À tardinha, Lísias convidou-me para
acompanhá-lo ao Campo da Música. — É preciso distrair-se um pouco, André! — disse ele, gentil.

Eu, porém, observava em mim mesmo singular fenômeno.
Não obstante a escassez dos meus dias de serviço,
JÁ DEDICAVA GRANDE AMOR ÀQUELAS CÂMARAS.

Lísias, a meu lado, logo que deixamos o aeróbus numa
das praças do Ministério da Elevação, disse carinhoso:

— Finalmente, vai você conhecer minha noiva,
de quem tenho falado muitas vezes.

— É CURIOSO — OBSERVEI INTRIGADO — ENCONTRARMOS NOIVADOS TAMBÉM POR AQUI…

— Como não? Vive o amor sublime no corpo mortal ou na alma eterna? Lá, no círculo terrestre, meu caro, o amor é uma espécie de ouro abafado nas pedras brutas. Tanto o misturam os homens com as necessidades, os desejos e estados inferiores, que raramente se diferenciará a ganga do precioso metal.

— Lascínia sempre se faz acompanhar de duas irmãs,
às quais espero faça você as honras de cavalheiro.

— Mas, Lísias… — respondi reticencioso, considerando minha antiga posição conjugal — você deve compreender que estou ligado a Zélia.

O enfermeiro amigo, nesse instante, riu a valer, acrescentando:

— Era o que faltava! Ninguém quer ferir seus sentimentos de fidelidade. NÃO CREIO, NO ENTANTO, QUE A UNIÃO ESPONSALÍCIA DEVA TRAZER O ESQUECIMENTO DA VIDA SOCIAL. NÃO SABE MAIS SER O IRMÃO DE ALGUÉM, ANDRÉ? Ri-me, desconcertado, e nada pude replicar.

Nesse momento, atingimos a faixa de entrada,
onde Lísias pagou gentilmente o ingresso.

— Nas extremidades do Campo, temos certas manifestações que atendem ao gosto pessoal de cada grupo dos que ainda não podem entender a arte sublime, mas, no centro, temos a música universal e divina, a arte santificada, por excelência.

Na Terra, há pequenos grupos para o culto
da música fina e multidões para a música regional.
Ali, contudo, verificava-se o contrário.

Eu havia presenciado numerosas agregações de gente,
na colônia, e extasiara-me ante a reunião que o nosso
Ministério consagrara ao governador, mas o que via agora
excedia a tudo que me deslumbrara até então.

A nata de Nosso Lar apresentava-se em magnífica
forma. Não era luxo nem excesso de qualquer natureza
o que proporcionava tanto brilho ao quadro maravilhoso.
Era a expressão natural de tudo, a simplicidade confundida
com a beleza, a arte pura e a vida sem artifícios.

Observei que, ali, o mais sábio restringia
as vibrações de seu poder intelectual, ao passo
que os menos instruídos elevavam, quanto
possível, a capacidade de compreensão, para
absorver as dádivas do conhecimento superior.

(…)no entanto, o que mais me impressionava era
a nota de alegria reinante em todas as conversações.

(…) ouvi Lísias dizer:

— Nossos orientadores, em harmonia, absorvem raios
de inspiração nos planos mais altos, e os grandes compositores terrestres são, por vezes, trazidos
às esferas como a nossa, onde recebem algumas expressões melódicas, transmitindo-as,
por sua vez, aos ouvidos humanos, adornando
os temas recebidos com o gênio que possuem. O universo,
André, está cheio de beleza e sublimidade. O facho resplendente
e eterno da vida procede originariamente de Deus.

Fôramos defrontados por gracioso grupo. Lascínia e as irmãs haviam chegado e era preciso atender aos imperativos da confraternização.

XAVIER, Francisco Cândido / André Luiz. Nosso Lar. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944. Edição Kindle.

CAPÍTULO 45 | NO CAMPO DA MÚSICA

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