Mentiras inaceitáveis e mentiras aceitáveis

Material complementar

Quando distinguimos entre verdade e mentira e diferenciamos mentiras inaceitáveis de mentiras aceitáveis, não estamos apenas nos referindo ao conhecimento ou desconheci­mento da realidade, mas também ao caráter da pessoa, à sua moral. Acreditamos, portanto, que as pessoas, porque possuem vontade, podem ser morais ou imorais, pois cremos que a vontade é o poder para escolher entre o Bem e o Mal. E sobretudo acreditamos que exercer tal poder é exercer a liberdade, pois acreditamos que somos livres porque escolhemos voluntariamente nossasões, nossas ideias, nossos sentimentos.”

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 17.

Introdução: Para que filosofia?

Exercendo nossa liberdade

Aula Magna

A verdade ou a mentira pra valer

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Ao diferenciarmos erro de mentira, considerando o primeiro uma ilusão ou um engano involuntário e a segunda uma decisão voluntária, manifestamos silenciosamente a crença de que somos seres dotados de vontade e que dela depende dizer a verdade ou a mentira. 

Ao mesmo tempo, porém, nem sempre avaliamos a mentira como alguma coisa ruim: não gostamos tanto de ler romances,ver novelas, assistir a filmes?E não são mentira? É que também acreditamos que, quando alguém nos avisa que está mentindo, a mentira é aceitá­vel, não é uma mentira no duro”, pra valer”.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 17.

Introdução: Para que filosofia?

Exercendo nossa liberdade

Aula Magna

Falsidades diferentes

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“No entanto,consideramos a mentira diferente do sonho, da loucura e do erro, porque o sonhador, o louco e o que erra se iludem involuntariamente, enquanto o mentiroso decide­ voluntariamente deformar a realidade dos fatos. Com isso, acreditamos que o erro e a men­tira são falsidades, mas são diferentes porque somente na mentira a decisão de falsear.”

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14º Edição. São Paulo: Editora Ática. 2020, pág. 17.

Introdução: Para que filosofia?

Exercendo nossa liberdade

Aula Magna

O mentiroso não é um niilista

“O mentiroso não é um niilista. Não põe a própria verdade em questão. Quanto mais resolutamente mentir, mais a verdade é comprovada. Fake news não são uma mentira. Elas atacam a própria facticidade. Desfactizam a realidade. Ao afirmar de modo inescrupuloso tudo o que lhe convém, Donald Trump não é um mentiroso clássico que, conscientemente, retorce as coisas. Ao contrário, é indiferente perante a verdade factual. Quem é cego aos fatos e à realidade, constitui um perigo maior à verdade do que o mentiroso.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 741.

A crise da verdade

Fixando a verdade

“Para cessar o estado de guerra, fora preciso começar fixando a verdade, isto é, designar as coisas de modo vinculativo. O mentiroso emprega as palavras para fazer o irreal parecer real, isto é, usurpa o fundamento sólido”. A verdade evita que diferentes reivindicações de validade levem a um bellum omnium contra omnes, a uma guerra de todos contra todos, à cisão total da sociedade. Mantém a sociedade junta na condição de uma convenção necessária.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 725.

A crise da verdade