“Ao mesmo tempo, esses trunfos, que se apresentam ao jogador para ajudá-lo a triunfar sobre o adversário, poderiam muito bem ser preciosos do ponto de vista simbólico, pois lhe serviriam como suporte de reflexão para ajudá-lo a triunfar na vida, quer esse jogador seja um pr´íncipe (pois, como vimos, no início esse jogo parece ter sido criado para o divertimento e a educação dos homens do poder), quer um homem mais modesto.
Quais seriam os trunfos preciosos para um homem dessa época? Já discorremos a respeito no que se refere aos príncipes: o poder (o Imperador), o apoio da Igreja (o Papa), uma esposa bem-nascida (a Imperatriz), o exercício de algumas faculdades como a habilidade (o Mago) e algumas virtudes (a Força, a Justiça, a Temperança). Abordaremos esse tema com mais detalhes, porém vale notar, por exemplo, que já na Idade Média as figuras de poder (reis, bispos), ou seja, pessoas designadas para comandar os outros, apareciam cercadas por essas virtudes, que, por sua vez, eram apresentadas como sempre necessárias na arte de bem governar. O que mais deveria fazer todo homem da época para bem governar e, em sentido mais amplo, ter éxito em sua vida? Ele deveria ter consciência do tempo que passa (o Eremita) e da impermanência das coisas (a Roda da Fortuna); não sucumbir à tentação e seguir pelo caminho da virtude (o Enamorado); permanecer humilde perante a ideia de que a morte vence todas as coisas, tanto os ricos quanto os poderosos (o arcano XIII), às vezes de maneira desonrosa para quem não é leal (o Pendurado); nunca se esquecer de que a mão de Deus pode incidir a qualquer momento (a Casa de Deus); temer o Maligno (o Diabo) e, assim, ter acesso aos céus (o Sol, a Lua, a Estrela); esperar a eternidade (o Julgamento) e a gloria (o Mundo).
Para resumir novamente, podemos dizer que esse conjunto contém representações da condição humana desde tempos imemoriais o poder, a mulher, a religião, o amor, a vitória, a derrota (ou a traição), a morte, o bem (as virtudes), o mal, o inferno, o paraíso, a terra, o ceu, com o sol e a lua.”
NADOLNY, Isabelle. História do Tarô. Um estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 93.