O Ritual de Redenção

“Essa tradição secreta revela que Deus, a quem a maioria dos cristãos venera, de modo ingênuo, como criador, e Pai, é, na verdade, apenas a imagem do verdadeiro Deus. Segundo Valentino, que Clemente e Inácio descrevem de forma equivocada como Deus na realidade aplica-se apenas ao creator. Valentino, seguindo Platão, utiliza o termo grego para “criador” (demiurgos),  sugerindo um ser menos divino que serve como instrumento de poderes superiores. Não é Deus, explica, porém o demiurgo que governa como rei e senhor, e age como comandante militar,  que legisla e julga aqueles que infringem sua lei  -em suma, ele é o “Deus de Israel”.

(…)

Ao atingir essa gnosis – essa sabedoria- o candidato  está pronto para receber o sacramento secreto conhecido como o sacramento da redenção.

O ritual de redenção, que mudava de forma dramática a relação do iniciado com o demiurgo, modificava, ao mesmo tempo, sua relação com o bispo. Antes, o fiel aprendia a se submeter ao bispo “como ao próprio Deus”, pois, como lhe fora dito, o bispo governa, comanda e julga “no lugar de Deus”. Agora, porém, vê que essas restrições aplicam-se apenas a crentes ingênuos que ainda temem e servem o demiurgo.”

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 40-41.

Capítulo: 2- “Um Deus, Um Bispo”: A Política do Monoteísmo.

O Amor e o Serviço na Redenção

“Todos lutamos por ressarcir compromissos do pretérito, compreendendo que não há dor sem justificação; e se sabemos que só o amor puro e o serviço incessante são capazes de garantir-nos a redenção, uns à frente dos outros, como desprezar o companheiro que sofre, em nome de princípios a cujo funcionamento estamos submetidos por nossa vez?”

Xavier, Francisco Cândido / André Luiz. Nos Domínios da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 1955, Capítulo 29.

A Cruz e a Paz

“A cruz do Salvador do Mundo, apesar do comportamento dos seus sacerdotes, é um símbolo vastamente mais democrático do que a bandeira local.

A compreensão das implicações últimas –  e críticas –  das palavras e símbolos de redenção do mundo da tradição cristã foi de tal modo deturpada, ao longo dos tumultuosos séculos que nos separam da declaração de guerra – feita por Santo Agostinho – da Civitas Dei contra a Civitas Diaboli, que o pensador moderno, desejoso de saber o significado de uma religião mundial (isto é, de uma doutrina do amor universal) deve voltar-se para a outra grande (e muito mais antiga) comunhão universal: a comunhão do Buda, na qual a principal palavra é a paz – paz pra todos os seres.

Os seguintes versos tibetanos, por exemplo, de dois hinos do poeta-santo Milarepa, foram compostos mais ou menos na época em que o papa Urbano II pregava a Primeira Cruzada:

“No seio da Cidade da Ilusão dos Seus Planos do Mundo, O Principal fator é o pecado e a ignorância nascidos das más obras;

Ali, o ser seguido dita as preferências e aversões, E jamais chega o momento de conhecer a Igualdade: Evitai, ó filho meu, as preferências e aversões.

Se realizardes o Vazio de Todas as Coisas, a Compaixão surgirá em vossos corações;
Se abandonardes todas as diferenciações entre vós mesmos e os outros, sereis dignos de servir aos outros;

E quando, no serviço dos outros, encontrardes sucesso, a mim encontrareis;

E me encontrando, alcançareis a Condição de Buda.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 152-152.