A Roda da Fortuna

(…) roue vem do latim rota. Fortune vem de fortuna, termo latino que significa “destino, acaso, sorte ou má sorte” (…) a potência.

Sobre a Roda da Fortuna

Na Idade Média, a roda cíclica do destino é associada a uma figura de mulher que a move, e o resultado é este conjunto iconográfico específico: a roda da fortuna.

Na Antiguidade grega, o filósofo Anacreonte (cerca de 550 – cerca de 470 a.C.) escreveu: “A vida humana gira de maneira instável como os raios da roda de um carro”. (…) sendo que tanto a roda do carro quanto a roda de fiar representam símbolos evidentes do caráter cíclico da vida. A Fortuna, por sua vez (…) foi recuperada como figura alegórica da contingência, do acaso e do jogo pelo Ocidente cristão (…) a fortuna não se opõe à Providência divina, mas dela é dissociada. A roda por ela acionada é simplesmente o tempo da história profana, da ascen- são e da queda dos poderes laicos, o tempo circular e vazio de sentido. Os escolhidos, uma mistura de cães, macacos e coelhos, são alegorias da estupidez humana, que se vê como dona do destino ao alcançar o topo de alguma coisa, mas que não percebe que é apenas o joguete inconsciente de uma roda sobre a qual não tem nenhum domínio.

Para os autores antigos, não havia dúvida de que essa carta oferecia, antes, uma ocasião para refletir sobre o infortúnio humano.

Significados

(…) a ordem.

Sagacidade, presença de espírito que não deixa escapar as boas ocasiões iniciativa bem-sucedida, adivinhação de ordem prática, sorte; sucesso fortuito, como ganhar na loteria.

Descuido, especulação, abandono ao acaso.

O homem nas ações do presente, que têm sua origem nas obras periódicas do passado e preparam as do futuro, às quais o Divino dará uma conclusão bené- fica, sejam quais forem suas vicissitudes.

Ciclo cujo retorno à origem leva consigo a experiência adquirida, lógica.

Sejam quais forem os acontecimentos que se apresentam à vida do consulente, eles não são estáveis, orientam-se para uma evolução, uma mudança necessariamente feliz, pois a carta não é retrógrada.

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 230-232.

O Eremita

(…)le Capucin.

(…) eremita, por sua vez oriundo do grego erêmitês, que significa “do deserto” “que vive na solidão” e deriva de erêmos, “deserto”.

Sobre o Eremita

(…) com o significado a ele refere retira em uma solidão voluntária. (…) il Gobbo (o corcunda, depois recebeu o nome de il Vecchio (O Velho), Tempo. (…) aos efeitos devastadores do tempo sobre o homem (…) os primeiros tarô aros italianos exibem um homem idoso com uma ampulheta(…) Saturno. Em resumo, essa figura mostra nos quanto as consequências de sua obra e, nos dois us filhos seus ampulheta, algumas vezes munido de muletas ou de um cajado com a ampul marcha.

De resto, o Dictionnaire universel [Dicionário Universal] de Furetière (1690) define o eremita como um “homem devoto, que se retirou na solidão para melhor se dedicar à contemplação e se desvencilhar das questões mundanas”. Portanto, depois do homem vítima do tempo, vemos o homem sábio que se retira do mundo, sempre idoso e com um cajado, mas carregando um lampião. Esse lampião e esse eremita poderiam muito bem ser uma alusão a Diógenes de Sinope, filósofo grego do século IV a. C., que escandalizava por seu modo de vida marcado pela indigência. Dizem que ele percorria as cidades com seu lampião, clamando “Procuro um homem!”, e subentendia um homem digno desse nome. Na arte, ele costum ser representado com um lampião, um cajado e um cão: atributos significativos da errância, também encontrados com o Louco no tarô.

(…) essa carta arta poderia representar qualquer figura de homem religioso solitário peregrinação ão, uma vez que o o cajado costuma ser o atributo dos peregrinos.

Nota-se que a barba é um sinal flagrante de eremitismo. A vida dos padres do deserto, que se retiravam no Monte Atos, um dos primeiros lugares cristãos consagrados ao retiro, implicava uma regra que proibia o acesso ao monte a “todo animal fêmea, a toda mulher, a todo eunuco e a todo rosto liso”. Desse modo, deixar crescer a barba e os cabelos marcava o abandono do corpo e a ruptura com o mundo profano.

Significados

(..) o Sábio ou o Homem que busca a Verdade e a Justiça “O nº IX representa um filósofo venerável em longo manto e com um capuz nos ombros: ele caminha encurvado sobre seu cajado e segura um lampião com a mão esquerda. É o sábio que busca a justiça e a virtude. Portanto, de acordo com essa pintura egipcia, imagi- nou-se a história de Diógenes que, com o lampião na mão, procura um homem em plena luz do meio-dia. (…) pois os filósofos gostam de viver retirados e não se adaptam à frivolidade do século.

(…) os gênios protetores, a iniciação.

Isolamento, concentração, silêncio, aprofundamento, meditação, estudo. Ocultista que cala sobre seus segredos.

O homem em busca da verdade na calma e na paciência.

Retiro em si mesmo para examinar o resultado das atividades sancionadas pela Justiça.

Luz que ajuda a iluminar e resolver um problema qualquer.

Também significa prudência, não com a ideia de temor, mas para cons truir algo melhor.

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 227-229.

A Justiça

Para o Padre da Igreja Gregório, o Grande (cerca de 540-604) (…) as quatro virtudes cardeais – prudência, justiça, força e temperança – constituem os fundamentos sólidos do edificio espiritual. Santo Tomás de Aquino retoma a fórmula de São Gregório e explica que as virtudes cardeais são, ao mesmo tempo, o eixo e a base a partir dos quais se articula a existência humana: “Eis por que chamamos apropriadamente de cardeais as virtudes em torno das quais, de certo modo, gira a vida moral e nas quais ela se funda”. De fato, essas quatro virtudes já haviam sido elencadas na República de Platão. Posteriormente, os Padres da Igreja as integraram ao dogma e às representações cristãs e a elas acrescentaram três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade.

(…) se por um lado as representações das virtudes e dos vícios, feitas por Giotto (1303-1305) na capela Scrovegni em Pádua, permaneceram célebres.

Em sua representação tanto na arte quanto no tarô, a Justiça herdou atributos da divindade grega Têmis: o gládio e a balança que, segundo Aristóteles, são as duas maneiras de considerar a justiça. O gládio representa sua força distributiva, e a balança, sua missão equilibrante. (…) a figura do arcanjo São Miguel, anjo que conduz a alma dos mortos e é encarregado de pesá-las antes de recompensá-las ou puni-las de acordo com seus atos.

Significado

Sentido espiritual: equilíbrio universal, repartição, justiça.

Ordem, regularidade, método, equilíbrio, influência plácida da Lua.

Estabilidade, conservadorismo, organização, funcionamento normal.

O julgamento imposto ao homem por sua consciência profunda para apreciar o equilíbrio e o desequilíbrio criados por seus atos, com suas consequências felizes ou infelizes.

Clareza de julgamento, saber encontrar o ponto de equilíbrio, Insensibilidade.

Essa lâmina é um principio de rigor.

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 224-226.

O Carro

(…) surgido em francês em 1268; cheriot, de charrier [carre gar, transportar], que vem de char [carro], do latim carrus, cujo sentido inicial é “veículo de quatro rodas”. A definição do termo chariot é a de um veículo de quatro rodas utilizado para o transporte de cargas.

Sobre o Carro

Certo é que o uso da imagem do herói triunfante, em pé em um carro, é tão antigo a quanto os carros de guerra – quer se trate de Osíris, quer de Marte ou de qua qualquer vencedor. Sêneca já fazia alus alusão outro a ele: “Quando o vencedor se erguia em seu magnífico carro”. (…) vitorioso César desfilando por Roma. Na época em que o tarô surgiu, era de um ver Marte representado dessa comun na arte sa forma.

(…) segundo a famosa lenda da Idade Média, conhecida como a alegoria do orgu- Tho: “Quando Alexandre, o Grande, em sua viagem triunfal pelo Oriente, chegou ao fim da terra, quis ter certeza de que ali o céu e a terra se tocavam de fato. Para tanto, mandou prender em fios dois pássaros enormes da região, egião, atrelou-os atre a um jugo e amar amarrou-os a um cesto. Alexandre subiu no cesto segurando uma a lança, na ponta da qual estava preso um pedaço de carne de cavalo. Estendeu-a no isca como na frente da cabeça dos grifos, que ue abriram suas asas e alçaram voo rumo ao céu. Na metade mo do caminho, eis que surgiu um u homem- -pássaro. Com terríveis ameaças, ele co o. Embora a conjurou o Rei a renunciar a seu projeto. contragosto, Alexandre abaixou sua la lança. Os grifos mudaram seu percurso planando sobre a terra”,

(…) a armadura, que pode parecer curiosa com suas ombreiras decoradas com dois rostos. Quanto ao escudo, nos tarôs ele costuma trazer o nome do gravador do jogo. Alguns autores veem nesse carro uma alegoria da alma, tal como descrita por Platão: um carro puxado por dois cavalos e dirigido por um condutor, sendo que os cavalos representam os desejos antagônicos do homem e o condutor personifica a razão. 197 Mas com isso já estaríamos entrando no no campo das interpretações.

Significado

Sentido espiritual espirito e forma, vitória e o triunfo, propriedade.

Sucesso legítimo, avanço merecido, talento, capacidades, aptidões postas em prática.

Ambições înjustificadas.

A perigosa travessia do homem na matéria para alcançar a espiritualidade mediante o exercício de seus poderes e do controle de suas paixões.

As correntes materiais.

Realização, mas sem gestação nem inspiração; em outros termos, uma formatação.

Grande atividade, rapidez nas ações.

Também significa uma novidade, uma conquista. Propaganda pela palavra.

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 221-223.

O Enamorado

Desde a época romana, vê-se em vasos e afrescos a ilustração de um casal de apaixonados. Nos primeiros tarôs ita- lianos, trata-se simplesmente da representação de um casal que se une sob a proteção bene- volente de Cupido.

(…) ainda com o Cupido no alto da carta, parece indeciso entre duas mulheres. (…) “Ao atingir a puberdade, idade concebida pela natureza para que o indivíduo possa escolher o rumo que deseja tomar (portanto, essa história se refere a um rapaz, como vemos na carta), Hércules reti- rou-se na solidão. Sentado, viu à sua frente dois caminhos, o da volúpia e o da virtude, e refletiu longamente sobre qual deles deveria percorrer. […] Eis que de repente a ele se unem, à esquerda e à direita, caídas dos ares e mais altas do que os mortais, a Virtude e sua ini- miga, a Volúpia. O vício e a virtude se aproximam dele e o puxam pelas vestes, tentando atraí-lo, cada um de seu lado”.

Nessas histórias, o mau caminho que leva à perdição é o da esquerda, e o bom caminho, o da direita. Nos tratados de iconografia, a Virtude costuma ser represen- tada com uma coroa de louros e cara de poucos amigos. Já o Vício tende a adotar o aspecto de uma donzela encantadora e com uma coroa de flores, para melhor enganar o incauto.

Significado

(…) a liberdade.

Sentimento, livre-arbitrio, provação, dupla influência de Vênus ou, mais exatamente, de Ishtar, estrela guerreira da manhã.

Determinismo voluntário, escolha, votos, dúvida, irresolução.

Representa a motivação do desejo, que incita o homem a se unir com o universal, na harmonia ou no desequilíbrio, conforme ele se sacrifique por ele ou queira absorvê-lo em benefício próprio.

A intervenção da polaridade sexual do ser humano em toda ati- vidade que ele é convocado a manifestar, sua ação no discernimento que ele é obrigado a efetuar para conduzir sua vida.

Carta de união, de matrimônio ou uma escolha a ser feita.

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 218-220.

O Papa

(…) vem do latim papa e designa sem equívoco possível o chefe da Igreja Católica Romana.

Sobre o Papa

Após o Imperador, figura do poder temporal absoluto, surge o Papa, figura do poder espiritual absoluto, pelo menos para os europeus do fim da Idade Média. (…) usa a tiara dupla ou tripla, (…) marca de sua autoridade ao mesmo tempo temporal e espiritual (a tiara tripla designaria os três poderes: pontifício, imperial e régio).

Sobretudo a barba é um elemento importante. Desde Clemente XI (portanto, a partir de 1700), todos os papas são barbeados. Entre Clemente VII (1523-1534) e Inocêncio XII (morto em 1700), todos os papas têm barba, ao passo que antes, entre 1362 e 1503, eles ainda eram barbeados, exceto Clemente VII de Avignon (1387-1394). Esses detalhes poderiam permitir situar a iconografia do nosso papa do tarô: um papa do século XVI ou do XVII.

(…) a barba é uma representação simbólica de poder e maturidade, bem como sinal de virtude e sabedoria, de resto encontrado nas representações de Deus Pai e, posteriormente, de Cristo, que às vezes também eram representados com uma tiara papal. O Papa do tarô dá a bênção latina com o indicador e o dedo médio, e os outros dedos ficam dobrados. Essa bênção, também chamada de urbi et orbi, é reservada ao sumo pontífice, pois exprime uma universalidade e se dirige aos cristãos de Roma (nesse caso, urbs, urbis, “cidade”, designa Roma, a cidade por excelência, capital do mundo) e do mundo (orbs, orbis, “círculo”, designa o mundo, em referência à forma circular da Terra).

No que se refere ao tarô, a figura do Papa, constrangedora nos países protestantes, foi substituída pela de Júpiter ou pela de Baco.

Significados

(…) o Magnetismo universal, a quintessência, a religião, a inspiração.

Dever, moralidade, consciência, influência de Júpiter.

Autoridade moral, sacerdócio social, observação do decoro, respeitabilidade, ensinamento, conselhos imparciais, benevolência, generosidade indulgente, perdão. Mansidão.

(…) sentencioso, moralista rigoroso, professor que exerce uma autoridade excessiva sobre sua classe.

Para o homem, a obrigação de se reportar em suas ações aos ensinamentos divinos e de se subordinar às leis divinas.

(…) aquele que recebe a inspiração divina, julga e ensina com equidade absoluta.

Uma forma ativa da inteligência humana, equilíbrio.

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 215-217.

O Imperador

(…) vem do latim imperator. Trata-se do título dado a partir do imperador Augusto (63 a.C.-14 d.C.) ao detentor do poder supremo no Império Romano.

Sobre o Imperador

(…) apesar desse título bastante concreto, temos aqui uma fiqura alegórica que representa o poder absoluto no mundo. Inicialmente, tem uma barba e é de meia-idade. A partir da ldade Média, assim costumava ser representado Carlos Magno, o imperador por excelên cia. (…) o escudo amarelo com a águia em preto é clara mente o brasão do Sacro Império Romano-Germanico.

Desde a Antiguidade, a águia é o pássaro associado ao poder. o pássaro dos reis, o rei dos pássaros; é o atributo de Zeus. Por essa razão, torna-se o emblema de César e um importante simbolo militar do Império Romano.

(…) o globo pode ser suficiente: trata-se de um símbolo de poder exclusivo do imperador, pois representa o globo terrestre, o mundo que o imperador segura nas mãos… (…) “Pelo dom de Deus, augusto imperador do mundo, senhor dos senhores do mundo”. Nunca veremos um rei segurando esse globo. Em contrapartida, o cetro é um atributo partilhado com os reis, como símbolo de poder, e tem por origem o bas- tão de comando. A coroa, por sua vez, outro atributo em comum com os reis, é fechada nesse caso. (…) as pernas cru- zadas também caracterizam os homens de poder, sejam eles reis ou imperadores. No exercício de determinadas funções, elas simbolizam a força judiciária dos reis. Ao que parece, o uso provém da posição prescrita em ritual para os altos magistrados no antigo direito alemão. Desse modo, em um código antigo, lê-se: “O juiz deve sentar-se em seu assento magistral como um leão em fúria e colocar a perna direita sobre a esquerda. De maneira mais ampla, poderia simbolizar um monarca em ação no exercicio de seu poder quando se enfurece, quando condena um culpado ou apresenta uma espada a um cavaleiro.

Significados

(…)”O Imperador significa apoio.”

(…) a forma, o fogo, a cruz filosófica. Sentido fisico, a proteção, a vontade.

Firmeza, positivismo, poder executivo, influência de Saturno e Marte.

Direito, rigor, certeza, imobilidade, realização, energia perseverante, vontade inabalável, execução do que foi decidido.

O Imperador representa as energias materiais necessárias ao homem para dar as suas criações fugazes uma realidade momentânea.

(…) ação e tem o poder de realização,é uma carta que traz contribuições práticas e conselhos úteis.

Inteligência equilibrada, os bens passageiros, a força passageira. Assinatura de contrato, fusão de sociedades, situação conciliada.

NADOLNY
, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 211-214.

A Imperatriz

(…) no caso da Imperatriz só se pode dizer uma coisa: ela é a esposa do Imperador. Do ponto de vista histórico e na mentalidade da época, ela não tem outros significados importantes.

(…) poderíamos evocar a condição da mulher nas épocas medieval e moderna: uma mulher só tem valor em relação à família da qual provém e por aquilo que leva à família à qual se une.

(…) todas as mulheres de famílias nobres dessa época, eram desti- nadas a se casar já na puberdade com um esposo muitas vezes mais velho do que elas. segundo os acordos vantajosos para ambas as famílias. Era preciso desposá-las desde cedo. dados os riscos ligados à procriação (uma mulher mais velha teria menos chances de ter filhos saudáveis, e 30 anos na época já era uma idade bastante avançada). Há registros de matrimônios com meninas de 9 anos. Em seguida, a vida de uma imperatriz consistia em duas coisas, dar à luz e ser vista.

Houve imperadoras extraordi nárias, que governaram de fato. A mais célebre foi Maria Teresa da Austria (1717-1780) mas na maior parte do tempo, como muitas princesas da época, elas não fizeram história.

Significados divinatórios

“Significa que os males vêm para bem ou que aquilo que nos prejudicou se tornará ou se torna útil para nós.

(…)a geração,ação, iniciativa.

Sabedoria, discernimento, idealidade, influência intelectual do Sol.

Compreensão, inteligência, instrução, charme, afabilidade, elegância, dis- tinção gentileza. Dominação pela mente. Civilização.

Afetação, pose, pedantismo, vaidade, pretensão, desdém.

A Imperatriz representa a força fecunda da matéria colocada à disposição do homem para suas criações. A força passiva do mundo matéria.

Penetração na matéria pelo conhecimento das coisas práticas.

Pensamento fecundo.

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 209-211.

O Diabo

XV. O DIABO

Diferentes denominações: Diavolo, Plutone, Dyable, le Diable.

Outras posições ocupadas no tarô: número XIV na lista mais antiga dos trunfos e na ordem B.

Etimologia e significados do termo diable: do latim diabolus, que por sua vez vem do grego. Os tra- dutores do Antigo Testamento em grego utilizaram o termo diabolos, “aquele que divide”. O nome hebraico desse chefe dos demônios é “Satanás”, que significa “adversário, acusador”. “Lúcifer” ou Fosforo significa “aquele que traz a luz”; é um sinônimo do diabo, porém, mais precisamente, no sentido de principe das luzes, arcanjo amado de Deus que liderou os anjos revoltados, caídos, exilados do céu e lançados com todos aqueles que os seguiram no “lago de fogo e enxofre”, pri- meira evocação do inferno cristão segundo Mateus. “Belzebu” significa “senhor das pestilências” ou “senhor da casa alta”, ou seja, do inferno subterrâneo, do reino dos mortos. Provavelmente por essa razão, às vezes ele é chamado de Plutão em algumas evocações do tarô. Talvez o nome “Belzebu” seja uma deformação pejorativa de Ba’al Zebub, deus filisteu mencionado no Antigo Testamento.

Sobre o Diabo

O diabo é definido como a personificação do mal de acordo com o dogma cristão. No entanto, seu papel na Bíblia não é bem determinado. A serpente do Gênesis não é claramente desig- nada como o próprio Satanás, e o anátema parece ser lançado à serpente como tal: “[…] maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; raste- jarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferírás o calcanhar”. (Genesis, III, 14-15). As outras manifestações demoníacas no Antigo Testamento se inspiram sobretudo em demônios orientais, talvez devido ao contato com os babilonios. Há demônios que devastam o mundo físico e matam os homens, como Asmodeus no Livro de Tobias (III, 7-8). Com o cristianismo, o diabo se torna o rei do mundo terrestre e de suas tentações. Também é visto tentando Jesus no deserto ao colocar a seus pés todas as riquezas do mundo (Mateus, IV, 1-11). Inicialmente, a Idade Média o representa na forma de serpente, depois de dragão, em referência ao dragão do Apocalipse. Em seguida, a representação do diabo assume uma forma antropomórfica e animalesca, talvez sob a influência das mitolo- gias pagās, tanto romanas quanto bárbaras. É delas que vem o homem com chifres, pés de cabra e outros atributos da bestialidade. Nesse sentido, assemelha-se a Pă, divindade grega com pés fendidos que traz em seu cortejo sátiros devassos, ou a Charu, deus etrusco dos Infernos, com asas de morcego, dentes fiados e garras encurvadas. O diabo é representado dessa forma a partir do século X nos manuscritos alemães e, posteriormente, nos anglo- saxões. É assim que aparece no tarô. Com o tempo, esse caráter animalesco se acentua, com a ideia de que o diabo já não é o mal posto no mundo pela natureza (como os demônios da Babilonia, que causam destruição), mas aquele que sai do coração do homem e de suas pai- xões egoístas. O cristianismo lhe deu a paternidade das práticas divinatórias e de todos que adivinhos, pitonisas, necromantes, feiticeiros. Diz a lenda que Caim,

Sobre o Diabo

O diabo é definido como a personificação do mal de acordo com o dogma cristão. No entanto, seu papel na Biblia não é bem determinado. A serpente do Gênesis não é claramente desig- nada como o próprio Satanás, e o anátema parece ser lançado à serpente como tal: “[…] maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; raste- jarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. (Gênesis, III, 14-15). As outras manifestações demoníacas no Antigo Testamento se inspiram sobretudo em demônios orientais, talvez devido ao contato com os babilonios. Há demônios que devastam o mundo físico e matam os homens, como Asmodeus no Livro de Tobias (III, 7-8). Com o cristianismo, o diabo se torna o rei do mundo terrestre e de suas tentações. Também é visto tentando Jesus no deserto ao colocar a seus pés todas as riquezas do mundo (Mateus, IV, 1-11). Inicialmente, a Idade Média o representa na forma de serpente, depois de dragão, em referência ao dragão do Apocalipse. Em seguida, a representação do diabo assume uma forma antropomórfica e animalesca, talvez sob a influência das mitolo- gias pagās, tanto romanas quanto bárbaras. É delas que vem o homem com chifres, pés de cabra e outros atributos da bestialidade. Nesse sentido, assemelha-se a På, divindade grega com pés fendidos que traz em seu cortejo sátiros devassos, ou a Charu, deus etrusco dos Infernos, com asas de morcego, dentes fiados e garras encurvadas. O diabo é representado dessa forma a partir do século X nos manuscritos alemães e, posteriormente, nos anglo- saxões. É assim que aparece no tarô. Com o tempo, esse caráter animalesco se acentua, com a ideia de que o diabo já não é o mal posto no mundo pela natureza (como os demônios da Babilonia, que causam destruição), mas aquele que sai do coração do homem e de suas pai- xões egoístas. O cristianismo lhe deu a paternidade das práticas divinatórias e de todos que as exercem: magos, adivinhos, pitonisas, necromantes, feiticeiros. Diz a lenda que Caim. Platão, Alexandre, o Grande, Rômulo e Remo, o mago Merlin, a fada Melusina e Lutero bos (demonios machos).

Está claro que o Diabo do tarô permaneceu semelhante ao diabo dos cristãos da Idade Média: o tentador animalesco. De resto, podemos nos indagar sobre esse papel e essa ima- gem, que continuaram inalteradas. Os primeiros comentadores do tarô não se saíram bem ao tratar dessa representação tradicional.

Significados divinatórios

1781, Court de Gébelin: nº XV, Tifão

“O nº XV representa um célebre personagem egípcio, Tifão, irmão de Osíris e Ísis, o Príncipe mau, o grande Demônio do Inferno: tem asas de morcego, pés e mãos de harpia; na cabeça, horríveis chifres de cervo. Fizeram-no tão feio e tão diabo quanto possível. A seus pés encontram-se dois diabretes de orelhas longas, cauda comprida e mãos atadas atrás das

1909, Papus: 15, o Diabo

Sentido espiritual: o destino. Sentido moral ou alquimico, a serpente mágica (o agente mágico). Sentido fisico (que também pode ser utilizado para a adivinhação): a vida fisica. Sentido divinatório: força maior. Doença.

1927, Oswald Wirth: XV, o Diabo

Desordem, paixão, cio, conjunção entre Marte e Vênus.

PARA O BEM. Atração sexual, desejos passionais, ação mágica, magnetismo, taumatur gia fluida, poder oculto, exercicio de influências misteriosas. Atividade que torna inacessivel ao encantamento.

PARA O MAL Perturbação, agitação exacerbada, concupiscência, lubricidade, complica- ção, tolices, intrigas, emprego de meios ilícitos, feitiço, fascínio sofrido, submissão aos sen- tidos, fraqueza que dá lugar às influências incômodas, egoísmo.

1949, Paul Marteau: lâmina XV, o Diabo

SENTIDO ELEMENTAR. Representa uma forma da atividade humana, o amálgama da matéria, da qual o homem se tornará escravo depois de obter um sucesso efêmero. Ele pode libertar-se dessa escravidão pelos poderes do conhecimento, de acordo com seus objetivos egoistas, ou pode conhecer uma evolução material.

SENTIDO CONCRETO. O homem que age na matéria por meio de sua própria força, sem apoio espiritual, de modo que se submete à tentação de transgredir a moral cósmica e de ceder a seus instintos. Portanto, a lâmina significa sucesso na matéria por meio do esforço direto e dos conselhos da razão ou do abandono à fatalidade.

MENTAL (a inteligência). Grande atividade egoísta, sem preocupação de justiça, uma vez que essa lámina não tem significado prático no plano espiritual. ANÍMICO (as paixões emotivas). Pluralidade, diversidade, inconstância, pois o individuo

busca em todos os sentidos e traz tudo para si, sem se preocupar com os outros. Depravação.

FÍSICO (o lado utilitário da vida). Grande influência nesse plano, particularmente no campo material, na realização concreta. Grande ascendência sobre os outros. Entretanto, trata-se de uma carta deficiente no campo físico quando significa o triunfo obtido por meios escusos. No âmbito afetivo, é a conquista de um ser físico por meio de processos condenáveis e inescrupulosos, que acarretam a destruição de outros seres, mas obtém o sucesso como resultado. Contudo, é uma carta que anuncia a punição e que o triunfo será momentâneo e seguido de seu devido castigo. Quanto às doenças, indica uma grande instabilidade nervosa.

INVERTIDA. Sua ação tem uma base muito ruim, com efeitos dos mais maléficos. Desordem, inversão, negócios suspeitos ou sem saída.

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 206-208.

A Papisa

Em referência ao mito da Papisa Joana? Com efeito, segundo a tradição popular, uma mulher teria ocupado o trono de São Pedro com o nome de João VIII, em 854, durante dois anos, cinco meses e nove dias, entre os papas Leão IV e Bento III. Sigebert de Gemblours (cerca de 1030-1112) dizia que “esse João foi uma mulher”. Martinho de Opava (mais conhecido como Martinus Polonus) a evoca em seus escritos, que teriam valor de crônica oficial do papado e estabeleceram essa lenda apesar da ausência de fundamentos históricos, pois não houve lacuna entre Leão IV e Bento III. Essa lenda prosperou por toda a Idade Média; um busto de papisa figurava na Catedral de Siena entre os dos dois papas. Uma estátua teria sido erguida em Roma no exato local onde, grávida de um familiar, ela deu à luz em pleno dia durante uma procissão, o que revelou seu subterfúgio. O povo furioso e o clero a condenaram à morte junto com o fruto de sua impostura e a teriam sepultado ali mesmo.

Com efeito, as representações de papisas propriamente ditas (dentre as quais asmais antigas remontam ao século XIII) são raras na arte medieval e renascentista, pois eram consideradas blastematórias.

Ela também pode representar a prudência: a quarta virtude cardeal que faltava ao tarô é lustrada em algumas obras na figura de uma mulher segurando um livro.

(…) representar a prudência em uma mulher sentada em uma catedra com um livro aberto.

(…) nos tarôs da Europa protestante e nos de Besançon ela se torna Juno.

Os tarôs ocultistas a mantém, mas fazem dela uma gra-sacerdotisa.

Significados divinatórios

(…) A Grã- Sacerdotisa ou sua esposa. Sabemos que, entre os egipicios, os chefes do sacerdócio eram casados.

(…) os antigos nomeavam Pai e Mãe.

A Gra-Sacerdotisa está sen tada em uma poltrona. Veste um hábito longo com uma espécie de véu atrás da cabeça e cruzado na altura do estômago.

Nessa carta vemos hoje uma Juno, uma Papisa ou uma Donzela espanbola. Significa a mulher a quem interrogamos os oráculos do Livro de Thot.

Sentido espiritual: a substância divina (…) o ar, a mulher, a mãe.

Mistério, intuição, piedade, influência passiva de Saturno.

Reserva, discrição, silêncio, meditação, fé, paciência, espera confiante. sentimento religioso, resignação, coisas ocultas favoráveis. Inércia necessária, Intenções ocultas, dissimulação, hipocrisia.

A Papisa representa a natureza com suas riquezas misteriosas, que o homem tem de elucidar e interpretar.

O princípio superior da natureza, ou seja, a matéria santificada. MENTAL (a inteligência).

Ela é fria, amigável, acolhedora, mas não afetiva.

Situação assegurada, força sobre os acontecimentos revelação de coisas ocultas.

Atraso, parada, dificuldade de realização.

NADOLNY, Isabelle. História do TarôUm estudo completo sobre suas origens, iconografia e simbolismo. Ed. Pensamento, 2022, pág. 206-208.