Uma obra coletiva

“(…) Jung deixou-se convencer Impôs duas condições. Primeiro, que o livro não fosse uma obra individual, mas sim coletiva, realizada em colaboração com um grupo dos seus mais íntimos seguidores por meio dos quais tentava perpetuar seus métodos e ensinamentos; segundo, que me fosse destinada a tarefa de coordenar a obra e solucionar quaisquer problemas que surgissem entre os autores e os editores.

Para não parecer que esta introdução ultrapassa os limites da mais razoável modéstia deixem-me logo confessar que esta segunda condição me gratificou mas moderadamente. Pois logo tomei conhecimento de que o motivo de Jung me haver escolhido fora, essencialmente, por considerar-me alguém de inteligência regular, e não excepcional, e também alguém sem o menor conhecimento aprofundado de psicologia Assim, para Jung, eu seria o “leitor de nível médio” deste livro; o que eu pudesse en tender haveria de ser inteligível para todos os interessados; aquilo em que eu vacilasse possivelmente pareceria dificil ou obscuro para alguns.

Depois de muita discussão concordou-se que o tema geral deste livro seria o homem e seus símbolos. E o próprio Jung escolheu como seus colaboradores a dra. Marie Louise von Franz, de Zurique, talvez sua mais íntima confidente e amiga, Po dr. Joseph L. Henderson, de são Francisco, um dos mais eminentes e creditados junguianos dos Estados Unidos; a sra. Aniela Jaffe, de Zurique, que além de ser uma experiente analista, foi secretária particular de Jung e sua biografa; e o dr. Jolande Jacobi, que é, depois de Jung, o autor de maior número de publicações do círculo junguiano de Zurique. Estas quatro pessoas foram escolhidas em parte devido ao seu conhecimento e prática nos assuntos específicos que lhes foram destinados, mas também porque Jung confiava totalmente no seu trabalho escrupuloso e altruista, sob a sua direção, como membros de um grupo. Coube a Jung a responsabilidade de planejar a estrutura geral do livro, supervisionar e dirigir o trabalho de seus colaboradores e escrever, ele próprio, o capitulo fundamental: “Chegando ao inconsciente.”

O seu último ano de vida foi praticamente dedicado a este livro; quando faleceu em junho de 1961, a sua parte estava pronta (terminou-a apenas dez dias antes de adoecer definitivamente) e já aprovara o esboço de todos os capítulos dos seus colegas.

Depois de sua morte, a dra. Von Franz assumiu a responsabilidade de concluir o livro, de acordo com as expressas instruções de Jung.

(…) Mas a sua mais notável contribuição ao conhecimento psicológico é o conceito de inconsciente não como uma espécie de “quarto de despejos” dos desejos reprimidos (como é para Freud), mas como um mundo que é parte tão vital e real da vida de um indivíduo quanto o é o mundo consciente e “meditador” do ego. Além de infinitamente mais amplo e mais rico. A linguagem e as “pessoas” do inconsciente são os símbolos, e os meios de comunicação com este mundo são os sonhos.

(…)

Para os junguianos, o sonho não é uma espécie de criptograma padronizado que pode ser decifrado por meio de um glossário para a tradução de símbolos É, na verdade, uma expressão integral, importante e pessoal do inconsciente particular de cada um e tão “real” quanto qualquer outro fenômeno vinculado ao indivíduo. O inconsciente individual de quem sonha está em comunicação apenas com o sonhador e seleciona símbolos para seu propósito, com um sentido que diz respeito apenas a ele. Assim, a interpretação dos sonhos, por um analista ou pela própria pessoa que sonha, é para o psicólogo junguiano uma tarefa inteiramente pessoal e particular (e algumas vezes, também, uma tarefa longa e experimental) que não pode, em hipótese alguma, ser executada empiricamente.”

 

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 8-10.

Introdução: John Freeman

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