“Aqueles que agem rompem com o existente e trazem algo novo, algo completamente diferente para o mundo. Ao fazer isso, eles devem superar uma resistência. O jogo, por outro lado, não intervém na efetividade. Agir é o verbo para a história. A pessoa do futuro que joga e não age encarna o fim da história.
Cada época define a liberdade de forma diferente. Na Antiguidade, liberdade significa ser uma pessoa livre, ou seja, não um escravo. Na era moderna, a liberdade é internalizada como a autonomia do sujeito. É a liberdade de ação. Hoje, a liberdade de ação degenera em liberdade de escolha e consumo. A pessoa do futuro que não age se rende a uma “liberdade da ponta dos dedos”.
A liberdade da ponta dos dedos se revela uma ilusão. A livre escolha é, na realidade, uma escolha consumista. O homem sem mãos do futuro não tem realmente outra escolha, pois ele não age. Ele vive na pós-história. Ele nem sequer percebe que não tem mãos. Nós, entretanto, somos capazes de criticar porque ainda temos mãos e podemos agir. Somente a mão é capaz de escolha, da liberdade como ação.
*panem et circenses (pão e circo).
A renda básica e os jogos de computador seriam a versão moderna de panem et circenses.”
HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 207-220.
Da coisa à não-coisa