Viagem para os Estados Unidos

“Nossa viagem para os Estados Unidos, começada em Bremen em 1909, durou sete semanas. Estávamos juntos todos os dias e analisávamos nossos sonhos. Nessa época, tive alguns sonhos importantes; Freud, entretanto, não os conseguia penetrar. Não o censurei por isso, pois pode acontecer ao melhor analista não poder resolver o enigma de um sonho. Era uma falha humana que jamais me teria incitado a interromper nossas análises oníricas. Pelo contrário, elas eram muito importantes, e eu considerava nossa relação extremamente preciosa. Vi em Freud o homem mais velho, mais maduro, mais experimentado e, em mim, seu filho. Ocorreu, então, um acontecimento que representou um rude golpe para a nossa relação. Freud teve um sonho, cujo conteúdo não posso revelar. Interpretei-o mais ou menos, acrescentando que poderia talvez adiantar algo mais, se ele me desse alguns detalhes suplementares, relativos à sua vida particular. Tal pedido provocou em Freud um olhar estranho — cheio de desconfiança —, e ele disse: “Não posso arriscar minha autoridade!” Nesse momento, entretanto, ele a perdera! Esta frase ficou gravada em minha memória. Prefigurava já, para mim, o fim iminente de nossas relações. Ele punha sua autoridade pessoal acima da verdade.”

 

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 2960.

Sigmund Freud

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