Tradição Hermética

“Já no século XVIII. o interesse pelo enciclopedismo, pelas histórias universais e pelas religiões e mitos comparados deu origem a um conglomerado eclético de egipcismo, egiptomania, orfismo, pitagorismo, cabala, paracelsismo, alquimia e rosacrucianismo, sob a designação de hermético. Formou-se, então, uma corrente que denominava hermético todo aquele conjunto de tradições filosóficas e religiosas.”

TRISMEGISTOS, Hermes. Corpus Hermeticum graecum, São Paulo:Ed. Cultrix, 2023, Pág. 26.

Introdução

Espírito moderno

“Se o “espírito” era “moderno”, ele o era na medida em que estava determinado que a realidade deveria ser emancipada da “mão morta” de sua própria história — e isso só poderia ser feito derretendo os sólidos (isto é, por definição, dissolvendo o que quer que persistisse no tempo e fosse infenso à sua passagem ou imune a seu fluxo). Essa intenção clamava, por sua vez, pela “profanação do sagrado”: pelo repúdio e destronamento do passado, e, antes e acima de tudo, da “tradição” — isto é, o sedimento ou resíduo do passado no presente; clamava pelo esmagamento da armadura protetora forjada de crenças e lealdades que permitiam que os sólidos resistissem à “liquefação”. Lembremos, no entanto, que tudo isso seria feito não para acabar de uma vez por todas com os sólidos e construir um admirável mundo novo livre deles para sempre, mas para limpar a área para novos e aperfeiçoados sólidos; para substituir o conjunto herdado de sólidos deficientes e defeituosos por outro conjunto, aperfeiçoado e preferivelmente perfeito, e por isso não mais alterável.”

BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida, Ed. Zahar, Local: 83.

Prefácio

Ser leve e líquido

O Ritual de Redenção

“Essa tradição secreta revela que Deus, a quem a maioria dos cristãos venera, de modo ingênuo, como criador, e Pai, é, na verdade, apenas a imagem do verdadeiro Deus. Segundo Valentino, que Clemente e Inácio descrevem de forma equivocada como Deus na realidade aplica-se apenas ao creator. Valentino, seguindo Platão, utiliza o termo grego para “criador” (demiurgos),  sugerindo um ser menos divino que serve como instrumento de poderes superiores. Não é Deus, explica, porém o demiurgo que governa como rei e senhor, e age como comandante militar,  que legisla e julga aqueles que infringem sua lei  -em suma, ele é o “Deus de Israel”.

(…)

Ao atingir essa gnosis – essa sabedoria- o candidato  está pronto para receber o sacramento secreto conhecido como o sacramento da redenção.

O ritual de redenção, que mudava de forma dramática a relação do iniciado com o demiurgo, modificava, ao mesmo tempo, sua relação com o bispo. Antes, o fiel aprendia a se submeter ao bispo “como ao próprio Deus”, pois, como lhe fora dito, o bispo governa, comanda e julga “no lugar de Deus”. Agora, porém, vê que essas restrições aplicam-se apenas a crentes ingênuos que ainda temem e servem o demiurgo.”

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 40-41.

Capítulo: 2- “Um Deus, Um Bispo”: A Política do Monoteísmo.

Maturidade Espiritual

“Os autores gnósticos quase sempre atribuem sua tradição a pessoas externas ao círculo dos 12 – Paulo, Maria Madalena e Tiago.

(…)o que os gnósticos celebram como prova de maturidade espiritual, os ortodoxos denunciam como “desvio” da tradição apostólica. Tertuliano acha uma afronta que

…cada um deles, como convém a seu próprio temperamento,
faça alterações na tradição recebida como aquele que a transmitiu a modificou quando moldou a tradição segundo sua própria vontade. * (Tertuliano, De Praescriptione Haereticorum 42 D · diante citado como DE PRAESCR.)

A conformidade com a doutrina definiu a fé ortodoxa. O bispo Irineu declara que a igreja católica

acredita nesses pontos da doutrina como se tivesse apenas uma alma e um único e mesmo coração, que proclama e ensina em perfeita harmonia (…) Porque, embora as línguas do mundo sejam diferentes, o significado da tradição é igual e único, pois as igrejas na Alemanha não acreditam nem transmitem nada diferente, nem as da Espanha, nem as da Gália, nem as do Oriente, nem as do Egito, nem as da África, nem as estabelecidas em regiões centrais do mundo.* Irineu, AH 1.10.2.

PAGELS, Elaine. Os Evangelhos Gnósticos. Editora Objetiva, 1979, pág. 23-26.

Capítulo: 1- A Controvérsia Sobre a Ressurreição de Cristo: Acontecimento Histórico ou Símbolo?

Sabedoria do Criador

“A gênese de todas as religiões da humanidade tem suas origens no seu coração augusto e misericordioso. Não queremos, com as nossas exposições, divinizar, dogmaticamente, a figura luminosa do Cristo, e sim esclarecer a sua gloriosa ascendência na direção do orbe terrestre, considerada a circunstância de que cada mundo, como cada família, tem seu chefe supremo, ante a justiça e a sabedoria do Criador.”

(…)

“A verdade é que todos os livros e tradições religiosas da Antiguidade guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento. Todas se referem ao Deus impersonificável, que é a essência da vida de todo o universo, e no tradicionalismo de todas palpita a visão sublimada do Cristo, esperado em todos os pontos do globo.”

Xavier, Francisco Cândido / Emmanuel. A Caminho da Luz. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 2016, p. 75-76.

Tradição Oral

“Dada a ausência da escrita, naquelas épocas longínquas, todas as tradições se transmitiam de geração a geração através do mecanismo das palavras. Todavia, com a cooperação dos degredados do sistema da Capela, os rudimentos das artes gráficas receberam os primeiros impulsos, começando a florescer uma nova era de conhecimento espiritual, no campo das concepções religiosas.”

Nota Pessoal: O salto da tradição oral para a escrita

(…)

“Suas vozes enchem todo o âmbito das civilizações que passaram no pentagrama dos séculos sem-fim e, apresentado com mil nomes, segundo as mais variadas épocas, o cordeiro de Deus foi guardado pela compreensão e pela memória do mundo, com todas as suas expressões divinas ou, aliás, como a própria face de Deus, segundo as modalidades dos mistérios religiosos.”

Xavier, Francisco Cândido / Emmanuel. A Caminho da Luz. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 2016, p. 73-74.

Os Quatro Grupos de Base

“As tradições do paraíso perdido passaram de gerações a gerações, até que ficassem arquivadas nas páginas da Bíblia.”

(…)

“Aqueles seres decaídos e degradados, à maneira de suas vidas passadas no mundo distante da Capela, com o transcurso dos anos, reuniram-se em quatro grandes grupos que se fixaram depois nos povos mais antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e linguísticas que os associavam na constelação do Cocheiro. Unidos, novamente, na esteira do tempo, formaram desse modo o grupo dos árias, a civilização do Egito, o povo de Israel e as castas da Índia.”

(…)

“As quatro grandes massas de degredados formaram os pródromos de toda a organização das civilizações futuras, introduzindo os mais largos benefícios no seio da raça amarela e da raça negra, que já existiam.”

(…)

“Tendo ouvido a palavra do divino Mestre antes de se estabelecerem no mundo, as raças adâmicas, nos seus grupos insulados, guardaram a reminiscência das promessas do Cristo, que, por sua vez, as fortaleceu no seio das massas, enviando-lhes periodicamente os seus missionários e mensageiros. Eis por que as epopeias do Evangelho foram previstas e cantadas alguns milênios antes da vinda do sublime Emissário.”

Xavier, Francisco Cândido / Emmanuel. A Caminho da Luz. Federação Espírita Brasileira, Brasília, 2016, p. 31-32.

Significado da Palavra Caibalion

Nota de Rodapé:

“(2) A palavra Caibalion na linguagem secreta significa tradição ou preceito manifestado por um ente de cima. “

Três Iniciados. O Caibalion: Estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e da Grécia. Editora Pensamento: São Paulo, 2018, pág. 13.