“Mas essa sombra não é apenas o simples inverso do ego consciente. Assim como o ego possui comportamentos desfavoráveis e destrutivos, a sombra possui algumas boas qualidades instintos normais e impulsos criadores. Na verdade, o ego e sombra, apesar de separados, são tão indissoluvelmente ligados um ao outro quanto o sentimento e o pensamento.
O ego, porém, entra em conflito com a sombra naquilo que o dr. Jung chamou de a “batalha pela libertação”. Na luta travada pelo homem primitivo para alcançar a consciência, esse conflito entre a sombra e o ego se exprime pela disputa entre o herói arquetípico e os poderes cósmicos do mal, personificado por dragões e outros monstros. No decorrer do desenvolvimento da consciência individual, a figura do herói é o meio simbólico pelo qual o ego emergente vence a inércia do inconsciente, liberando o homem amadurecido do desejo regressivo de uma volta ao estado de bem-aventurança da infância, em um mundo dominado por sua mãe.
A batalha entre o herói e o dragão é a forma mais encontrada desse mito e mostra claramente o tema arquetípico do triunfo do ego sobre as tendências regressivas.
(…)
O idealismo da juventude, que nos impulsiona com tanta força, conduz a um excesso de confiança: o ego pode ser exaltado até sentir-se com atributos divinos, mas esse abuso acaba por levá-lo ao desastre (é este o sentido da história de Ícaro, o jovem que consegue chegar ao céu com suas asas frágeis, inventadas pelo homem, mas que ao se aproximar do Sol precipita-se vertiginosamente). Apesar de tudo isso, o ego dos moços sempre deve correr esse risco, pois se o jovem não lutar por um objetivo mais alto do que aquilo que lhe é fácil obter, não poderá vencer os obstáculos que vai encontrar entre a adolescência e a maturidade.”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 154-156.
II Os Mitos antigos e o homem moderno
Joseph L. Henderson