A espontaneidade consciente

“(…) o paradoxo que tem de ser alcançado: a espontaneidade consciente. Isso é ser espontâneo, mas com um ligeiro retardamento. A consciência torna-se algo como uma espontaneidade retardada. Formulado em termos práticos: suponhamos que a pessoa se encontra numa situação em que se enfurece e pretende dar vazão à sua cólera, porque isso é o que ela sente espontaneamente vontade de fazer, e não pretende constranger-se. No entanto, não é como uma explosão de cólera, pois nesse caso a cólera toma conta da pessoa e a leva a perder o controle. Pelo contrário, a pessoa mantém as rédeas na mão. Ela para, conta um minuto, diz Sim ou Não a isso, o tempo é medido e então extravasa a sua emoção. Temos aí o paradoxo da espo-taneidade consciente.

(…)

Por exemplo: ele tinha um chefe terrível em sua um militar rude, que gostava de gritar profissão, com as pessoas se o trabalho não fosse apresentado pontualmente. Tratava os subordinados como cachorros, o que naturalmente tinha um efeito castrador sobre os outros homens. O sentimento espontâneo do meu analisando era revidar na hora, mas esse tipo de coisa ele não podia fazer. Ele sempre disse que o seu chefe devia ser uma figura de sombra para ele e analisava sempre a agressividade do tal sujeito. Assim, saltar na água significou, entre outras coisas, ser agressivo, mas no momento certo porque ele poderia ter agredido esse homem e pô-lo fora de combate, e fazer isso ao seu próprio chefe não seria uma boa coisa, pois dependia dele para continuar ganhando a vida! Isso tinha de ser feito da maneira certa. Assim, certo dia, o meu analisando respondeu-lhe também gritando que não estava disposto a ser tratado daquele jeito, levantou-se, saiu da sala e bateu a porta com estrondo.

O resultado foi que o chefe o convidou para jantar, disse ao meu analisando que ele era um homem de verdade e os dois ficaram amigos. Esse foi o resultado de, pelo menos uma vez, saltar para dentro da água e viver, em vez de analisar sempre a própria agressividade e o horror de sua sombra agressiva – mas isso tinha de ser feito conscientemente, pois sua reação espontânea, primitiva, teria sido esmurrar o homem até lhe saltarem os dentes, o que teria sido um pouquinho exagerado!”

 

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 391-392.

8a Palestra | Aurora Consurgens

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

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