Contos e o SELF

“Uma mulher que está perdida no mar do inconsciente tem uma vida interior vaga e não tem compreensão crítica, nem força de vontade. Esse tipo de mulher indefinida facilmente desempenha o papel de anima para os homens. De fato, quanto mais inconsciente ela for, melhor ela desempenha a anima. Esta é a razão pela qual algumas mulheres são relutantes em se tornarem conscientes; se elas as- sim se tornarem, elas perdem a habilidade de ser uma anima-feiticeira e, consequentemente, perdem o poder sobre os homens. De modo similar, um homem que está mergulhado no inconsciente comporta-se como o animus da mulher. Um homem possuído (Hitler, por exemplo) ele é levado pelas tem todos os traços do animus emoções, é cheio de opiniões imponderadas, expressa-se incautelosa e didaticamente e sempre em explosões emocionais.

(…) Se um conteúdo psíquico não for reconhecido no domínio humano, ele regressa ao domínio instintivo(…)

(…)

O fato de que os fios que correm através dos contos seguem todos a mesma direção – de tal modo que muitos contos podem ser ligados numa corrente circular, sendo um ampliação do outro – sugere que a ordem à qual eles se referem é fundamental. Eu tenho a sensação de que quando os contos de fada são colocados em grupos e interpretados em relação um ao outro, eles representam na sua base um arranjo arquetípico transcendental.

É sedutor tentar criar um modelo abstrato da estrutura geral do inconsciente coletivo representando-o como um cristal, único em si mesmo, mas que se manifesta em 10.000 diferentes contos de fada. Entretanto, eu não acredito que isso seja possível, pois sou levada a crer que nós estamos lidando com uma ordem transcendental semelhante ao átomo, o qual, segundo os físicos, não pode ser descrito como ele é em si mesmo, porque os modelos tridimensionais distorcem-no inevitavelmente.*

*Nota pessoal: monomito?

Embora a ordem interior se recuse a ser esquematizada, é possível que se tenha uma ideia a respeito dela observando que todas as espécies de contos, de uma forma ou de outra, circundam o mesmo conteúdo – o SELF.”

 

FRANZ, Marie-Louise von. A interpretação dos contos de fadas. São Paulo: Paulus, 2022, pág.235-237.

7. Sombra, anima e animus nos contos de fada

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