“Correspondência Astrológica: Câncer.
A carta sete completa a primeira linha horizontal dos Arcanos Maiores e sina-liza a conquista, ou triunfo, do primeiro nível dessa jornada.
(…) ele significa vitória.
Triunfante (…) Vitória (…) A carruagem quadrada significa o trabalho realizado pela vontade, que superou todos os obstáculos, esses simbolizados pelas quatro colunas que sustentam o dossel estrelado, os quatro elementos devidamente conquistados. As duas esfinges, uma branca e uma preta, simbolizam o Bem e o Malum conquistado e outro, vencido ambos se tornando servos do Mago que triunfou so- bre suas provações.
O Carro. Triunfo, vitória, superação de obstáculos. (…) Triunfo da razão.
A versão Rider, de fato, dá à carruagem da carta um formato de cubo, tanto que se assemelha a um bloco de concreto (…)
Podemos recordar as sete esferas planetárias, as se te notas musicais, os sete chacras, as sete cores do arco-íris mas também sete aberturas no corpo masculino, o que faz do Carro uma carta pani aularmente masculina. A Força, a carta seguinte, ao contrário, nos mostra um tipo de poder feminino, assim como o corpo feminino que contém oito aberturas. Paul Christian reflete sobre a carruagem “quadrada” e as quatro colunas. Esse uso duplo do número quatro indica manifestação, ou seja, a ideia de realizações no mundo fisico.
Sejam cavalos ou esfinges, uma criatura sendo preta e outra branca representa a dualidade e todas as contradições e dificuldades de nossas vidas. Platão descreveu a mente como uma carruagem puxada por um cavalo preto e branco.
Por ter “triunfado sobre suas provações”, o mago faz da própria dualidade seu “servo”.
Isso introduz o tema da vontade(…) e o Carro nos mostra a pessoa que aprendeu a usar essa vontade para lidar com os desafios da vida prática.
Na maioria das versões des sa carta, não há redeas. É unicamente por sua vontade que ele impede os cavalos ou esfinges de partirem em direções opostas, destruindo tudo que ele construiu ou conquistou.
(…) veículo para a vontade divina.
(…)na versão Rider. Nela, ocondutor segura uma vara longa como a varinha de um Mago – embora mantida baixa, sob seu controle, não erguida. Por sua vez, A Sacerdotisa aparece nas esfinges em preto e branco; A Imperatriz, no dossel de estrelas acima de sua cabeça, O Imperador, no cubo de pedra do próprio Carro. A posição das esfinges lembra os discipulos do Hierofante, enquanto Os Amantes aparecem sutilmente no círculo alado – como o anjo sobre Adão e Eva acima da imagem, como as dualidades nos ombros do condutor.
(…)podemos citar uma imagem mais esotérica: a visão de Ezequiel da carruagem divina (Ezequiel 1:1-28).
As esfinges sugeridas pela primeira vez por Paul Christian evocam ai da outro mito vital, o de Edipo. Na história, Edipo foge de seu lar porque o Oráculo de Delfos – veja O Mago para o contraste entre oráculos e adi vinhação – vaticinou que ele mataria seu pai e se casaria com sua mãe. Em uma encruzilhada – um lugar “onde três estradas se encontram” -, Edipo encontra um homem arrogante em uma carruagem e o mata. Ele continua sua jornada até chegar à cidade de Tebas, onde encontra o povo em grande aflição. Uma esfinge, uma criatura híbrida, meio mulher, meio leão, se instalou na praça da cidade, exigindo dos transeuntes que respondam seu enigma. Quando falham, a esfinge os devora. O próprio rei de Tebas deixou a cidade para pedir ajuda a Delfos, mas não voltou, deixando as pessoas desesperadas.
O enigma da esfinge é o mais famoso de toda a literatura: “Que criatura anda sobre quatro pés pela manhã, dois à tarde e trés à noite?”. Edipo responde corretamente a ele: “É o homem, que engatinha quando bebê, anda ereto quando adulto e usa bengala na velhice”. Furiosa, a esfinge se mata, e os te banos, muito felizes com o estrangeiro, dizem ao salvador que, como o rei não voltou de sua missão, é seu desejo que Édipo os governe. Afinal, ele é o mais sabio dos homens, pois compreende como ninguém o que é um ser hu mano. Para dar legitimidade ao seu governo, os tebanos sugerem que Edipo se case com sua rainha.
A essa altura, aqueles leitores que não conhecem a história já terão adivinhado o segredo. O homem que ele matou na estrada era seu pai, o rei Laio quanto à rainha de Tebas, Jocasta, era sua mãe. Embora soubesse muito, Edipo desconhecia o mistério mais crucial de todos, sua própria origem. Esse é o paradoxo da carta 7, O Carro ser bem-sucedido, ter enfrentado os desafios das cartas anteriores, ser admirado e ter orgulho de suas conquis cas, mas não saber nada sobre a verdade suprema de si mesmo e do cosmos. Na segundo nível de sua jornada, o Louco de fato conhecerá a si mesmo ou asi mesma e, no terceiro nivel, sua gnose o conhecimento – se estenderá à própria realidade.
(…)o Carro significa, acima de tudo, sucesso, sobretudo aquele al- cançado pelo exercicio de sua vontade no mundo. (…) sucesso, orgulho merecido, admiração dos outros, conforto.
Se a leitura diz respeito a um projeto específico, o Carro torna-se um bom pressagio (…)
0. (O Louco) No que estou me metendo neste momento de minha vida?
1. (O Mago) Onde está a minha energia, a minha magia?
2. (A Sacerdotisa) O que está secreto, oculto ou não dito?
3. (A Imperatriz) Qual é a minha paixão?
4. (O Imperador) Quais são as regras (possivelmente ocultas ou inconscientes)?
5. (O Hierofante) Qual é o caminho traçado para mim?
6. (Os Amantes) Como expresso minha paixão?
7. (O Carro) Para onde tudo isso está indo?”
POLLACK, Rachel.Bíblia Clássica do Tarot, Darkside, 2023, Pág.133-140.