“O médium nos parece alguém que deveríamos lamentar e não encorajar, na medida em que não é dirigido ou sequer ajudado por um principiante experiente, de alto nível, capaz de subtraí-lo às influências nocivas que ameaçam os passivos, ou na medida em que ele mesmo não tem espiritualidade suficientemente desenvolvida para escapar as influências inferiores. Então, e somente então, como vidente, como explorador do invisível, ele pode ser de alguma utilidade entre o pequeno número de adeptos, para compensar a falta de iniciados; mas essas explorações devem sempre ser interpretadas por outros.
No mais alto grau de pureza, o médium se torna um profeta, mas deve-se lembrar que a profecia é um dom espontâneo e acidental do Universal; não se pode esperar exercê-la regularmente.
Assim como aos outros, vamos prestar homenagem aos médiuns espíritas, reconhecendo não apenas sua boa-fé, mas a integridade moral e até a devoção da maioria deles.
(…)
Também sabemos que pensamentos e desejos da mesma ordem, ao se multiplicar e se reunir em um corpo, são frequentemente poderosos o suficiente para criar uma personalidade forte e bem determinada; produz-se, então, na alma astral de nossos médiuns, uma impressão que, na atmosfera etérica, é somente potencial efêmero. É dessa maneira que uma época como a nossa, perturbada por ondas de ansiedade pública e múltiplas aspirações, pode estar repleta de falsas profecias, que são expressões de medo e de desejos mutáveis da alma nacional. O Evangelho nos diz que profecias precedem fases de alta espiritualidade, mas elas são anunciadas somente por meio dos desejos das criaturas que as apresentam, não por intermédio da inspiração direta do divino Universal, que traz para nós, pela profecia verdadeira, a bênção de uma esperança suprema.
Quanto à magia cerimonial e naturalista, só podemos condená-la tanto pela inutilidade quanto pelos perigos formidáveis que acarreta e pelo estado de espírito que exige. Mas observemos bem os limites dessa condenação; eles não têm nada a ver com o uso de recursos mágicos (pentáculos, correspondências etc.) por um iniciado de alto nível: colaborador e agente da vontade divina, o iniciado age apenas observando as leis universais e no interesse geral. Sua atividade é um ato de teurgia e não de magia cerimonial. O que queremos dizer aqui com esse último termo é uma operação na qual a vontade e a inteligência humanas são exercidas sozinhas, sem cooperação divina.
Essa é a distinção que a história fez entre Moisés e os mágicos do Faraó, e até mais claramente entre São Paulo e Simão, o Mago, quando mostra este último pedindo ao apóstolo que lhe venda o segredo de seu poder: se ele fosse um mago e não um mágico, saberia que há poderes que só a santidade de um perfeito pode conferir.
E notemos também que a santidade mística sozinha, vale dizer, a união com o Universal, sem qualquer outro exercício especial de poder, já fornece a maioria dessas dádivas que a ambiciosa vaidade do mágico frequentemente persegue em vão: lucidez, leitura da mente, dom da cura, onipresença, êxtase, conhecimento direto. O iniciado aprende a aperfeiçoá-las por meio do treinamento apropriado, mas apenas as aperfeiçoa; só o amor místico do Divino as concede em profusão.
É o que exprime nosso querido irmão Amo, com tanta pertinência quanto razão, ao recomendar o amor para elevarmos todas as forças do mundo à Unidade orientadora!”
PAPUS.Tratado elementar de ciências ocultas, Ed. Pensamento, 2022, Pág. 258-260.
Capítulo 10