” A extractio animae, a extração da alma, significa, em lingua gem química, uma destilação.
(…) temos de reduzir tudo a cinzas, a substância mais seca da terra. Se alguma vez você despejar água sobre cinzas, saberá quanto pode ser absorvido; por isso eles dizem que tudo tem de ser convertido em cinzas para se ter a certeza de que a umidade destrutiva abandonou completamente a substância; depois, deve-se despejar água pura sobre a substância a fim de lhe devolver a forma sólida.
Esparzir água sobre as cinzas pulverizadas seria alimentá-las com água fresca. Isso corresponde ao nosso trabalho analítico, pois é, com efeito, o que fazemos quando expulsamos a umidade corruptível que, em linguagem prática, significa todas as espécies diferentes de inconsciência, todos os pontos cegos e inconscientes que estorvam a existência plena. Ignoramos de quantas maneiras somos estorvados em nossa plenitude vital por suposições e sentimentos inconscientes. Isso é algo mais óbvio à outra pessoa do “que ao indivíduo em questão; no entanto, se tal ponto inconsciente é discernido numa outra pessoa, essa pessoa dirá: “Mas eu pensei…” pois algo foi pressuposto.
Este é um dos milhares de possíveis exemplos do que significa a inconsciência corruptível. O sentimento inconsciente, ou pensar de certo modo, é uma umidade corruptível de que não nos damos conta, e o objetivo do trabalho é cozinhar toda ela até que seja eliminada. Os sonhos localizam e assinalam o fato e, interpretando e integrando o que eles dizem, livramo-nos lentamente dessa umidade. Porém, se prosseguirmos por tempo demais, se superanalisarmos, perderemos certo momento decisivo no processo, que só deveria prosseguir por um determinado período de tempo, visto que, se este for excessivamente prolongado, as pessoas perderão a espontaneidade.
(…) Mas por que não sentir antipatia por alguém? Superanalisar, prolongar excessivamente o processo, cria uma segunda neurose, uma doença muito geral e muito difícil de curar. Naturalmente, é também uma espécie de inconsciência.”
VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 374-376.
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