A Teoria do Desmaio

“A literatura está inundada com alegações de que a Ressurreição Jesus não ocorreu porque Ele estava vivo quando foi descido da cruz e apenas fingia que estava morto. Esses argumentos receberam o tema Teoria do Desmaio, porque todas as asserções compartilham o mesmo tema, ou seja, que Jesus não estava morto, mas em um esta inconsciente ou em coma (induzido, para simular a morte) quando foi retirado da cruz.

Em primeiro lugar, uma análise forense da condição em que Jesus estava teria que incluir o espancamento na casa do sumo sacerdote, o brutal açoitamento e o desenvolvimento da efusão pleural, a cravação dos pés e mãos, a hematidrose, o estresse mental, a severa desidratação, a jornada ao Calvário sob o sol quente e as seis horas na cruz. Tudo isso indica que Ele se encontrava num estado grave de choque hipovolêmico. Então, quando a lança penetrou o peito, a presença de sangue e água foi condizente com a perfuração do átrio direito, que causaria morte rápida, porque o coração bombearia sangue na cavidade torácica. Mesmo se a lança não atingisse o coração, um pneumotórax (colapso do pulmão) iria ocorrer, já que a pressão no lado de fora do peito é maior que a de dentro, causando o colapso do pulmão. (…) Se Ele estivesse vivo depois do golpe com a lança, um som de sucção seria ouvido pelo centurião, pelas pessoas que O tiraram da cruz e pelos espectadores.

AS TEORIAS DO DESMAIO

Karl Bahrdt

Karl Bahrdt propôs que Jesus era membro da sociedade secreta dos essênios, uma seita ascética judaica que vivia perto do Mar Morto naquela época. Bahrdt alega que Jesus era um impostor e que a Ressurreição nunca aconteceu. Em Ausführung des Plans und Zwecks Jesu (1784-92), ele afirma que Jesus estava em coma ou sono profundo assistido por São Lucas, o médico, que deu a Ele drogas para que aguentasse o sofrimento da Crucificação, e Sua aparente Ressurreição foi um despertar do coma assistido por José de Arimatéia. Ele diz, então, que no terceiro dia quando Jesus retornou, Sua aparição assustou os vigias da tumba e Ele foi viver em reclusão com os essênios. Admite-se que Jesus poderia ser um essênio, já que ele criticava os saduceus e os fariseus mas, nunca os essênios. Bahrdt segue com inúmeras alegações sem nenhuma base científica, histórica ou teológica. Segundo ele, a multiplicação dos pães para alimentar o povo não foi milagre, mas tratava-se de um estoque de alimentos que estava escondido; Seu retorno da morte foi um despertar do coma ou sono profundo; Seu andar sobre as águas deveu se a uma plataforma colocada sob a superfície da água etc.

COMENTÁRIO: Toda a teoria de Bahrdt é baseada em ficção, sem nenhum fundamento teológico, histórico ou científico. Não existe evidência de que São Lucas esteve na crucificação. Na verdade, São Lucas, um gentio, foi convertido por São Paulo, e Tertuliano afirmou que ele nunca foi um discípulo de Jesus, senão após Sua morte. Além disso, naquela época não havia medicamentos capazes de deixar Jesus inconsciente e livre das terríveis dores na condição em que se encontrava.

Karl Venturini

Na mesma época, Karl Venturini propôs uma versão similar à teoria de Bahrdt, mas um pouco mais simples. Ele sugeriu que Jesus era membro de uma “sociedade secreta”, que queria que Ele fosse reconhecido como um Messias espiritual e não esperava que Ele fosse crucificado. Um membro dessa sociedade, vestido de branco, ouviu -lamentos vindos da tumba, espantou os guardas e resgatou Jesus, que depois disso foi viver em reclusão. Muitas outras hipóteses similares foram propostas.

COMENTÁRIO: Assim como a teoria de Bahrdt, essa versão é totalmente especulativa, sem nenhum suporte teológico, histórico ou científico.

Heinrich Paulus

Em 1828, Heinrich Paulus propôs que pesados gases oriundos de um terremoto (relatado em Mateus 27-51) causaram dificuldades respiratórias, deixando Jesus inconsciente. Jesus foi tido como morto. Paulus sugere que Jesus apareceu perante seus discípulos e sumiu numa nuvem nas montanhas.

COMENTÁRIO: A teoria de Paulus é forçada, sem nenhuma base cientifica, histórica ou teológica.

Ahmadi

Em 1882, Hazrat Mirza Ghulam Ahmad, um paquistanês, fundou o Ahmadi (ou Ahmadiyyas), um ramo islâmico não ortodoxo, na cidade de Lahore, no Paquistão. Ahmadi afirmava que Yuz Asaf, o profeta que supostamente seria Jesus, viveu e morreu lá, e que Jesus não morreu na cruz, mas em Mohalla Khaniyar, em Srinagar, e que Sua tumba, chamada Rauzabal, foi descoberta no final do século XIX. Os Ahmadi são dedicados a desaprovar a Ressurreição do corpo e a Ascensão porque acreditam que, se não o fizerem, sua fé e posição serão destruídas. Eles pregam que Jesus ficou profundamente inconsciente na cruz, que a lança não atingiu o coração nem os pulmões e que o fenômeno “sangue e água” foi uma indicação de que Jesus estava vivo, que ele foi reanimado e assistido na tumba e que os essênios ajudaram-no a escapar. Sua identificação dos essênios deriva da crença no fato de que os “dois anjos de branco” citados em João 20:12 eram essênios, já que estes sempre se vestiam de branco.

COMENTÁRIO: A alegação de que a lança não atingiu o coração nem os pulmões é totalmente indefensável e baseada em mera especulação, já que era essencial contestar a Ressurreição e Ascensão. É importante, porém, notar que o Alcorão diz que Jesus não morreu nem foi crucificado, mas ascendeu aos Céus. Reporte-se ao mecanismo do “fenômeno sangue e água”, discutido anteriormente, para uma refutação total. Se Ele não estava morto quando foi atingido pela lança, o “sangue e água” significaria que o golpe acabou por matá-Lo. Além disso, nas condições em que Ele se encontrava, mesmo que estivesse vivo, o golpe da lança teria resultado em um colapso do pulmão, com um alteração mediastinal causando ataque cardíaco e morte. É importante entender que o exactor mortis e o quaternio eram especialistas em determinar a ocorrência da morte, já que participavam de milhares de crucificações. O fenômeno “sangue e água” não é, de forma alguma, prova de que Jesus não morreu na cruz. A identificação dos essênios com base na referência aos “dois anjos de branco” em João 20:12 é implausível, porque se lermos sobre o mesmo incidente em Mateus 28-2-3 (“Sua aparição foi como um raio”) e Lucas 24:4 (“em vestes resplandecentes”), é óbvio, pela descrição, que não se tratava de seres naturais. É interessante que os ahmadis modernos citam o livro Life of the Holy Issa, de Notovitch, embora tudo o que se refira a esse autor tenha se mostrado ser um grande logro (veja no próximo parágrafo). Muçulmanos ortodoxos consideram apostasia os argumentos de Ahmad, pois eles acreditam que Maomé foi o último mensageiro de Deus, enquanto Ahmad afirmou que ele próprio foi escolhido para ser o reformador de Deus e Messias para esta época. Além disso, os ahmadis negam o dom de profeta de Maomé, que é um artigo de fé endossado pelo Alcorão. Muçulmanos conservadores rotularam os ahmadis de hereges. Ahmad, supostamente, também afirmou ser o deus hindu Krishna, considerado um falso deus pelo Alcorão. Também não é permitido aos ahmadis que entrem em Meca para fazerem o obrigatório Haji (peregrinação a Meca que reúne os muçulmanos de todas as raças e línguas).

Nicolas Notovitch

Parece que o mundo estava encapuzado em 1894, quando Nicolas Notovitch, um correspondente de guerra russo, publicou um livro na intitulado La Vie Inconnue de Jésus-Christ. A publicação francesa foi imediatamente seguida por traduções feitas para o alemão, o espanhol, o inglês e o italiano, e Notovitch sacudiu o mundo com suas declarações. Segundo o escritor, depois de um acidente ele teria si levado ao monastério Himis Lama, no Tibete, e lá descobriu que os monges adoravam um profeta chamado Issa, que na verdade era Jesus. Ele declarou que os adoradores interpretaram inúmeros documentos – escritos na linguagem Pali, que supostamente nunca foi usada e Tibete – sobre a “Vida de Issa”. Notovitch ainda argumentou que os documentos revelavam que Jesus tinha viajado ao Tibete quando era mais jovem (os anos perdidos, a partir de Seus 13 anos) e se tornou versado em budismo e nos ensinamentos de outras seitas religiosas. Os registros se referiam a um israelita santo chamado Issa, que era conhecido como “o rei dos judeus” e que foi levado para morrer por Pôncio Pilatos. O livro seguinte de Notovitch, The Life of The Holly Issa, foi publicado na Europa e na América.

COMENTÁRIO: Max Mueller, de Oxford, um expert em literatura hindu, promoveu uma grande controvérsia em um artigo escrito na revista The Nineteenth Century (36: 515, 1894) ao mostrar várias inconsistências na teoria de Notovitch, e o professor Archibald Douglas viajou ao monastério Himis e entrevistou o lama líder, que informou nunca ter ouvido falar de Notovitch e que toda a história era falsa. O encontro de Douglas com o tal lama foi testemunhado, certificado e selado. Só que, em 1926, o livro de Notovitch foi revisitado com muita fanfarra, já que a essa altura todos já tinham se esquecido de que era uma fraude.

Ernest B. Docker

Em 1920, Ernest B. Docker, um juiz, teorizou que Jesus estavam estado auto-hipnótico que dava a impressão de morte, e ainda repauda as Escrituras afirmando que o golpe com a lança aplicado pelo soldado pode nunca ter acontecido.

COMENTÁRIO: Docker afirma que o golpe com a lança possivelmente não ocorreu, mas não oferece nenhuma documentação válida para provar sua hipótese. É inacreditável que Docker até indica que Jesus recebeu roupa de um “jardineiro” descrito em João 20:15, quando na verdade o tal “jardineiro” é especificamente identificado como o próprio Jesus.

Robert Graves e Joshua Podro

Em 1957, tanto Robert Graves quanto Joshua Podro propuseram que Jesus estava em coma na cruz, que a lança perfurou o peito, mas não os pulmões, e que o “fenômeno sangue e água” indicou que Jesus não morreu. Eles também afirmam que, quando um guarda O encontrou vivo durante sua tentativa de roubar os preciosos unguentos do Sudário, ele deixou que Jesus partisse. Jesus, então, apareceu aos Seus discípulos e partiu para um esconderijo.

COMENTÁRIO: Toda essa história é totalmente especulativa, sem nenhuma documentação que a suporte. Sua asserção de que o fenômeno “sangue e água” indica que Jesus estava vivo é totalmente indefensável. O mecanismo do fenômeno “sangue e água” já foi amplamente discutido antes, e, como foi notado, é uma indicação de morte, não uma confirmação de que a vítima estava viva, como essa teoria indica.

Hans Naber

Em 1957, Hans Naber (ou Kurt Berna, John Reban) relatou no livro alemão Inquest on Jesus ChristDid He Die on the Cross? que Jesus não morreu na cruz. Sua tese foi baseada nas imagens do sangue da testa e da ferida da lateral do corpo mostradas no Sudário de Turim, alegando que o coração tinha que estar batendo para que tais imagens fossem criadas, e se Jesus estivesse morto antes de ser levado, os ferimentos teriam secado e não haveria nenhuma imagem. E acredita que os aloés e a temperatura fria da tumba O reviveram.

COMENTÁRIO: Em primeiro lugar, a hipótese de Naber depende da autenticidade do Sudário de Turim. Naber era garçom, sem nenhuma credencial científica, e, além disso, é interessante que, de acordo com o dr. Karlheinz Dietz, Chefe de História na Universidade de Würzburg em dezembro de 1972, Naber foi condenado a dois anos de prisão por “fraude consecutiva” (e-mail ao Grupo Yahoo de Ciência do Sudário, datado de 11 de julho de 2003). Está claro que a credibilidade de Naber é questionável.

Sua interpretação é incorreta do ponto de vista forense, já que a imagens de sangue no Sudário de Turim são um reflexo do sangue que fluiu dos ferimentos depois que o corpo foi lavado, de acordo com os rituais judaicos, e não se devem ao fato de que o coração ainda estava batendo. Por exemplo, o ferimento no peito notado no Sudário resultou em uma mistura de sangue e água, da densa efusão pleural (resultado do brutal açoitamento) misturada com sangue e proveniente do átrio direito perfurado pela lança. Se a tese de Naber de que o coração estava batendo fosse verdadeira, então haveria grandes quantidades de sangue no Sudário.

Eu investiguei mais de 25 mil mortes e fiz mais de 10 mil autopsias nos mais de 34 anos em que exerci o cargo de médico-legista chefe em Rockland County, Nova York, e percebi que o sangue normalmente flui das feridas dos cadáveres, particularmente em vítimas de morte violenta. Como foi discutido na seção intitulada “Avaliação das Hipóteses”, o sangue não coagulou na maioria das vítimas de monte violenta por causa do aumento de certos fatores químicos no sangue denominados trombolisinas, as quais têm a capacidade de dissolver coágulos. Além do mais, o sangue no peito e nas costas que Naber atribuiu ao golpe da lança no coração teria certamente causado a morte de Jesus. O leitor também deve consultar a seção intitulada “O Homem do Sudário Foi Lavado depois da Morte?”, no Capítulo 14. Finalmente, minha avaliação do homem do Sudário combina com a de outros patologistas forenses e gerais que estudaram a peça- o rigor mortis estava presente (veja a seção “Quebrando o Rigor”, no Capítulo 14).

J.D. M. Derrett

O livro de J. D. M. Derrett, The Anastasis: The Ressurrection of Jesus as an Historial Event, escrito em 1982, supõe que Jesus entrou em um estado auto hipnótico ou em profundo desmaio, que a lança não perfurou Seu coração nem Seus pulmões, que um guarda que foi checar um ruído na tumba O encontrou vivo, porém moribundo, que Jesus então a ele que enviasse uma mensagem a Seus discípulos e que Ele morreu logo depois e foi cremado como a Ovelha Pascal pelos discípulos.

COMENTÁRIO: Isso também é como um conto de fadas, sem nada que substancie as asserções. A morte de Jesus não dependia do fato de Seu coração ser perfurado. Derrett ignorou por completo os inúmeros ferimentos que Jesus sofreu. De qualquer modo, para concordar com o relato nas Escrituras do “fenômeno sangue e água”, o coração teria que ter sido perfurado.

Barbara Thiering

Em 1992, Barbara Thiering, em seu livro Jesus and the Riddle of the Dead Sea Scrolls, usa sua própria interpretação dos Pergaminhos do Mar Morto e postula que Jesus estava inconsciente na cruz, depois de ter ingerido veneno de cobra, e que Ele arquitetou Sua fuga da tumba.

COMENTÁRIO: Outra hipótese forçada e sem substância.

Holger Kersten e Elmar Gruber

Em 1992 e 1993, como Hans Naber, Holger Kersten, um professor e Elmar Gruber, um parapsicólogo, anunciaram que sua conclusão baseada em intensos estudos sobre o Sudário, mostrou que Jesus não morreu na cruz porque o sangue impresso no Sudário prova que o coração ainda batia quando Ele foi embrulhado no tecido. Em seu popular livro, The Jesus Conspiracy, eles atribuem isso a um plano que envolvia José de Arimatéia, Nicodemos e o centurião, por meio do qual teriam drogado Jesus com ópio depois de três horas na cruz, em seguida retirando-O e levando-o à tumba. Eles tentaram reforçar a tese dizendo que Jesus teria ficado só três horas na cruz, quando outros homens crucificados da mesma maneira permaneciam vivos por horas e até mesmo dias. Eles sugerem que aloé e mirra foram colocados no corpo enquanto Ele estava sendo embrulhado, para curar Seus ferimentos. Afirmam que Jesus foi levado pelos essênios. Já que a autenticidade do Sudário é exigida (sine qua non) para que a teoria funcione, eles fazem uma revisão completa da literatura a respeito do Sudário e declaram que a datação por carbono foi forjada pela Igreja, que teria substituído amostras do século XIII pela datação de carbono em 1988. Eles tentam explicar o mecanismo da formação da imagem no Sudário dizendo que unguentos herbais aplicados no corpo se misturaram ao suor na vestimenta e assim foi criada uma imagem de contato.

COMENTÁRIO: Essa hipótese, assim como a de Naber, que já foi descrita é baseada na autenticidade do Sudário. Os mesmos argumentos que utilizei para refutar a hipótese de Naber podem ser usados para desmentir as hipóteses de Kersten e Gruber em relação às suas descobertas referentes ao Sudário. Com que propósito José de Arimatéia, Nicodemos e o centurião iriam drogar Jesus para fazer que ele parecesse estar morto? Aloé e mirra têm um pequeno efeito antisséptico e analgésico, mas não teriam nenhum valor se considerarmos a gravidade do estado de Jesus. A teoria deles sobre a formação da imagem no Sudário, afirmando que unguentos herbais aplicados no misturados ao suor na vestimenta criaram uma “imagem de contato”, foi demolida por Adler em 1999. Adler indicou que já que a técnica era um mecanismo de contato, ela iria falhar no teste VP-3, e declarou: “Não existe evidência microscópica, química ou espectroscópica de manchas herbais.” Os argumentos usados aqui e em outras hipóteses, de que seria incomum uma pessoa ficar na cruz somente por três horas e morrer nesse “curto” período de tempo, de que mesmo os dois ladrões não estavam mortos e foram abaixados nessa hora, e que muitos permanecem na cruz por dias, não são válidos. Em primeiro lugar, há um debate sobre essa parte das Escrituras, mas muitos concordam em que Jesus ficou na cruz por aproximadamente seis horas. Em segundo lugar, o tempo em que a vítima permanece na cruz depende de vários fatores, incluindo a natureza dos ferimentos sofridos antes da suspensão; a condição física da vítima; se o sedile foi usado; se os pés e mãos foram amarrados, pregados ou ambos; se o crucarius foi açoitado etc. Depois de uma ampla análise forense, concluí que a extensão e a natureza do brutal açoitamento no caso de Jesus foram a causa de ter Ele morrido tão cedo (consulte o Capítulo 2), e que de fato Ele já poderia estar morto depois de três horas.

Karl Herbst

Karl Herbst, um ex-padre católico que acreditava que Deus não Permitiria que Seu filho morresse e que dizia que a datação por carbono de 1988 estava errada, publicou um livro chamado Kriminalfall Golgotha para mostrar que Jesus não morreu na cruz. De acordo com o professor Karl Heinz Dietz, da Universidade de Würzberg, Herbst consultou o professor Wolfgang Bonte, chefe de Medicina Forense da Universidade de Düsseldorf, supostamente para tratar de um caso criminal. No final, a avaliação de Bonte apoiou as hipóteses de Herbst de que o homem debaixo da mortalha estava vivo, e escreveu um dossiê sobre o caso. No fim das contas, essas conclusões foram baseadas em uma informação incorreta fornecida por Herbst a Bonte, na qual a descrição do ferimento lateral foi particularmente distorcida. Embora Herbst tenha declarado que Bonte não sabia que estava lidando com o Sudário, a correspondência entre os dois (uma cópia foi enviada a Dietz) indicou que isso não era verdade e que Bonte escondeu o fato. Herbst também admitiu ao professor Dietz em uma carta que a informação dada a Bonte estava incorreta e informou que iria mudar tudo num livro subsequente, que nunca foi publicado. É interessante saber que Kersten e Gruber usaram em seu livro a opinião de Bonte, a qual eles obtiveram por meio de Herbst, e não do próprio Bonte. O professor Dietz questionou Bonte em duas ocasiões (8/12/92 e 28/12/92) se ele sabia que estava escrevendo sobre o Sudário, mas não obteve resposta.

COMENTÁRIO: Quando ocupava o cargo de chefe de Medicina Forense, Bonte escreveu um dossiê sobre o Sudário baseado somente nas errôneas que obteve de Herbst. Este, por sua vez, admitiu em uma carta ao professor Karl Heinz Dietz que os dados fenecidos a Bonte estavam incorretos e que iria corrigir a falsa informação em um livro, o qual nunca foi publicado. É interessante saber que Kersten e Gruber usaram em seu livro a opinião de Bonte, a qual eles obtiveram de Herbst, e não diretamente de Bonte.

Rodney Hoare

Rodney Hoare, que morreu em 1997, era presidente da Sociedade Britânica para o Sudário de Turim e um ávido entusiasta de sua autenticidade. Porém, ele aparentemente desviou-se da rota e seguiu a escola de Hans Naber, que prega que Jesus estava vivo debaixo do Sudário. Em seu livro publicado em 1984, A Piece of Cloth, The Turin Shroud Investigated“, Hoare indica que consultou os Cientistas Forenses do Leste Britânico, baseados em Nottingham, que estudaram as fotografias do Sudário e concluíram que o homem se encontrava em coma profundo, não morto. Como a penetração das “manchas” por toda a extensão da parte de trás e da frente é razoavelmente constante, eles concluíram que a temperatura do corpo era uniforme, uma condição que só poderia estar presente se o sangue ainda estivesse circulando e o coração batendo. Além disso, em resposta aos efeitos do ferimento produzido pela lança, os cientistas forenses supostamente informaram a Hoare que se alguém colocasse o dedo no local onde teria ocorrido o ferimento, e levantasse o braço, o local estaria muito alto para que ocorresse graves danos, já que a lança teria entrado mais embaixo. Em seu livro de 1995, intitulado The Turin Shroud is Genuine, Hoare relata a seguinte discussão com seus cientistas forenses:

Depois de um tempo, eu disse: “E quanto ao ferimento no peito?”” Teria havido pouco dano. Coloque sua mão no ponto em que a lança penetrou, como na fotografia do Sudário, e levante os braços para os lados na posição de crucificação; veja que seria muito alto para que acontecesse algo grave, já que o ferimento veio de baixo. Teria sangrado, como podemos ver, e poderia ter possibilitado o acúmulo de água entre o pulmão e a cavidade ao mesmo tempo. Essa água, a efusão pleural, teria se formado quando o corpo foi açoitado. O pulmão teria sido forçado para trás, mas mesmo se a arma tivesse penetrado os pulmões, eles podem localizar o ferimento: Então eu perguntei: “Se o ferimento no peito não foi fatal, qual foi a causa da morte desse homem? Eles discutiram isso por uns 30 minutos até chegarem a um consenso, que foi o seguinte: se ele tivesse vivido antes do século XVI, estaria morto. Talvez ele se encontrasse inconsciente na cruz, respirando muito mal, então, para os espectadores, ele estaria morto. Era isso que eles esperavam. Depois de Harvey, eles teriam tomado seu pulso, que se encontraria quase sem batimento. Se ele tivesse vivido no século XX, teria sido atestado que estava em coma. (Hoare, 1984)

Hoare também relata que a “notável escuridão ao redor da área do nariz no Sudário pode ser explicada pela exalação mínima de ar quente, mas surpreendeu-se ao observar que as áreas do cabelo e da barba também estavam escuras, já que seriam mais frescas. Mas isso não o deteve. Ele meramente sugeriu que um segundo fator, a concentração de um agente que se desenvolveu, foi o responsável pela escuridão nas áreas da barba e do cabelo. Ele pareceu ligado à teoria da Vaporografia de Vignon. Veja o Capítulo 16 para uma discussão mais detalhada sobre Vignon.

COMENTÁRIO: Tenho muitas reservas quanto às teorias de Hoare. Em primeiro lugar, ele não tem as credenciais adequadas para reconstruir os mecanismos e a causa da morte, e também não possui o treinamento científico para comentar e/ou avaliar os aspectos médicos e científicos referentes à pesquisa do Sudário. Há muitos erros e equivocadas em seus livros que nem valem a pena ser discutidos, cos nomes e credenciais de seus supostos experts nunca foram revelados algo contrário à ciência legítima. Vários pesquisadores do Sudário incluindo eu mesmo, tentaram achar os tais Cientistas Forenses do Leste Britânico, em Nottingham, e o elusivo sr. Norman Lee, sem sucesso. Eu até consultei Ian Wilson, que me informou nunca ter conseguido descobrir a identidade dos consultores de Hoare em conseguido Nottingham.

Wilson também me disse que o professor Taffy Cameron, chefe de medicina forense do Hospital de Londres, refutou totalmente a alegação de Hoare de que o homem no Sudário não estava morto.

Já que o mecanismo e as condições para a formação da imagem ainda são desconhecidos, elusivos e altamente especulativos, apresentar uma opinião definitiva sobre a presença da morte com base nisso é contrário aos preceitos das ciências forenses e da patologia forense. Nesse ponto, não temos ideia de quais efeitos a temperatura do corpo poderia ter tido sobre a formação da imagem no Sudário. Além disso, eu não acredito na teoria de que o golpe com a lança teria sido muito alto para danificar qualquer coisa na área do peito. Os tais Cientistas Forenses do Leste Britânico tentaram demonstrar isso fazendo alguém colocar o dedo no peito no local correspondente ao ferimento observado no Sudário, estando de pé, e em seguida essa pessoa levantava o braço acima da cabeça, para mostrar que o dedo (e assim o ferimento) estaria num nível mais alto. Em primeiro lagar, isso não tem relação com a verdadeira suspensão, porque a posição do ferimento no peito quando os braços são colocados acima da cabeça quando a pessoa está de pé é diferente da posição em que a pessoa está com os braços suspensos na cruz. Nas inúmeras experiências de suspensão que observei ao longo dos anos, o torso fica numa posição mais baixa em razão do esticamento do corpo. Porém, mais importante, em minha opinião e na de muitos outros patologistas forenses que examinaram o Sudário, o corpo estava em rigor mortis quando foi colocado no tecido, impedindo qualquer mudança na posição do ferimento desde quando ocorreu a penetração da lança. Quebrar o rigor dos braços para abaixá-los não faria a área do ferimento no peito se rebaixar, porque isso não afetaria o rigor na parede do tórax e nos músculos de ligação do pescoço. Uma consideração mais importante é o ângulo do ferimento produzido pela lança, que depende de vários fatores, como quão alto o crucarius foi suspenso do chão, a altura do soldado que empunhou a lança, o local onde o soldado estava (uma colina, um monte etc.), o comprimento do cabo da lança, como a arma estava sendo segurada durante o golpe etc. Helmut Felzman, da Alemanha, tentou apoiar as teorias Hoare com a ridícula declaração de que a área nas costas da figura da medalha dos peregrinos de 1357, de Lirey, descoberta no no Sena em 1855 (atualmente encontra-se no Museu Cluny), representava uma grande quantidade de sangue no Sudário. Nenhum cientista iria concluir que o corpo estava vivo simplesmente olhando para uma medalha de peregrino (Figura 13-3). Os numerosos erros encontrados no livro de Hoare são, às vezes, ostensivos, revelando pesquisa descuidada. Eis aqui um exemplo inacreditável, encontrado na página 63 de seu livro A Piece of Cloth, de 1984:

Barbet colocou voluntários em cruzes amarrando seus pés e mãos na madeira para observar o que acontecia. Cada voluntário achou que seu peito se encontrava totalmente expandido quando seu peso foi suportado pelos braços, sem possibilidade de expirar. Nessa posição eles começaram a sufocar lentamente, e cãibras, que começaram nos braços, se espalharam por seu tronco e pernas. Como eles não podiam inalar nem soltar o ar, o oxigênio em seu sangue diminuiu e eles poderiam morrer asfixiados em questão de minutos. A única forma em que o voluntário poderia permanecer vivo seria se ele forçasse os pés para aliviar a pressão nas mãos e braços, conseguindo, assim, inspirar e expirar rapidamente, antes que entrasse em colapso devido à exausto Eventualmente, num curto espaço de tempo, o cansaço impediria o voluntário de pressionar os pés, e assim ele morreria asfixiado se não fosse solto a tempo.

A referência de Hoare para isso é Humber, The Fifth Gospel 1974,página 125. Apesar de Humber se referir ao trabalho de Barbet, ele não faz menção alguma a experiências com seres vivos página nem em qualquer outro lugar do livro. Eu estudei, ao longo dos anos, toda a literatura referente ao trabalho de Barbet, e não tenho conhecimento de nenhuma experiência que ele tenha conduzido com seres vivos.

Hugh J. Schoenfield

The Passoter Plot A New Interpretation of the Life and Death of Jesus (Element Books Ltd., 1994) foi um best-seller escrito por Hugh J. Schoenfield, com uma nova interpretação: segundo a obra, Jesus acreditava ser o Messias e deliberadamente procedeu de forma a cumprir as profecias do Velho Testamento – e para isso chegou a “fabricar” sua própria crucificação, arrumando alguém para Lhe dar drogas de forma que parecesse estar morto e, depois, Ele teria sido removido da cruz e levado à tumba para ser revivido. Resumindo, Jesus é descrito como um charlatão que planejou toda a Paixão, incluindo a Ressurreição, mas tudo deu errado quando Ele foi esfaqueado acidentalmente na cruz por um soldado romano, e sobreviveu apenas o tempo suficiente para instruir Seus seguidores.

COMENTÁRIO: O livro de Schoenfield é outra versão distorcida, seM comprovação alguma, da Teoria do Desmaio, repleto de questões não respondidas. Por exemplo, como Schoenfield explica o fato de Tomé ter colocado suas mãos nas feridas de Jesus, e, se isso fosse parte do plano, por que Tomé iria pregar o Evangelho na Índia, onde morreu como mártir? Como ele explica a passagem da primeira carta de Paulo aos Coríntios (1 Cor. 15:5-8), que relata que Jesus foi visto no terceiro dia após Sua morte por Cefas, pelos doze apóstolos e por mais de 500 pessoas ao mesmo tempo? E como Jesus teria ludibriado tantas pessoas, tendo tantas testemunhas de Sua Crucificação e a vasta disseminação do Cristianismo?

Kjell Ytrehus

Essa mais recente teoria, publicada em 2002 por um médico norueguês, Kjell Ytrehus, reza que Jesus aparentava estar morto, mas na verdade se encontrava em profundo coma por causa da hipotermia (baixa temperatura do corpo). Usando uma informação a priori, Ytrehus especula que Jerusalém fica a 500 metros acima do nível do mar, e que “numa quinta-feira à noite, no ano 33, estava tão frio que os servos do supremo sacerdote tiveram que fazer uma fogueira no pátio do jardim para se manterem aquecidos. No dia posterior à sexta-feira em que Jesus foi crucificado, o tempo estava horrível… Muitos apontam que no dia em que Jesus foi crucificado o tempo deveria estar particularmente ruim e que estava frio para permanecer suspensa por horas na cruz fincada nas alturas desimpedidas do Gólgota”. Ele tenta, então, apoiar isso com a mesma “lorota” de que Jesus estava a cruz por apenas seis horas, que a crucificação pode durar dias e que os dois ladrões ainda estavam vivos e tiveram seus ossos quebrados. E indicou que Jesus já se encontrava em péssimas condições por casa dos ferimentos, do ato de carregar a cruz, do sono e da fome, por isso, Ele se tornou “uma provável vítima de resfriamento”. Ele te apoiar essa tese alegando que Jesus não foi enterrado profundamente no chão, mas colocado numa caverna, e que Pôncio Pilatos provavelmente aceitou um pequeno suborno para deixar Jesus vivo da cruz.

COMENTÁRIO: Essa tese não tem substância, é baseada em especulação a priori, e repleta de suposições exageradas. Por exemplo, sua de que estava tão frio que os servos do sacerdote tiveram que fazer uma fogueira no jardim é obviamente retirada de Lucas 22:55: “E tendo eles acendido fogo no meio do pátio, estando todos sentados assentou-se Pedro entre eles.” Isso, porém, não pode ser aplicado a momento em que Jesus foi crucificado, já que essa passagem se refere ao noitecer, não a uma tarde em Jerusalém. Em resposta à minha questão sobre a temperatura na hora da Crucificação, postada no Grupo Yahoo de Ciência do Sudário, no dia 16 de julho de 2003, Giulio Fanti relatou:

O ambiente de Jerusalém apresenta uma temperatura média de +1°C no inverno e +33°C no verão, com excursões diárias de +/- 7,5C. Acho que você pode presumir uma temperatura média de +17°C +/-5C em abril (+5°C em caso de sol; -5°C em caso de chuva). Considerando que estamos interessados na temperatura ambiente no começo da tarde, você pode acrescentar cerca de +7°C.

Isso nos indicaria uma temperatura média de 19C (66°F) a 22-C (93°F). Ytrehus aponta que a temperatura do corpo de Jesus estava bem abaixo dos 25 °C (77°F), e que uma pessoa com essa temperatura poderia parecer sem vida. Ele fala, ainda, que foram reportados casos de pessoas com esse grau de hipotermia que foram revividas ou que voltaram espontaneamente à vida. É verdade que existem casos raros de ressuscitação em certos indivíduos usando técnicas ultramodernas e sofisticadas, mas não em pessoas que apresentassem choque e traumático, pneumotórax, efusão pleural e perfuração do átrio direito do coração, e com certeza não espontaneamente. Um caso de ressuscitação espontânea seria menos plausível. Se estivesse chovendo e ventando, Jesus poderia sofrer um certo nível de hipotermia em razão de seus ferimentos e de sua nudez, mas isso é apenas uma grosseira especulação na tentativa de corroborar a hipótese de Ytrehus. Ele tenta apoiar sua desconsiderando o ferimento com a lança, porque “gente morta não sangra”, e então diz que não houve perfuração no peito, atribuindo o sangue no Sudário a uma bolha de sangue no local. Essa hipótese, porém, não considera o componente água no “fenômeno sangue e água”. Cheque a hipótese 11 na seção intitulada Sangue e Água. Como foi apontado, o sangue e a água são facilmente explicados pela retirada da lança; água por causa da maciça efusão pleural, e sangue resultante da penetração no átrio direito.

Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln

Os dois best sellers desses autores, O Santo Graale a Linhagem Sagrada sua sequência O Legado Messiânico, tem sido largamente citados para apoiar o conceito de que Jesus não morreu na cruz. O Santo Graal e a Linhagem Sagrada diz que Jesus fingiu Sua crucificação, casou-se Maria Madalena, gerou uma família de várias crianças e se mudou para o sul da França, onde sua suposta descendência merovíngiaexiste até hoje. O livro mais se assemelha a uma novela de mistério, e também envolve cavaleiros templários e o Priorado de Sião, uma sociedade altamente secreta cujos membros seriam os supostos guardiães do Santo Graal.

COMENTÁRIO: Esses livros são mencionados aqui só para mostrar que se trata de obras de ficção, e não oferecem argumento crível de que Jesus não morreu na cruz. Há, na verdade, um desrespeito à fidedignidade histórica dos Evangelhos nessas obras, e muito do material mostra-se contrário aos preceitos do Cristianismo. O Legado Messiânico é mais ou menos uma continuação de O Santo Graal e a Linhagem Sagrada.

Dan Brown

O Código do Da Vinci liderou a lista de best-sellers por um bom tempo e vendeu mais de 3 milhões de exemplares. O livro indica que Jesus morreu na cruz, mas havia se casado com Maria Madalena, que estava grávida na época. Eu incluí o livro por sua similaridade com O Santo Graal e a Linhagem Sagrada e O Legado Messiânico no que se refere casamento de Jesus com Maria Madalena e Sua mudança para a França estabelecendo a família real merovíngia, O Código da Vinci refere-se à mensagens crípticas que foram supostamente incorporadas por Leonardo da Vinci (um suposto membro da sociedade conhecida como Priorado de Sião) em suas pinturas, como A Santa Ceia. Uma parte importante do código alega que Maria Madalena, e não João, está presente na representação da Santa Ceia feita por Da Vinci. Brown indica que o Santo Graal não é um vaso no sentido material, e desenvolve uma nova interpretação para o Graal. Ele sugere que Maria Madalena possuía sangue real da Casa de Benjamim e que ela era, na verdade, o Santo Graal – o vaso referido como o “sagrado feminino” que carregou os filhos de Jesus- e que seria a sucessora de Jesus, e não Pedro. Brown também cita informações de vários livros, incluindo O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, de Baigent, Leigh e Lincoln, Maria Madalena e o Santo Graal: A Mulher do Vaso de Alabastro e The Goddess in the Gospels the Sacred Feminine, de Margaret Starbird; e mesmo A Revelação dos Templários: os Guardiães Secretos da Verdadeira Identidade de Cristo de Picknett e Prince. Existem muitos outros aspectos ficcionais no livro.

COMENTÁRIO: Embora no relato de Brown Jesus tenha morrido na cruz, seu livro é citado aqui somente para mostrar que ele é essencialmente ficcional e contém inúmeras falácias, erros e inconsistências não apoiadas por evidências históricas ou relativas às Escrituras.

Mandrágora e outras drogas

Durante a temporada da Páscoa de 2002, a British Broadcasting Company (BBC) lançou a série “O Filho do Homem”, e o Discovery Channel exibiu o mesmo programa com ligeiras modificações, sob o título “Jesus, o Homen?”. A série incluía um episódio em que a curadora do Chelsea Physick Garden de Londres postulava que a esponja contendo a pasta (uma bebida não alcoólica ingerida pelos soldados romanos) que foi servida a Jesus na cruz estaria misturada com a planta mandrágora, levando-O a um sono profundo ou a um estado de transe, dando a todos a impressão de que Ele havia morrido na cruz; Ela baseou sua teoria em relatos sobre o uso da mandrágora como anestésico no século I, por Dioscórides, um médico do exército, botânico e Pai da Matéria Médica da Ásia Menor, que viajou com os exércitos grego e romano.

COMENTÁRIO: A planta mandrágora, Mandragora officinarum, também conhecida, nos Estados Unidos, como “maçã do diabo”, “maçã de Satã” e “raiz de feiticeiro”, possui uma história ubíqua de usos, incluindo magia negra, amuleto amoroso, cura para hidrofobia, reumatismo e epilepsia; e, ainda, como emético, afrodisíaco, antisséptico, analgésico, poção do sono ou para prevenir doença motora. Seu uso data de antes de Cristo. Os ingredientes ativos incluem hioscina, conhecida medicina como escopolamina; hiosciamina e um alcaloide conhecido com mandragorina. Pequenas doses diminuem a taxa cardíaca; doses maiores têm o efeito contrário. Altas doses também podem causar sonolência, arritmia, paralisia muscular, agitação, fadiga, confusão, tontura, alucinações, delírio, pupilas dilatadas, vermelhidão da pele, e podem facilmente provocar a morte por paralisia respiratória. A forma purificada do componente escopolamina tem sido usada na medicina moderna por anestesistas como pré-medicação, em virtude de seus efeitos sedativos e para prevenir que o coração se torne mais lento por causa dos anestésicos. Ela é normalmente combinada a um narcótico antes de seu uso como anestésico principal. Porém, muitos anestesistas abandonaram seu uso como pré-medicação em razão de seus efeitos adversos. Embora tenha efeitos sedativos, essa substância não é propriamente anestésica, portanto, também não é um narcótico.

E importante entender que, embora a mandrágora e outras drogas como o ópio tenham sido usadas como sedativo e analgésico por médicos pioneiros como Dioscórides e por cirurgiões nos primeiros séculos, contra a dor, para induzir o sono e, em altas doses, para aliviar a dor e sedar pacientes antes de um procedimento cirúrgico, os efeitos dessas drogas comparados aos dos narcóticos modernos eram relativamente brandos. Até a Idade Média, esponjas contendo componentes de mandrágora, ópio e um sem número de outras plantas medicinais eram posicionadas nas narinas dos pacientes durante as cirurgias. Porém, evidências mostram que mesmo os principais cirurgiões da época duvidavam de sua eficiência, porque eles amarravam seus pacientes antes da cirurgia. Em vista desses fatos, uma pergunta deve ser formulada: “Será que um preparado de mandrágora dado a Jesus na cruz seria capaz de deixá-Lo inconsciente a ponto de todos acharem que Ele estaria morto?” A resposta é “de jeito nenhum!”. Jesus foi vítima das dores mais terríveis que um homem poderia sofrer. A hioscina e a hiosciamina contidas na mandrágora não aliviariam esse grau de dor, especialmente com o peso do corpo sendo sustentado pelos pregos. A extensão e o grau da dor teriam tornado o corpo de Jesus imune aos efeitos sedativos da mandrágora. Altas doses de um preparado com a planta anulariam os efeitos sedativos, aumentando a agitação e a confusão, e poderiam ser letais, considerando o grau de choque que Jesus estava experimentando (veja o Capítulo 9). Essa teoria da mandrágora é totalmente implausível, dada a magnitude da dor e do sofrimento de Jesus. Em minha opinião, se tivessem dado mandrágora a Jesus, em vez de aliviar Sua dor ou levá-Lo a um estado de sono profundo ou ela apressaria Sua morte.

Falando hipoteticamente, se por um estranho evento Jesus tivesse sobrevivido à crucificação e não tivesse sido golpeado pela lança, ainda haveria problemas com a teoria da mandrágora. Quando Maria Madalena foi até a tumba, Jesus estava de pé. Na mesma tarde, Ele apareceu perante os discípulos, ressurgiu de novo oito dias depois e novamente no Mar de Tibério. Ele andou com dois discípulos pela estrada de Emaús (cerca de 11 quilômetros de Jerusalém). Seria impossível caminhar nas péssimas condições físicas em que Jesus se encontrava (veja os Capítulos 1 a 4). Além dos ferimentos sofridos antes da cravação na cruz, a penetração dos pregos de 12 centímetros de comprimento em seus pés teria provocado inchaço e indescritível dor, com os efeitos se manifestando na primeira hora e aumentando progressivamente. Nos próximos dois dias, os pés teriam inchado tremendamente e estariam tão infeccionados que não haveria chance de cura por meio de nenhum tipo de terapia. Jesus não poderia ficar de pé nem andar por pelo menos um mês, se não mais.

AVALIAÇÃO FORENSE DA TEORIA DO DESMAIO

No geral, a Teoria do Desmaio é completamente infundada e pode ser refutada pelos seguintes fatores: em primeiro lugar, a condição física de Jesus era grave. A extensão e gravidade de Seus indicam que Ele não teria sobrevivido à crucificação. Em segundo lagar, nenhum medicamento ou droga daquela época seria capaz de cessar as excruciantes dores que Jesus experimentava, e nenhuma dessas drogas poderia colocá-Lo em sono profundo para que Ele fingisse estar morto, devido a Suas condições. Além disso, as Escrituras dizem que Jesus apareceu perante Maria Madalena e Seus discípulos várias vezes e caminhou com dois deles na estrada para Emaús. Isto não sido possível, por causa da condição deteriorada de Seus pés. Levaria um mês ou mais para que Seus pés inchados e infeccionados sarassem de forma que Ele pudesse caminhar ou mesmo ficar de pé. Os autores que usaram o Sudário como evidência de que Jesus estava vivo depois de Sua remoção da cruz eram ignorantes ou desprezaram elementos médicos e científicos que evidenciam o contrário. Além disso, a presença de rigor mortis, percebido no Sudário e reconhecido por renomados patologistas forenses e gerais, atesta isso.”

ZUGIBE, M.D, Ph.D. Frederick T.  A Crucificação de Jesus: As Conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal. São Paulo: MATRIX, 2008, pág. 182-207.