A arte de fingir

“A arte de fingir é certamente um dom muito difundido entre os criminosos. É encontrado sobretudo entre ladrões e envenenadores. A praxe de mentir é notória entre os ladrões; deles diz Krauss: “Todos os outros criminosos também mentem, mas é uma mentira grosseira e palpável. Só os ladrões mentem com arte e naturalmente. Tão logo abram a boca, mentem, e o fazem sem pestanejar e sem o menor escrúpulo. Nem mesmo eles sabem que estão mentindo. Este hábito tornou-se sua segunda natureza, a ponto de mentirem para si mesmos”.”

Os mentirosos mais seguros são os embusteiros patológicos e o convincente em sua mentira está no fato de eles mesmos acreditarem nela, pois já não conseguem distinguir entre verdade e ficção. Diferem do ator pelo fato de este saber quando seu papel termina, ao passo que aqueles se deixam hipnotizar pelo jogo que praticam e o levam adiante numa fantástica mistura de duas esferas de pensar que se excluem mutuamente. Delbrück fala inclusive de uma dupla consciên cia propriamente dita. Quanto mais o ator se transferir para dentro de seu papel, maior será a vivência e tanto mais sua representação virá acompanhada de movimentos emocionais inconscientes do corpo, e é por isso que representa com tanta convicção. Certamente a construção dramática de um papel não é ato puramente volitivo, mas depende sobretudo de uma certa disposição, cujo ingrediente principal parece ser algum grau de sugestionabilidade. Quanto maior a quantidade subjetiva de sugestionabilidade, maior a possibilidade de o papel, a princípio apenas representado, falsificar a realidade, manter cativo o sujeito e substituir a personalidade original.”

JUNG, C.G. Estudos Psiquiatricos. OC, vol.1. Petrópolis: Vozes. 2013. Pág. 169-170.

Páragrafo 304

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