O que nos diz o conde de Mellet

“O que nos diz o conde de Mellet ao longo desses capítulos? Inicialmente, ele também nos afirma que o tarô é egípcio, mas desenvolve a ideia de que é o “Livro de Thot”: “O desejo de aprender evolui no coração do homem à medida que sua mente adquire novos conhecimentos: a necessidade de conservá-los e a vontade de transmiti-los fez imaginar caracteres dos quais Thot ou Mercúrio seria o inventor. Esses caracteres […] também eram imagens autênticas, com as quais se formavam quadros que reproduziam aos olhos as coisas de que se queria falar. E natural que o inventor dessas imagens tenha sido o primeiro historiador com efeito, considera-se que Thot foi o primeiro a pintar os deuses, ou seja, os atos da Onipotência ou a Criação. […] Esse Livro parece ter sido nomeado A-ROSCH; de A, doutrina e ciência; e de ROSCH, Mercúrio, que, com o artigo T, significa Quadros da Doutrina de Mercúrio. No entanto, como Rosch também significa Começo, o termo Ta-Rosch foi particularmente consagrado à sua cosmogonia […]. Essa antiga cosmogonia, esse livro dos Ta-Rosch, com exceção de leves alterações, parece ter chegado a nós nas cartas que ainda trazem esse nome […]. Os árabes transmitiram esse livro ou jogo aos espanhóis, e os soldados de Carlos V o levaram para a Alemanha”. Também aprendemos que esse livro é constituído de 22 quadros, o que permite perceber que, quando o conde de Mellet se refere ao tarô, ele considera apenas os arcanos maiores.”

(…)

“O conde de Mellet aproveita a ocasião para citar José, filho de Jacó, que interpretou os sonhos do faraó usando o Livro de Thot, um exemplo bíblico fácil de encontrar e empregado em benefício de sua arte divinatória egípcia.”

“(…) não é preciso lembrar que o conde de Mellet, tal como Court de Gébelin, não era um cartomante, mas um aristocrata de alto nível hierárquico e homem de guerra. А esse respeito, podemos nos surpreender que esse militar de carreira tenha sido o primeiro a deixar um texto de Tarô Divinatório. Court de Gébelin, por sua vez, era um homem das letras, cujo entusiasmo pelo ocultismo era recente. Ambos expõem teorias e sistemas em uma obra enciclopédica; portanto, seu objetivo seria aparentemente reunir objetos ou práticas esparsas (jogos, brasões…) e encontrar sua “antiguidade – esse é o objetivo declarado do Mundo Primitivo.”

“(…) era uma ideia genial misturar o tarô, jogo de 78 cartas contendo figuras mais ou menos misteriosas às práticas de cartomancia já em uso… O conde de Mellet teve essa ideia, e Jean-Baptiste Alliette a desenvolveu, introduzindo o tarô diretamente na era de ouro da cartomancia.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 155-158.

As únicas lembranças que guardamos de Court de Gébelin

“As únicas lembranças que guardamos de Court de Gébelin hoje se referem ao tarô; o restante de sua obra monumental foi esquecido. Contudo, se considerarmos o tarô, o autor não parece ter escrito informações muito essenciais para compreendê-lo nem revelá-lo.

Então, por que ainda hoje ele é citado nas referências bibliográficas sobre o tema? Como dissemos, o fato é que ele foi o primeiro a falar do tarô de outra forma. Em seguida, e o que é mais importante, outros autores logo tomaram seu lugar para desenvolver essa ideia de que o tarô é algo bem diferente de um jogo de cartas. Se também não tivessem tratado do tema após Court de Gébelin, provavelmente seu texto sobre o tarô teria sido esquecido, tal como aquele sobre os brasões ou seu dicionário etimológico. Além disso, se esses autores desenvolveram a ideia, evocada no primeiro capítulo, de um tarô que, na verdade, é o “Livro de Thot” e conteria conhecimentos ocultos, e se essa ideia pôde crescer e se desenvolver, é porque eles escreveram em uma época, o final do século XVIII, em que esse tipo de concepção podia ser semeada em um terreno bastante fértil: como vimos, os mistérios do Egito eram tão populares quanto a cartomancia. O tarô como “Livro de Thot” tinha um belo futuro pela frente.”

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 154.