O Ministério da Regeneração continuou
cheio de expressões festivas, não obstante se haver
retirado o governador ao seu círculo mais íntimo.

— Conhece você — indagou ele — o ministro Benevenuto, aqui na Regeneração, o mesmo que chegou anteontem da Polônia?

— Muito doloroso o quadro que vimos — comentava Benevenuto em tom grave —; habituados ao serviço da paz na América, nenhum de nós imaginava o que fosse o trabalho de socorro espiritual nos campos da Polônia. Tudo obscuro, tudo difícil.
Não se podem, ali, esperar claridades de fé nos agressores, tampouco na maioria das vítimas, que se entregam totalmente a pavorosas impressões. Os encarnados não nos ajudam, apenas consomem nossas forças.

O que mais nos contristou, porém, foi a triste condição dos militares agressores, quando algum deles abandonava as vestes carnais, compelido pelas circunstâncias. Dominados, na maioria, por forças tenebrosas, fugiam dos Espíritos missionários, chamando-lhes a todos “fantasmas da cruz”.

— E não eram recolhidos para esclarecimento justo? — inquiriu alguém, interrompendo o narrador.

Benevenuto esboçou um gesto significativo e respondeu:
— Será sempre possível atender os loucos pacíficos, no lar; mas que remédio se reservará aos loucos furiosos, senão o hospício? Não havia outro recurso para tais criaturas senão deixá-las nos precipícios das trevas, onde serão naturalmente compelidas a reajustar-se, dando ensejo a pensamentos dignos. É razoável, portanto, que as missões de auxílio recolham apenas os predispostos a receber o socorro elevado.

— É quase incrível que a Europa, com tantos patrimônios culturais, se tenha abalançado a semelhante calamidade.

— Falta de preparação religiosa, meus amigos — definiu o ministro com expressiva inflexão de voz —; não basta ao homem a inteligência apurada, é-lhe necessário iluminar raciocínios para a vida eterna. As igrejas são sempre santas em seus fundamentos, e o sacerdócio será sempre divino, quando cuide essencialmente da Verdade de Deus, mas o sacerdócio político jamais atenderá a sede espiritual da civilização. Sem o sopro divino, as personalidades religiosas poderão inspirar respeito e admiração, não, porém, a fé e a confiança.
— MAS E O ESPIRITISMO?

— O Espiritismo é a nossa grande esperança
e, por todos os títulos, é o Consolador da humanidade encarnada, mas a nossa marcha é ainda muito lenta. Trata-se de uma dádiva sublime, para a qual a maioria dos homens ainda não possui “olhos de ver”. Esmagadora porcentagem dos aprendizes novos aproxima-se dessa fonte divina a copiar antigos vícios religiosos.

Enfim, procuram-se, por lá, os Espíritos materializados para o fenomenismo passageiro, ao passo que nós outros vivemos à procura de homens espiritualizados para o trabalho sério.

O trocadilho arrancou expressões de bom humor geral (…)

XAVIER, Francisco Cândido / André Luiz. Nosso Lar. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944. Edição Kindle.

CAPÍTULO 43 | EM CONVERSAÇÃO

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