiro deve ainda retornar com o seu troféu transmutador da vida. O círculo completo, a norma do monomito, requer que o herói inicie agora o trabalho de trazer o símbolos da sabedoria, o Velocino de Ouro, ou a princesa adormecida, de volta o Reino humano, onde a benção alcançada pode servir a renovação da comunidade, da nação, do planeta ou dos 10.000 mundos.

Mas essa responsabilidade tem sido objeto de frequente recusa.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 195.

Encontro com o Mentor

“Para aqueles que não recusam o chamado, o primeiro encontro da jornada do herói se dá com uma figura protetora (que, com frequência, é uma anciã ou um ancião), que fornece ao aventureiro amuletos que o protejam contra as forças titânicas com que ele está prestes a deparar-se.

(…) Essa figura representa o poder benigno e protetor do destino. A fantasia é uma garantia –  uma promessa de que a paz do Paraíso, conhecida pela primeira vez no interior do útero materno, não se perderá, de que ela suporta o presente e está no futuro e no passado (…)

(…) Tendo respondido ao seu próprio chamado, e prosseguido corajosamente conforme se desenrolam as consequências, o herói encontra todas as forças do inconsciente do seu lado”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 74-76.

A Jornada do Herói (etapas)

I grande estágio
Separação ou Partida

    1. O chamado da aventura, ou os indícios da vocação do herói;
    2. A recusa do chamado, ou a temeridade de se fugir de Deus;
    3. O auxílio sobrenatural, a assistência insuspeitada de vem ao encontro daquele que leva a efeito sua aventura adequada;
    4. A passagem pelo primeiro limiar;
    5. O ventre da baleia, ou a passagem para o reino da noite.

II grande estágio
Provas e Vitórias da Iniciação

    1. O caminho de provas, ou o aspecto perigoso dos deuses;
    2. O encontro com a deusa (Magna Mater), ou a benção da infância recuperada;
    3. A mulher como tentação, a realização e agonia do destino de Édipo;
    4. A sintonia com o pai;
    5. A apoteose;
    6. A bênção última;

III grande estágio
Retorno e reintegração à Sociedade

    1. A recusa do retorno, ou o mundo negado;
    2. A fuga mágica, ou a fuga de Prometeu;
    3. O resgate com ajuda externa;
    4. A passagem pelo limiar do retorno, ou o retorno ao mundo cotidiano;
    5. Senhor dos dois mundos;
    6. Liberdade para viver, a natureza e função da benção última.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 40-41

A Aventura do Herói

“(…) a aventura do herói costuma seguir o padrão da unidade nuclear (acima) descrita: um afastamento do mundo, uma penetração em alguma fonte de poder e um retorno que enriquece a vida”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 40.

Separação, Iniciação e Retorno

“O percurso padrão da aventura mitológica do herói é uma magnificação da fórmula representada nos rituais de passagem: separação-iniciação-retorno – que podem ser considerados a unidade nuclear do monomito.

Um  herói vindo do mundo cotidiano se aventura numa região de prodígios sobrenaturais; ali encontra fabulosas forças e obtém uma vitória decisiva; o herói retorna de sua misteriosa aventura com o poder de trazer benefícios aos seus semelhantes”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 36.