Um método de interpretação psicológica

“O sonho é a melhor expressão que existe para os acontecimentos interiores, podendo-se dizer o mesmo com relação aos mitos e aos contos de fada.

(…) quem sonhou é como alguém que tem uma enorme conta bancária e não sabe disso, ou perdeu sua chave de segu- rança, ou o número de depósito. Então, qual a vantagem de tê-la?

(…)

Da mesma forma que no sonho, nós dividimos a história arquetípica em vários aspectos, começando com a exposição (tempo e lugar). Em contos de fada o tempo e lugar são sempre evidentes porque eles começam com “Era uma vez” ou algo semelhante, que significa fora de a “terra de ninguém” do inconsciente tempo e de espaço coletivo. Por exemplo:

“Muito mais adiante do fim do mundo e mesmo além das montanhas dos Sete Cães, havia uma vez um rei…”.

“Na extremidade da terra, lá onde o mundo termina com

um muro…

“Na época em que Deus ainda caminhava sobre a terra…”

Há muitas maneiras poéticas de expressar essa “terra de ninguém”, esse tempo de “era uma vez”, que, a partir de M. Eliade, muitos mitólogos chamam de illud tempus, que é essa eternidade atemporal de agora e de sempre.

Então, tomemos as dramatis personae (as pessoas envolvidas). Eu recomendo contar o número de pessoas que aparecem no começo e no fim da história. Se o conto começa: “O rei tinha três filhos”, nota-se que há quatro personagens e que a mãe está sendo omitida.”

Agora, nós continuamos com a exposição, ou seja, com o início do problema.(…) Algum problema sempre aparece no início da história obviamente, porque se assim não fosse, não haveria história. Então define-se o problema psicologicamente e procura-se também entender sua natureza.

Em seguida, tem-se a peripeteia, que pode ser curta ou longa — os altos e baixos da história.(…) e então geralmente se al- cança o clímax, o ponto decisivo, onde ou todo enredo se desenvolve para uma tragédia ou ao contrário, dá tudo certo. Este é o ponto alto da tensão. Então, com raras exceções, há uma conclusão feliz ou catastrófica.”

 

FRANZ, Marie-Louise von. A interpretação dos contos de fadas. São Paulo: Paulus, 2022, pág. 56-59.

3.Um método de interpretação psicológica

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