“(…) a manifestação numa forma humana demonstraria a possibilidade de relação consciente, ao passo que uma forma não humana, ou uma forma de poder natural, é apenas um fenômeno e só podemos relacionar-nos com ele como tal. Obviamente, seja o Divino o que for, possui ambos os aspectos e isso tem sido mantido na maior parte das teologias.

(…) Se sonharmos com um arquétipo em forma humana, isso significa que podere-mos, em certa medida, encarná-lo. Ele poderá manifestar-se em nós, e poderá expressar-se por nosso intermédio essa é a ideia do Cristo interior. Se sonhamos com um velho sábio, então pode acontecer que nos vejamos numa situação impossível, quando nos é feita uma pergunta impossível, mas, de súbito, uma resposta perfeita venha até nós! Se formos honestos, sentir-nos-emos obrigados a admitir depois que não éramos nós que estávamos falando. “Aquilo” falou por nosso intermédio e não poderemos afirmar que tivemos tal pensamento. Foi o velho sábio que se manifestou em nós, alguém ou alguma coisa que não é idêntico ao ego, mas é útil numa situação dificil.

PERGUNTA: Por que negar, necessariamente, a identificação com o ego?

DRA. VON FRANZ: Porque se identificamos ficamos pretensiosos, arrogantes. Devemos ser honestos a esse respeito. Se realizamos um esforço mental, podemos dizer que foi o nosso pensamento, mas aconteceu-me, por vezes, dizer alguma coisa e depois as pessoas citarem as minhas palavras dizendo que elas salvaram as suas vidas. Se sou honesta, respondo que não me dera conta do que estava dizendo, mas que disse apenas o que me ocorreu, e aconteceu que isso foi algo muito mais sensato do que qualquer coisa que eu pudesse ter pensado. Mas ainda que se faça um esforço e subjetivamente se tenha a sensação de que dissemos o que pensamos, na realidade isso veio do inconsciente, pois sem a sua cooperação nada podemos produzir.”

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 49-51.

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