O Mundo

“Correspondência Astrológica: Saturno.

Uma livre e gloriosa dançarina executa seu gracioso passo no cosmos. Essa imagem de pura realização aparece em várias culturas. O deus hindu Shiva às vezes é visto dessa maneira, assim como a deusa Kali.

Circulos se sobrepõem para criar a mandorla

(…) uma imagem de Cristo e, exceto pelo fato dela retratar um homem em vez de uma mulher, era a mesma imagem da dançarina do mundo, com uma faixa ao redor da virilha seguindo em direção ao céu.

Alguns historiadores do tarot citam esta imagem iconográfica como a verdadeira fonte do mundo, dizendo que a carta mostrava Cristo. Quanto ao que agora aparece como uma coroa de flores nos baralhos modernos, no passado era uma “mandorla”, uma figura em forma de amêndoa formada pela intersecção de dois círculos. Ambos simbolizam a interseção do Céu e da Terra, enquanto a mandorla entre eles representaria o ventre de Maria.

Para mim, O Mundo representa o ápice, a plena consciência ilimitada, a liberdade do dualismo ou da ignorância. Prefiro a visão de Éliphas Lévi, que vê essa carta não como caminho inferior, mas como a sefirá mais elevada, Kether, a pura luz que contém toda a existência.

(…)

Supremo Arcano do Magismo (…) cabeças de um homem, de um touro, de um leão e de uma águia. Este é o sinal com o qual o mago se en feita quando atinge mais alto grau de iniciação, indicando que adquiriu um poder limitado apenas por sua própria inteligéncia e sabedoria.

O Mundo. A glória do mundo sob os poderes da mais alta providencia, a soma das coisas manifestas, conclusão sobre qualquer assunto.

Lévi associa o Mundo a Kether e “a soma de tudo”, mas também ao mi docomo, o ser único que contém o cosmos, Adam Kadmon dos cabalistas.

Algumas pessoas identificam a dançarina com a ideia alquímica do hermafrodita divino. Se masculino e feminino significam a dualidade fundamental, então um ser que incorpora ambos se tornaria completo. Esta é uma ideia muito antiga, encontrada, entre outras fontes, tanto no mito grego quanto no hebraico. A palavra “hermafrodita” combina Hermes e Afrodite, mode- les gregos de sexualidade masculina e feminina, mas também mente e emo- ção, sefirot sere e oito da Árvore da Vida.

Embora a imagem usual mostre uma mulher, o simbolismo sutil da imagem implica o hermafrodita. O número 21 combina 2 e 1, A Sacerdotisa e Mago. Nas versões Marselha e Rider, a dançarina segura a varinha do Mago o simbolo masculino, mas duas delas, como os pilares femininos presentes na carta da Sacerdotisa.

Onde O Enforcado deve virar o pensamento convencional de cabe ça para baixo, O Mundo vê a realidade claramente. Onde O Enforcado deve se vincular a valores espirituais, O Mundo dança livremente.

E 21, como 12, se reduz a 3 (2+1-3). A carta 3, A Imperatriz, nos mostrou a Natureza como a Grande Mãe. As palavras “mãe” e “matéria” vêm do latim “mater”. No Mundo, nós mesmos nos tornamos uma união de espirito e ma téria, de Acima e Abaixo.

Dito de outra forma, com A Imperatriz, olhamos para a percepção de que o mundo, com todos os seus bilhões de criaturas, seus rios e montanhas, seu céu e estrelas, era originalmente uma deusa que de alguma forma foi quebrada ou partida para formar a realidade. Essa não é só uma história para explicar a variedade e a complexidade da natureza. Ela vem de uma incons ciente consciência de unidade. No Mundo, poderíamos descrever esse ser original como restaurado, mas na verdade a restauração ocorre dentro de nós, quando podemos tornar plenamente consciente o que era inconsciente. A triade de 7, 14 e 21-O Carro, A Temperança e O Mundo – sim boliza trés “vitórias: a primeira sobre os desafios da vida, a segunda sobre nossos medos e limitações, sobretudo o medo da morte e, enfim, a vitória que ocorre para todos quando uma pessoa alcança a compreensão espiri tual genuina.

E pode sugerir um nanço, algum entendimento poderoso que leva à toralidade e à liberdade Assens, a carta pode indicar reconhecimento, como se o mundo percebes alguém. Principalmente, ela promete realização.

Algumas pessoas veem o Mundo como a conclusão de um cicle, para co- meçar de novo com o Louco.”

POLLACK, Rachel.Bíblia Clássica do Tarot, Darkside, 2023, Pág.285-293.

O Mundo, O homem e o Cristo

“O Mundo: Instinto, julgamento, razão sensorial.

Homem ou alma: razão pura, vontade, inspiração

O Ovo ou Cristo: Logos, a palavra encarnada, Esoírito universal, Deus-homem.”

KREMMERZ, Giuliano. Introdução à ciência hermética: O caminho iniciático para a magia natural e divina. Editora Pensamento, 2022, Pág.220-221.

Terceira Parte

Os Aforismos

Rituais contém mundo

“Não ocorre depressão em uma sociedade determinada pelo ritual. A alma é totalmente absorvida, esvaziada, pelas formas rituais. Rituais contém mundo. Produzem uma relação forte com o mundo. Na origem da depressão, ao contrário, está uma relação consigo mesmo exageradamente tensa. Nela, se é incapaz de sair de si mesmo, de se ultrapassar em direção ao mundo, e acaba-se encapsulado em si mesmo. O mundo desaparece. Com uma angustiante sensação de vazio, circula-se apenas por si mesmo. Rituais, ao contrário, aliviam o eu do fardo de si mesmo. Eles despsicologizam e desinteriorizam o eu.”

HAN, Byung-Chul.O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente. Ed. Vozes, 2021, Local 213.

Coação de produção

Mundo sem voz e sem olhar

“Da câmara de eco digital, na qual se ouve sobretudo a si mesmo falar, desaparece, cada vez mais, a voz do outro. Hoje, o mundo é, por causa da ausência do outro, menos dotado de voz. Em oposição ao tu, o isso não tem voz. Do isso não parte nem uma alocução, nem uma vista. O desvanecimento do de frente faz do mundo sem voz e sem olhar.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 914.

Voz

Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer

Tudo, por assim dizer, corre agora por conta do indivíduo. Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer, esticar essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa capacidade poderia melhor servir — isto é, com a máxima satisfação concebível. Compete ao indivíduo “amansar o inesperado para que se torne um entretenimento”.

(…)
Nesse mundo, poucas coisas são predeterminadas, e menos ainda irrevogáveis. Poucas derrotas são definitivas, pouquíssimos contratempos, irreversíveis; mas nenhuma vitória é tampouco final. Para que as possibilidades continuem infinitas, nenhuma deve ser capaz de petrificar-se em realidade para sempre.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 1137-1143.

Capítulo 2 | Individualidade

Tenho carro, posso viajar

Supremas Repartições

“Como as Supremas Repartições que cuidavam da regularidade do mundo e guardavam os limites entre o certo e o errado não estão mais à vista, o mundo se torna uma coleção infinita de possibilidades: um contêiner cheio até a boca com uma quantidade incontável de oportunidades a serem exploradas ou já perdidas. Há mais — muitíssimo mais — possibilidades do que qualquer vida individual, por mais longa, aventurosa e industriosa que seja, pode tentar explorar, e muito menos adotar.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 1129.

Capítulo 2 | Individualidade

Tenho carro, posso viajar

A prisão de estar no mundo

“A prisão em que me parece estar é o mundo, e a cadeia que a ele me sujeita é o corpo. E a alma, iluminada pela graça, é a que conhece a importância de estar privado, ou ao menos retardado, por algum impedimento que não lhe permite conseguir o seu fim.

E assim como é impossível que venha Deus a sofrer alguma pena, assim lhes sucede àquelas almas que se aproximam dele, e tanto mais quanto mais se aproximam dele, pois mais participam de suas propriedades. Ora, o retardo que a alma sofre lhe causa uma pena, e esta pena e retardo fazem-lhe desconforme àquela propriedade que ela tem por natureza.

E não podendo gozar dela, sendo dela capaz, sofre uma pena tão grande quanto nela é grande o conhecimento e o amor de Deus.”

Santa Catarina de Gênova. Tratado do Purgatório, Ed. Santa Cruz, 2019, Local: 642-651.

Capítulo I – Tratado do Purgatório

Mundo-Cárcere, corpo-cadeia