Momento psíquico do desenvolvimento

“Estamos em um momento psíquico do desenvolvimento da humanidade em que a memória de tantos séculos, adormecida sob o sepulcro do esquecimen to, está despertando a consciência das massas.

O Messias que deve chegar no início do século XX é o elo que vai unir fé e ciência e dar à ciência a direção da fé das massas.

Uma vez que a Escola (não uma seita, porque a Ciência não é uma conspiração) foi estabelecida, o João Evangelista dela virá depois, mas ele terá que dizer: “Somos filhos dos magos e a magia era a sabedoria da Arca; a verdade, portanto, é una; estamos retornando ao conheci- mento antigo usando novas formas”.

Este ovo, como eu disse, corresponde ao Cristo dos religiosos católicos, mas a busca por Cristo não é a busca por um estado do Espírito, como ensinado pelos propagadores budistas de doutrinas insuficientemente explicadas, mas um complexo de relações conectadas à manifestação do terceiro estado do ser encarnado.

(…)

1. A corrente vital una se divide e se torna realidade separada- mente.

2. Tanto homens quanto mulheres podem se tornar magos poderosos se os homens despertarem as faculdades femininas em si mesmos e vice-versa.

Quanto à ideia do sopro de vida, como usada no segundo aforismo, o sopro, aqui, é tomado como símbolo de emanação. Bem-aventurados aqueles em quem Ea soprou duas vezes. As duas almas no mesmo indivíduo se entrelaçam no amor, como as serpentes no caduceu de Mercúrio, e cantam a fecundidade divina.

Isolamento, aprimoramento moral, o despertar de nossa natureza oculta, escondida: esta é a tradução simples, feita em termos literais, da doutrina sacerdotal.”

KREMMERZ, Giuliano. Introdução à ciência hermética: O caminho iniciático para a magia natural e divina. Editora Pensamento, 2022, Pág.225-228.

Terceira Parte

Os Aforismos

As evoluções psíquicas

“(…) a nossa indignação e a nossa dolorosa deceção, por causa da conduta incivilizada dos nossos concidadãos mundiais, são injustificadas nesta guerra. Baseiam-se numa ilusão em que nos enredámos. Na realidade, tais homens não caíram tão baixo como temíamos, porque também não tinham subido tão alto, como a seu respeito julgávamos. O facto de os grandes indivíduos humanos, os povos e os Estados, terem reciprocamente infringido as restrições morais foi para eles um estímulo compreensível para se subtraírem por algum tempo à pressão da cultura e permitirem uma satisfação passageira das suas pulsões retidas. E não perderam assim, provavelmente, a sua moralidade relativa no seio da coletividade nacional.

(…) As evoluções psíquicas possuem, de facto , uma peculiaridade que não ocorre em nenhum outro processo evolutivo. Quando uma aldeia se torna cidade ou uma criança se faz homem, a aldeia e a criança são absorvidas pela cidade e pelo homem. Só a recordação pode delinear os antigos traços na nova imagem; na realidade, os materiais ou as formas anteriores foram deixados de lado e por outros substituídos. As coisas passam-se de modo diferente numa evolução psíquica. Dada a falta de termos de comparação, limitar-nos-emos a afirmar que todo o estádio evolutivo anterior persiste ao lado do ulterior, que dele derivou, a sucessão condiciona uma coexistência, embora sejam os mesmos materiais em que decorreu toda a série de mutações. O estado psiquico anterior pode não se ter manifestado em muitos anos, no entanto, persiste de tal modo que em qualquer momento se pode tornar de novo a forma expressiva das forças anímicas, e até a única, como se todas as evoluções ulteriores se tivessem anulado ou regredido. (…) Mas os estados primitivos podem sempre ser reconstituídos; o psíquico primitivo é, no sentido mais pleno, imperecível.”

FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.35-36.

Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915)
“O desapontamento perante a morte”

Tensões no aparato psíquico

“As tensões no aparato psíquico, que resultam dos efeitos da proibição e da repressão, fazem com que surjam vozes. Assim, Daniel Paul Schreber, autor de Feitos memoráveis de um doente dos nervos, sente-se perseguido por vozes. Elas ressoam de um lugar inteiramente outro. Schreber fala de um “tráfego de vozes que parte de um outro lugar e que sugere uma origem sobrenatural”. As vozes, que falam incessantemente com ele, são atribuídas a Deus: “Permanece, então, para mim, uma verdade incontestável, que Deus se revelou novamente todo dia e a toda hora por meio de conversas de vozes e maravilhas”. Schreber adquire sinfonias, caixinhas de música ou acordeões orais, “a fim de, em certas ocasiões, se sobrepor à tagarelice das vozes e, assim, conseguir-me pelo menos um repouso provisório”. A voz é um fantasma, um espírito. O que foi excluído e reprimido retorna como voz. A negatividade da negação e da repressão é constitutiva para a voz. Na voz, o conteúdo psíquico reprimido retorna. Na sociedade em que a negatividade da repressão e da negação dá cada vez mais lugar à permissividade e à afirmação haverá cada vez menos vozes para se ouvir. Em contrapartida cresce, porém, a barulheira do igual.”

HAN, Byung-Chul.A expulsão do outro: Sociedade, percepção e comunicação hoje. Ed. Vozes, 2022, Local 870.

Voz

História da depressão

“O inconsciente não tem influência na depressão. Alain Ehrenberg, porém, insiste nessa tecla: “Foi a história da depressão que nos ajudou a compreender essa reviravolta social e espiritual. Seu incremento incontido perpassa as duas dimensões de modificações que perfizeram o sujeito da primeira metade do século XX: a libertação psíquica e a insegurança da identidade, a iniciativa pessoal e a incapacidade de agir. Essas duas dimensões deixam claros dois riscos antropológicos, que residem no fato de que na psiquiatria o conflito neurótico inclina para a insatisfação depressiva.”

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2022, Local 734.

Anexos: Sociedade do Esgotamento