“Chamamos regime de informação a forma de dominação na qual informações e seu processamento por algoritmos e inteligência artificial determinam decisivamente processos sociais, econômicos e políticos. Em oposição ao regime disciplinar, não são corpos e energias que são explorados, mas informações e dados. Não é, então, a posse de meios de produção que é decisiva para o ganho de poder, mas o acesso a dados utilizados para vigilância, controle e prognóstico de comportamento psicopolíticos. O regime de informação está acoplado ao capitalismo da informação, que se desenvolve em capitalismo da vigilância e que degrada os seres humanos em gado, em animais de consumo e dados.
O regime disciplinar é a forma de dominação do capitalismo industrial. Assume, ele mesmo, uma forma maquinal. Todos e cada um são uma roldana no interior da maquinaria disciplinar do poder. O poder disciplinar penetra nos nervos e nas fibras musculares e faz “de uma massa disforme, de um corpo inábil” uma “máquina”1. Fabrica corpos “dóceis”: “dócil é um corpo que pode ser submetido, que pode ser explorado, que pode ser remodelado e aperfeiçoado”2. Corpos dóceis como máquinas de produção não portam dados e informações, mas energia. No regime disciplinar, os seres humanos são adestrados em um animal do trabalho.
O capitalismo da informação, assentado sobre a comunicação e a conexão, torna obsoletas técnicas disciplinares como a isolação espacial, a regulamentação rigorosa do trabalho ou o adestramento corporal.
O sujeito submisso do regime de informação não é nem dócil, nem obediente. Ao contrário, supõe-se livre, autêntico e criativo. Produz-se e se performa.”
HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 42-57.
Regime de Informação