Modo maquinal

“Produzir significa originalmente exibir e tornar visível. No pornô, o sexo é produzido, exibido, apanhado em uma visibilidade total. No pornô dos dias de hoje, até mesmo a ejaculação não ocorre no oculto. É igualmente produzida. O resultado final do desempenho não deve permanecer ocultado. Quanto mais farto se precipita o produto, mais capaz de desempenho é seu produtor. Ele se produz diante dos olhos de sua parceira como coprodutora do processo pornográfico. O ato sexual no pornô atual ocorre de modo maquinal. O princípio do desempenho abrange também o sexo.

Vivemos hoje em um tempo pós-sexual. O excesso de visibilidade, a superprodução pornográfica do sexo põe-lhe um fim. O pornô destrói a sexualidade e o erótico de modo de modo mais eficaz do que a moral e a repressão.”

HAN, Byung-Chul.O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente. Ed. Vozes, 2021, Local 1294-1321.

Da sedução ao pornô

Fotografia pornográfica

“Barthes também inclui a fotografia pornográfica como uma fotografia monótona. Ela é lisa, enquanto a fotografia erótica é uma imagem “transtornada, fissurada”. Nenhuma informação apresenta rupturas. Assim, não existem informações eróticas. A informação é pornográfica por sua própria essência. O que está completamente à vista e integralmente exposto não seduz. O erótico pressupõe um “campo cego”, algo que escapa à visibilidade, à revelação de informações: “É a presença (a dinâmica) deste campo cego, creio eu, que distingue a fotografia erótica da pornográfica”. O “campo cego” é o lugar da fantasia. Ela só se abre no fechar dos olhos.

O ruído das informações impede experiências de presença, mesmo revelações, aos quais um momento de silêncio é inerente.”

HAN, Byung-Chul. Não coisas: Reviravoltas do mundo da vida. Ed. Vozes, 2021, Local 964-973.

Magia das coisas