“Na época em que o tarô surgiu, o norte da Itália vivia em um estado de guerra quase permanente. Desde o século XIII, suas cidades tiveram um grande desenvolvimento comercial, artístico e intelectual e se tornaram influentes, sendo governadas por famílias importantes ou por conselhos comunais. Essas cidades viviam em conflito pela defesa ou pela expansão de seus interesses, em um contexto europeu igualmente conturbado. Com a peste negra e a Guerra dos Cem Anos (que se encerrou em 1453), o Grande Cisma do Ocidente também dividiu a Europa em duas correntes rivais. De 1305 a 1378, o papado se instalou em Avignon, e a Itália deixou de ter papa. Em seguida, de 1378 a 1417, os papas de Avignon e de Roma travaram uma batalha impiedosa por legitimidade. Nesse momento, o sacerdócio lutava contra o Império: imperadores e papas disputavam para saber quem disporia do poder absoluto na Terra: se o soberano temporal ou o espiritual. No norte da Itália, esse conflito provocou as lutas entre guelfos, favoráveis ao papado, e gibelinos, favoráveis ao Império. Em 1454, a frágil Paz de Lodi oficializou na Itália o precário equilíbrio em que coabitavam o ducado de Milão, sob o governo da família Visconti-Sforza, a república de Florença, dirigida pelos Médici, a república de Veneza, o Estado Pontifício e o reino de Nápoles, governado pela família Aragão. Uma série de senhorias menores, repúblicas e comunas gravitavam ao redor das três grandes cidades, Veneza, Milão e Florença, e conseguiam manter-se independentes Mântua, nas mãos dos Gonzaga; Ferrara, Modena e Reggio, com a família Este; a república de Genova e as comunas de Lucca, Siena e Bolonha. Nesse contexto político particularmente sombrio, vale a pena observar um pouco mais de perto a vida e o reino de uma dessas famílias, na qual surgiu o tarô.”
NADOLNY, Isabelle. História do Tarô. Um estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 77.