“A maioria das obras se dirigia a um público feminino, como diz de maneira graciosa esta introdução do Petit Oracle des dames [Pequeno Oráculo das Damas]: “Como o amor e a ternura deram origem à cartomancia, o acesso a ela deveria ocorrer, necessariamente, pelo belo sexo”. Alguns autores não hesitavam em assumir um pseudonimo feminino (o que era bastante raro nessa época e muito revelador da feminilização dessa prática!), como o já mencionado Simon Blocquel, que se fazia passar por uma sibila do faubourg Saint-Germain.
De outro lado, após Court de Gébelin, vemos surgir todo um movimento ocultista e especulativo em torno do tarô iniciático, de sua verdade e de qual ensinamento ele conteria que pudesse ser transmitido aos discípulos – um movimento cujos autores não necessariamente se interessam pelas “cartomantes” e até as consideram com certo desdém. Nesse caso, a busca da verdade e da sabedoria é uma questão de homens, de iniciados, de mestres e de magos.
Nesse contexto, o tarô se torna suporte para considerações ocultistas e filosóficas. Eliphas Levi, um dos primeiros a escrever sobre o caráter ocultista do tarô após Court de Gebelin, não fornece nenhuma indicação divinatória, contenta-se em especular longamente o “Livro de Hermes”. De resto, o eminente Papus escreve duas obras sobre o tarô, uma que o aborda em um sentido iniciático, esotérico”, Le Tarot des Bohémiens [O Tarô dos Boêmios] (1889), e outra sobre Le Tarot divinatoire [O Tarô Divinatório] (1909).”
NADOLNY, Isabelle. História do Tarô. Um estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 169-170.