“A sociedade civilizada, que exige a ação boa e não se preocupa com o seu fundamento pulsional, ganhou, pois, para a obediência à civilização um grande número de homens que nisso não seguem a sua natureza. Animada por este êxito, deixou-se induzir a intensificar em grau máximo as exigências morais, obrigando assim os seus participantes a distanciar-se ainda mais da sua disposição instintiva. A estes homens é imposta uma continuada opressão das pulsões, cuja tensão se manifesta em notabilíssimos fenômenos de reação e de compensação. No terreno da sexualidade, onde menos se pode levar a cabo semelhante opressão, chega-se assim aos fenômenos reativos das enfermidades neuróticas. A pressão da cultura noutros setores não acarreta consequências patológicas, mas manifesta-se em deformações de caráter e na disponibilidade constante das pul- sões inibidas para abrir caminho na ocasião oportuna para a satisfação. Quem assim é forçado a reagir permanentemente no sentido de prescrições que não são expressão das suas tendências pulsio nais vive, psicologicamente falando, muito acima dos seus meios e pode qualificar-se objetivamente de hipócrita, seja ou não clara mente consciente desta diferença. É inegável que a nossa cultura atual favorece com extraordinária amplitude este género de hipocrisia.”
FREUD, Sigmund. Porquê a Guerra? – Reflexões sobre o destino do mundo, Ed. Edições 70, 2019, pág.33.
Considerações atuais sobre a guerra e a morte (1915)
“O desapontamento perante a morte”