“Foi uma das primeiras observações de Jung mais tarde desenvolvida em proposições teóricas que a psique consiste em muitas partes e centros de consciência. Nesse universo interior, não existe simplesmente um planeta mas todo um sistema solar e mais do que isso. Referimo-nos às pessoas como detentoras de uma personalidade mas, de fato, esta é composta por um agregado de subpersonalidades.”
“Num certo sentido, somos feitos de muitas atitudes e orientações potencialmente divergentes, e estas podem facilmente cair em oposição recíproca e criar conflitos que culminam em estilos neuróticos de personalidade. Neste capítulo, descreverei um par dessas subpersonalidades divergentes, a sombra ea persona. São estruturas complementares e existem em toda a psique humana. Ambas foram denominadas de acordo com objetos concretos na experiência sensorial. A sombra é a imagem de nós próprios que desliza em nossa esteira quando caminhamos em direção à luz. A persona, o seu oposto, é o nome inspirado pelo termo romano para designar a máscara de um ator. É o rosto que usamos para o encontro com o mundo social que nos cerca.”
“Quaisquer partes da personalidade que normalmente pertenceriam ao ego se estivessem integradas mas foram suprimidas por causa de dissonância cognitiva ou emocional, caem na sombra. O conteúdo específico da sombra pode mudar, dependendo das atitudes e do grau de defensividade do ego. De um modo geral, a sombra possui uma qualidade imoral ou, pelo menos, pouco recomendável, contendo características da natureza de uma pessoa que são contrárias aos costumes e convenções morais da sociedade. A sombra é o lado inconsciente das operações intencionais, voluntárias e defensivas do ego. É, por assim dizer, a face posterior do ego.”
“Embora a introspecção possa, em certa medida, trazer essas atividades sombrias do ego para a consciência, as próprias defesas do ego contra o conhecimento consciente da sombra são usualmente tão eficazes que pouca coisa consegue infiltrar-se nelas e transpô-las. Pedir a amigos intimos ou a um cônjuge com muitos anos de estreita convivência que revelem suas percepções sinceras é, usualmente, um método mais útil do que a introspecção para obter informação sobre as atividades da sombra do ego.”
“Jung identificou a noção freudiana do id com a sombra.”
“A sombra não é diretamente experimentada pelo ego. Sendo inconsciente, é projetada em outros, Quando uma pessoa se sente tremendamente irritada por outra que manifesta ser realmente egoista, por exemplo, essa reação é usualmente um sinal de que está sendo projetado um elemento inconsciente da sombra. Naturalmente, a outra pessoa tem que apresentar um “gancho” para a projeção da sombra e, assim, existe sempre uma mistura entre percepção e projeção em tais reações emocionais fortes.”
Stein, Murray. Jung, O Mapa da Alma – Uma introdução. Ed. Cultrix, 2020, Local Kindle 2653-2723.
5. O revelado e o oculto nas relações com outros (Persona e Sombra)