(…) quando nos reunimos àqueles a quem amamos,
ocorre algo de confortador e construtivo em nosso íntimo.
É o alimento do amor, André.
Quando numerosas almas se congregam no círculo de tal ou qual atividade, seus pensamentos se entrelaçam, formando núcleos de força viva, pelos quais cada um recebe seu quinhão de alegria ou sofrimento, da vibração geral. É por essa razão que, no planeta, o problema do ambiente é sempre fator ponderável no caminho de cada homem.
Cada criatura viverá daquilo que cultiva.
— Não há nisto mistério.
É lei da vida, tanto nos esforços do bem como
nos movimentos do mal.
— Chamamos Trevas as regiões mais inferiores que conhecemos. Considere as criaturas como itinerantes da vida. Alguns poucos seguem resolutos, visando ao objetivo essencial da jornada. São os Espíritos nobilíssimos, que descobriram a essência divina em si mesmos, marchando para o alvo sublime, sem vacilações. A maioria, no entanto, estaciona. Temos então a multidão de almas que demoram séculos e séculos recapitulando experiências.
Assim é que muitos costumam perder-se em plena floresta da vida, perturbados no labirinto que tracejam para os próprios pés.
— Entretanto, que me diz dessas quedas? Verificam-se apenas na Terra? Somente os encarnados são suscetíveis de precipitação no despenhadeiro? Lísias pensou um minuto e respondeu:
— Sua observação é oportuna. Em qualquer lugar, o Espírito pode precipitar-se nas furnas do mal, salientando-se, porém, que nas esferas superiores as defesas são mais fortes, imprimindo-se, consequentemente, mais intensidade de culpa na falta cometida.
— Entretanto — objetei —, a queda sempre me pareceu impossível nas regiões estranhas ao corpo terreno. O ambiente divino, o conhecimento da verdade, o auxílio superior figuravam-se-me antídotos infalíveis ao
veneno da vaidade e da tentação.
O companheiro sorriu e obtemperou:
— O problema da tentação é mais complexo.
As paisagens do planeta terrestre estão cheias de ambiente divino, conhecimento da verdade e auxílio superior. Não são poucos os que compartem, ali, de batalhas destruidoras entre as árvores acolhedoras e os campos primaveris; muitos cometem homicídios ao luar, insensíveis à profunda sugestão das estrelas; outros exploram os mais fracos, ouvindo elevadas revelações da verdade superior.
Não faltam, na Terra, paisagens e expressões
essencialmente divinas.
— Contudo, Lísias, poderá você dar-me uma
ideia da localização dessa zona de Trevas?
Se o Umbral está ligado à mente
humana, onde ficará semelhante lugar
de sofrimento e pavor?
— Há esferas de vida em toda parte —
disse ele, solícito —; o vácuo sempre há de
ser mera imagem literária. Em tudo há energias
viventes e cada espécie de seres funciona
em determinada zona da vida.
Você sabe, como médico humano, que há elementos no cérebro do homem que lhe presidem o senso diretivo. Hoje, porém, reconhece que esses elementos não são propriamente físicos, e sim espirituais, na essência. QUEM ESTIME VIVER EXCLUSIVAMENTE NAS SOMBRAS EMBOTARÁ O SENTIDO DIVINO DA DIREÇÃO. Não será demais, portanto, que se precipite
nas Trevas, porque o abismo atrai o abismo e
cada um de nós chegará ao local para onde esteja dirigindo os próprios passos.
XAVIER, Francisco Cândido / André Luiz. Nosso Lar. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944. Edição Kindle.
CAPÍTULO 44 | AS TREVAS