Abertura por meio da qual o outro entra

“A ferida é a abertura por meio da qual o outro entra. Ela também é o ouvido que se mantém aberto para o outro. Quem está inteiramente consigo em casa, quem se fecha em casa, não consegue escutar. A casa protege o ego do assalto do outro. A ferida rompe a interioridade doméstica, narcisista. Assim, ela se torna a porta aberta para o outro.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 1224.

Escutar

O clamor pelo outro

“O clamor pelo outro como tu não é, além disso, sem seus riscos. É preciso estar preparado para se expor à alteridade e outridade do outro. Momentos de tu no outro se furtam a toda garantia. Eles são “perigosamente arrebatadores ao extremo, desvencilhantes do contexto experimentado, deixam para trás mais perguntas do que satisfação, estremecem a certeza, de fato infamiliares, e, de fato, indispensáveis”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 1060.

Linguagem do outro

O estranho e do outro é eliminado

“Estende-se hoje, pelo mundo, redes digitais, que não permitem nada senão o espírito subjetivo. Surgiu, assim, um campo de visão familiar, do qual toda negatividade do estranho e do outro é eliminado, uma câmara de eco digital, na qual o espírito subjetivo se confronta apenas consigo mesmo. Ele cobre, por assim dizer, o mundo com a sua própria retina.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 981.

Linguagem do outro

Paranoia

“Faz parte do conjunto de sintomas da paranoia que se imagine olhares, por todos os lados se sinta visto de todos os lugares. Nisso, ela se distingue da depressão. A paranoia não é uma doença predominante hoje. Ela está vinculada à negatividade do outro. Quem é depressivo habita um espaço sem olhar, no qual nenhuma experiência do outro é possível.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 756.

Olhar

O outro desaparece

“O imperativo da autenticidade produz uma compulsão narcísica. O narcisismo não é idêntico ao saudável amor-próprio, que não tem nada de patológico. O amor-próprio não exclui o amor pelo outro. O narcisista, em contrapartida, é cego frente ao outro. O outro é dobrado até que o ego se reconheça nele. O sujeito narcisista percebe o mundo apenas como sombras de si mesmo. A consequência fatal: o outro desaparece.

Hoje, as energias libidinosas são investidas sobretudo no eu. A acumulação narcisista da libido-pelo-eu leva à desconstrução da libido-pelo-objeto; ou seja, da libido que ocupa o objeto. A libido-pelo-objeto produz uma ligação-com-o-objeto, que, em contrapartida, estabiliza o eu. O represamento narcisista da libido-pelo-eu adoece.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 363-368.

Terror da autenticidade

Singularidade e autenticidade

“Sócrates, como objeto do desejo, é incomparável e singular. A singularidade é algo inteiramente diferente da autenticidade. A autenticidade pressupõe a comparabilidade. Quem é autêntico é diferente do outro. Sócrates, porém, é atopos, incomparável. Ele não é apenas diferente do outro, mas diferente diante de tudo que é diferente do outro.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 351.

Terror da autenticidade

A expulsão do outro

“A expulsão do outro traz um vazio adiposo da plenitude. Obscenos são a hipervisibilidade, a hipercomunicação, a hiperprodução, o hiperconsumo, que levam a uma rápida estagnação do igual.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 135.

Terror do igual

O desaparecimento do outro

“O desaparecimento do outro é precisamente a razão ontológica pela qual o smartphone nos torna solitários. Hoje, comunicamo-nos de forma tão compulsiva e excessiva precisamente porque estamos sozinhos e sentimos um vazio. Mas esta hipercomunicação não é satisfatória. Ela só aprofunda a solidão porque falta a presença do outro.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 494.

Smarthphone