Uma mulher provinha de meu íntimo

“Sentia-me extremamente interessado pelo fato de que uma mulher, que provinha de meu íntimo, se imiscuísse em meus pensamentos. Refleti que provavelmente se tratava da “alma”, no sentido primitivo do termo, e perguntei a mim mesmo por que a alma foi designada com o nome de anima. Por que é representada como sendo feminina? Compreendi mais tarde que esta figuração feminina em mim correspondia a uma personificação típica ou arquetípica no inconsciente do homem, designei-a pelo termo de anima. À figura correspondente, no inconsciente da mulher, chamei animus.

Depois, tentei outro modo de relação, considerando as anotações de minhas fantasias como cartas dirigidas a ela. Escrevia, por assim dizer, a uma parte de mim mesmo, cujo ponto de vista era diferente da minha atitude consciente… e recebia para minha grande surpresa respostas bastante extraordinárias. Tinha a impressão de ser um paciente em análise junto a um espírito feminino! Todas as noites dedicava-me a essas notas, pois pensava: se não escrever à anima, ela não compreenderá minhas fantasias. Havia, entretanto, um outro motivo que me levava a essa tarefa assídua. Uma vez escritas, as coisas não podiam ser deformadas pela anima, nem poderia ela tecer intrigas. Nisto reside a grande diferença entre relatar mentalmente uma coisa e escrevê-la. Em minhas “cartas” eu tentava ser tão honesto quanto possível, inspirando-me no velho ditame grego: “Abandona o que possuis e receberás.”

 

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 3436-3443.

Confronto com o inconsciente

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

Facebook
Twitter
Pinterest

QUER MAIS?

Si mesmo

“SI MESMO — É o arquétipo central da ordem, da totalidade do homem, representado simbolicamente

Leia mais

Psicoide

“PSICOIDE — “Semelhante à alma”, “quase psíquica”. Assim Jung caracteriza a camada profundíssima do inconsciente

Leia mais