O Vértice da verdade

“Quando estava quase no topo, seu caminho foi bloqueado por uma imensa rocha. Não era de surpreender que houvesse uma inscrição esculpida nela: Embora possua este universo, nada possuo, pois não posso conhecer o desconhecido, se ao conhecido me agarro.

O reconhecimento de que ele era a causa, não o efeito, lhe deu um novo sentimento de poder. Agora não tinha mais medo.

Um senso desconhecido de calma o envolveu, e algo estranho aconteceu: ele começou a cair para cima! Sim, embora parecesse impossível, ele estava caindo para cima, subindo para fora do abismo! Ao mesmo tempo, ainda se sentia conectado à parte mais profunda dele — na verdade, sentia-se conectado ao próprio centro da terra. Ele continuou caindo cada vez mais alto, sabendo que estava unido tanto ao céu quanto à terra.

Ele se desprendera de tudo que temia e tudo que tinha conhecido e possuído. Sua vontade de abarcar o desconhecido o tinha libertado. Agora o universo lhe pertencia para experimentar e desfrutar. O cavaleiro permaneceu no topo da montanha respirando profundamente; uma sensação irresistível de bem-estar percorreu seu ser. Ele foi ficando atordoado com o encantamento de ver, ouvir e sentir o universo que o circundava inteiro. Antes, o medo do desconhecido embotara seus sentidos, mas agora ele era capaz de experimentar tudo com uma clareza de tirar o fôlego.

“Quase morri pelas lágrimas que deixei de chorar”,

Ele sorriu através das lágrimas, sem perceber que uma nova e radiante luz emanava dele — uma luz muito mais brilhante e bonita do que sua armadura com o melhor dos polimentos: borbulhante como um riacho, brilhante como a lua, deslumbrante como o sol. Pois, de fato, o cavaleiro era o riacho. Ele era a lua. Ele era o sol. Ele podia ser todas essas coisas de uma vez agora, e muito mais, porque ele era um com o universo. Ele era amor.”

FISHER, Robert. O cavaleiro preso na armadura. Ed. Record, 2020, Local: 1026-1078.

O Vértice da verdade

O Castelo da vontade e da ousadia

“— O que você está fazendo no Castelo da Vontade e da Ousadia? — Em que lugar melhor você pensa que eu poderia morar? Sou o Dragão do Medo e da Dúvida.

O dragão vociferou outra vez: — Estou aqui para eliminar todos esses insolentes que pensam que podem vencer a todos somente porque passaram pelo Castelo do Conhecimento. Rebecca sussurrou no ouvido do cavaleiro: — Uma vez Merlin disse que o autoconhecimento pode matar o Dragão do Medo e da Dúvida.

— Deus deu ao homem coragem. A coragem dá Deus ao homem.

— Olhe — Sam o encorajou —, se você encarar o dragão, existe uma possibilidade de que ele venha a destruí-lo, mas se não encará-lo, ele com certeza o destruirá.

O dragão despejou chamas gigantescas e crepitantes sobre o cavaleiro, vezes e vezes seguidas; contudo, por mais que o monstro tentasse e tentasse, não conseguia incendiá-lo. O cavaleiro continuava a se aproximar e o dragão se tornava cada vez menor, até que finalmente não era maior do que um sapo. Suas chamas se extinguiram, e ele começou a cuspir pequenas sementes sobre o cavaleiro.”

FISHER, Robert. O cavaleiro preso na armadura. Ed. Record, 2020, Local: 946-1003.

O Castelo da vontade e da ousadia

O Castelo do conhecimento

“Também podia se alimentar com as frutas e raízes com que tinha se acostumado. Nunca mais comeria pombos ou qualquer outra ave ou carne outra vez, porque compreendeu que fazer isso seria literalmente ter amigos para jantar.

(…)o Castelo do Conhecimento a distância. Ele era maior do que o Castelo do Silêncio, e sua porta era feita de ouro maciço.

— O Castelo do Conhecimento foi projetado pelo próprio universo, a fonte de todo conhecimento.

Como estou agora que fiz a barba e cortei o cabelo? — É a primeira vez que você tirou vantagem de ser encurtado — respondeu Sam. O cavaleiro riu da brincadeira de Sam. Ele apreciava seu senso de humor. Se houvesse qualquer semelhança entre o Castelo do Conhecimento e o Castelo do Silêncio, ele ficaria feliz em ter Sam como companhia.

Enquanto empurrava a porta, ele perguntou a Rebecca e Esquilo se eles o deixariam como haviam feito antes. — Não — respondeu Rebecca. — O silêncio é para um; o conhecimento, para todos.

O conhecimento é a luz através da qual você encontrará seu caminho.

Sam falou sem rodeios: — Isso significa que, quanto mais você sabe, mais luminoso ficará aqui dentro.

O cavaleiro resfolegou: — Não tenho tempo para brincar de Perguntas e Respostas. Quero encontrar rápido meu caminho por este castelo, para poder chegar ao topo da montanha! — Talvez o que você tenha a aprender aqui é que você tem todo o tempo do mundo — sugeriu Rebecca.

Envolto em um clarão ofuscante, um pensamento surgiu na mente do cavaleiro: ele necessitara do amor de Juliet e de Christopher porque não se amava! Na verdade, ele necessitara do amor de todas as donzelas que resgatara dos dragões e de todas as pessoas por quem lutara nas cruzadas porque não se amava. O pranto do cavaleiro se intensificou quando ele compreendeu que, se não se amava, não poderia realmente amar os outros. A necessidade que tinha deles era um obstáculo ao amor.

— Você descobriu uma grande verdade — explicou o mago ao cavaleiro. — É somente quando nos amamos que podemos amar os outros. — Como começo a me amar? — perguntou o cavaleiro. — Você já começou, pelo simples fato de saber o que sabe. — Sei que sou um tolo — soluçou o cavaleiro. — Não, você sabe a verdade, e verdade é amor. Isso confortou o cavaleiro, e ele parou de chorar. Quando seus olhos secaram, ele percebeu a luz à sua volta. Era diferente de todas as luzes que tinha visto antes. Parecia vir de lugar nenhum e, ao mesmo tempo, de todos os lugares. Merlin ecoou os pensamentos do cavaleiro: — Não há nada mais bonito que a luz do autoconhecimento. O cavaleiro contemplou a luz e, em seguida, encarou as trevas à frente. — Não existe escuridão neste castelo para você, não é mesmo? — Não — respondeu Merlin —, não mais.

— Não é um espelho comum — insistiu Rebecca. — Ele não mostra como você parece. Mostra o que você realmente é.

— Você está vendo seu eu verdadeiro — explicou Sam —, o eu que vive por debaixo dessa armadura. — Mas — protestou o cavaleiro, olhando de forma penetrante para o espelho —, este homem é um espécime perfeito. E sua face é plena de beleza e inocência. — Esse é o seu potencial — respondeu Sam —, ser belo, inocente e perfeito. — Se esse é o meu potencial — disse o cavaleiro —, algo terrível aconteceu no meu percurso para realizá-lo.

(…)você colocou uma armadura invisível entre você e seus sentimentos verdadeiros. Ela está em você há tanto tempo, que se tornou visível e permanente. — Talvez eu tenha realmente escondido meus sentimentos — disse o cavaleiro. — Mas eu não podia simplesmente dizer tudo que me vinha à cabeça e fazer tudo que tinha vontade de fazer. Ninguém iria gostar de mim. Ao pronunciar essas palavras, o cavaleiro parou abruptamente, compreendendo que vivera toda a sua vida de maneira a fazer com que as pessoas gostassem dele.

O cavaleiro olhou para o espelho mais uma vez. Bondade, amor, compaixão, inteligência e altruísmo retribuíram o olhar. Ele compreendeu que tudo que precisava fazer para possuir essas qualidades era reivindicá-las, pois elas sempre lhe haviam pertencido.

Com esse pensamento, a linda luminosidade resplandeceu novamente, mais clara do que antes. Ela iluminou a sala inteira, revelando, para surpresa do cavaleiro, que o castelo era composto de apenas uma sala gigantesca. — É o código padrão para a construção de um Castelo do Conhecimento — disse Sam. — O verdadeiro conhecimento não é dividido em compartimentos, pois todo ele emana de uma verdade.

(…)será que você estava tão ocupado tentando vir a ser que não podia desfrutar de ser simplesmente?

— A ambição do coração é pura. Ela não compete com ninguém, nem fere ninguém. Na verdade, ela o serve de tal maneira que serve os outros ao mesmo tempo. — Como? — perguntou o cavaleiro, esforçando-se para compreender. — É nesse ponto que podemos aprender com a macieira. Ela se tornou graciosa e plenamente madura, cheia de bons frutos que ela dá livremente a todos. Quanto mais maçãs as pessoas retiram dela — disse Merlin —, mais ela cresce e mais formosa se torna. Esta árvore está fazendo exatamente o que macieiras devem fazer: atingindo seu potencial para benefício de todos. Pode acontecer o mesmo com as pessoas, quando a ambição delas vem do coração.

— Você poderia vender algumas de suas maçãs para pagar pelo castelo e cavalo novos. Depois po- deria doar as maçãs de que não precisasse para que outros pudessem se alimentar. — É mais fácil para as árvores do que para as pessoas neste mundo — disse o cavaleiro, filosoficamente. — É tudo uma questão de percepção — disse Merlin. — Você recebe a mesma energia vital que a árvore. Compartilha da mesma água, do mesmo ar e do mesmo alimento da terra. Garanto-lhe que, se aprender com a árvore, também poderá gerar os frutos que a natureza tem o propósito de gerar — e logo terá todos os castelos e cavalos que desejar.

— Aos seres humanos foram dados dois pés para que não precisassem ficar em um mesmo lugar, mas, se ficassem sossegados mais vezes para aceitar e desfrutar, em vez de ficarem correndo de um lado para o outro atrás das coisas, compreenderiam verdadeiramente a ambição que vem do coração.

Em seguida considerou a si mesmo — emagrecido e com uma barba que começava a ficar desgrenhada novamente. Estava subnutrido, nervoso e exausto de ficar arrastando sua pesada armadura de um lado para o outro. Tudo isso ele adquirira por causa da ambição de sua mente, e agora sabia que tudo isso precisava mudar. A ideia era assustadora, mas, ora, ele já perdera tudo, então o que tinha a perder?

Ele chegou à conclusão de que o tempo realmente passa rápido quando se está em contato consigo mesmo. Relembrou quantas vezes o tempo se arrastara indefinidamente, quando tinha dependido dos outros para preenchê-lo.”

FISHER, Robert. O cavaleiro preso na armadura. Ed. Record, 2020, Local: 702-914.

O Castelo do conhecimento

O Castelo do silêncio

O cavaleiro logo tomou consciência de duas coisas: primeiro, parecia não haver nenhuma porta na sala que levasse a outras partes do castelo. Segundo, o silêncio que fazia nesse castelo era extraordinário, misterioso. Ele percebeu com um sobressalto que o fogo nem mesmo crepitava.

Estou surpreso de vê-lo aqui. Ouvi falar que o senhor estava numa cruzada. — É isso que eu digo sempre que viajo pelo Caminho da Verdade — explicou o rei. — É mais fácil para meus súditos entenderem. O cavaleiro parecia intrigado. — Todos entendem as cruzadas — disse o rei —, mas muito poucos entendem a verdade.

“— A maioria de nós está aprisionada no interior de uma armadura — declarou o rei. — O que o senhor quer dizer? — perguntou o cavaleiro. — Nós levantamos barreiras para proteger quem pensamos ser. Então um dia ficamos presos atrás dessas barreiras e não conseguimos mais sair.

— Nunca pensei que fosse um ser aprisionado, rei. O senhor é tão sábio — disse o cavaleiro. O rei riu, pesaroso. — Tenho sabedoria suficiente para compreender quando estou aprisionado e retornar aqui, para aprender mais sobre mim.

É verdade que meus companheiros e eu não estávamos sozinhos, porque falávamos constantemente, mas, quando se fala, é impossível ver a porta para sair desta sala.

Ficar em silêncio significa mais do que não falar — disse o rei. — Descobri que, quando estava com alguém, mostrava apenas a minha melhor imagem. Não deixava as barreiras cederem e não permitia que nem eu nem a outra pessoa víssemos o que eu estava tentando esconder.

O rei esfregou o dedão delicadamente. — Tudo bem. Essa armadura dói mais em você do que em mim.

— A viagem pelo Caminho da Verdade nunca termina. Cada vez que volto aqui encontro novas portas, enquanto minha compreensão se expande gradativamente.

Este é um novo tipo de cruzada para você, caro cavaleiro, uma que requer mais coragem do que todas as outras batalhas que você já enfrentou antes. Se conseguir mobilizar a força necessária para ficar aqui e fazer o que tem de fazer, esta será sua maior vitória.

O cavaleiro correu até onde o rei estivera, esperando que, de perto, também pudesse ver a porta. Deparando-se com o que parecia ser apenas uma parede sólida, ele começou a caminhar em redor da sala. Tudo o que podia ouvir era o som de sua armadura ecoando pelo castelo. Depois de algum tempo, sentiu-se deprimido como nunca antes em sua vida. Para se animar, cantarolou duas estimulantes canções de batalha: “Estarei lá para pegá-la numa cruzada, meu amor” e “onde penduro meu elmo é meu lar”. Ele as cantou vezes e vezes seguidas. Conforme sentia sua voz ficando cansada, percebia que a quietude tornava seu canto inaudível, envolvendo-o num silêncio total e devastador. Somente então, o cavaleiro pôde realmente admitir algo que nunca tinha reconhecido antes: tinha medo de ficar sozinho.

Logo irrompeu em sua mente que, durante toda a sua vida, perdera tempo falando sobre o que tinha feito e o que iria fazer. Nunca desfrutara o que estava realmente acontecendo. E assim uma outra porta apareceu.

— Por que será que essas salas vão se tornando cada vez menores? — ele se perguntou, em voz alta. Uma voz respondeu: — Porque você está fechando o cerco sobre si mesmo. Assustado, o cavaleiro olhou à sua volta. Ele estava sozinho — ou pelo menos pensava que estava. Quem tinha falado? — Você falou — disse a voz, respondendo ao seu pensamento. A voz parecia vir de dentro dele. Seria possível? — Sim, é possível — respondeu a voz. — Sou o seu eu verdadeiro. — Mas eu sou o meu eu verdadeiro — protestou o cavaleiro. — Olhe para si mesmo — disse a voz com uma ponta de desgosto —, sentado aí meio morto de fome, envolto nessa sucata com uma viseira enferrujada e ostentando uma barba ensopada. Se você é o seu eu verdadeiro, ambos estamos encrencados! — Agora preste atenção — disse o cavaleiro —, vivi todos esses anos sem ouvir uma única palavra sua. Agora que ouço, a primeira coisa que diz é que você é o meu eu verdadeiro. Por que não se manifestou antes? — Tenho estado por perto há anos — replicou a voz —, mas esta é a primeira vez que você fica quieto o bastante para me escutar.

O cavaleiro estava boquiaberto, incrédulo. Olhou para o céu e, com a voz estrondosa, disse: — Merlin, preciso falar com você. Como prometera, o mago apareceu imediatamente. Estava nu, exceto pela longa barba, e pingava de tão molhado. Aparentemente, o cavaleiro pegara Merlin tomando banho. — Perdoe-me por essa intrusão — disse o cavaleiro —, mas trata-se de uma emergência. Eu… — Não faz mal — disse Merlin, interrompendo-o. — Os magos acabam se acostumando com essas inconveniências.

— Para responder à sua pergunta, devo dizer que é verdade. Você permaneceu no Castelo do Silêncio por um longo tempo. Merlin nunca deixava de surpreender o cavaleiro. — Como você sabia que eu queria perguntar isso? — Como me conheço, posso conhecer você. Somos todos parte um do outro — respondeu o mago.

— Não temos de sentir orgulho por sermos humanos. Isso é tão sem sentido quanto seria para Rebecca sentir orgulho por poder voar. Rebecca nasceu com asas. Você nasceu com um coração e agora o está usando, simplesmente como deveria fazê-lo.”

FISHER, Robert. O cavaleiro preso na armadura. Ed. Record, 2020, Local: 525-683.

O Castelo do silêncio

O Caminho da verdade

“Você não pode continuar a viver e a pensar como fazia no passado — continuou Merlin. — Essa é a principal razão por que ficou encarcerado nessa prisão de aço.

Parece uma subida árdua — observou o cavaleiro. Merlin concordou com a cabeça: — Este — disse ele — é o Caminho da Verdade. Ele torna-se mais íngreme à medida que se aproxima do cume de uma montanha que fica lá longe. O cavaleiro olhou para aquela trilha escarpada, sem entusiasmo. — Não sei se vale a pena. O que vou ganhar quando atingir o topo? — Trata-se do que você vai perder — explicou Merlin. — A armadura!

Mesmo se houvesse, você agora não tem a menor condição de resgatar quem quer que seja. Você tem de aprender a se salvar primeiro.

O primeiro castelo chama-se Silêncio; o segundo, Conhecimento; e o terceiro, Vontade e Ousadia. Após entrar neles, você encontrará a saída somente depois de ter aprendido o que está lá para você aprender.

Pressentiu que essa jornada seria muito mais difícil do que uma cruzada. Merlin sabia o que o cavaleiro estava pensando. — Sim — concordou ele —, há uma outra batalha a ser travada no Caminho da Verdade. A luta será aprender a amar a si mesmo.

Após algumas horas, o cavaleiro desmoronou, exausto e dolorido. Não estava acostumado a viajar de armadura sem estar montado no cavalo.

Esquilo foi até um riacho próximo e encheu algumas cascas de nozes com água, que o cavaleiro bebeu por meio do canudo que Merlin lhe dera.

Esse pedaço enferrujou e se desprendeu. — Mas como? — perguntou o cavaleiro. — Por causa das lágrimas do seu pranto, depois que você viu a carta em branco do seu filho. O cavaleiro refletiu sobre isso. A tristeza que ele sentira fora tão profunda que a armadura não pôde protegê-lo dela. Muito pelo contrário, suas lágrimas haviam começado a romper o aço que o circundava.

Os três continuaram montanha acima. Era um dia particularmente agradável para o cavaleiro. Ele percebia as minúsculas partículas iluminadas de sol que atravessavam os galhos das árvores. Olhou de perto o rosto de alguns tordos e viu que não eram todos iguais. Ele falou isso para Rebecca, que não parava de dar saltos, murmurando alegremente. — Você está começando a perceber as diferenças em outras formas de vida, porque está começando a perceber as diferenças no seu interior.

O cavaleiro confessou a Esquilo e a Rebecca que estava desapontado. Esperava uma extravagante estrutura. Em vez disso, o Castelo do Silêncio parecia com qualquer outro castelo da região. Rebecca riu e disse: — Quando você aprender a aceitar em vez de ter expectativas, seus desapontamentos serão menores.

— Estou começando a achar que os animais são mais inteligentes do que os homens. — O fato de poder dizer isso faz de você um ser tão inteligente quanto nós — replicou Esquilo. — Não acho que isso tenha a ver com ser inteligente — disse Rebecca. — Os animais aceitam, e os seres humanos têm expectativas.”

FISHER, Robert. O cavaleiro preso na armadura. Ed. Record, 2020, Local: 395-503.

O Caminho da verdade

Na Floresta de Merlin

“— Estive procurando por você — disse ele ao mago. — Há meses que estou perdido. — Toda a sua vida — corrigiu o mago, arrancando com os dentes um pedaço de cenoura e repartindo-o com o coelho que estava mais próximo.

— Você é um grande felizardo. Está fraco demais para fugir. — O que quer dizer com isso? — perguntou o cavaleiro. Merlin sorriu em resposta: — Uma pessoa não pode fugir e aprender ao mesmo tempo. Ela precisa permanecer por algum tempo no mesmo lugar.

Os primeiros goles pareciam amargos, os seguintes, mais agradáveis e os últimos, absolutamente deliciosos. Agradecido, o cavaleiro devolveu o cálice a Merlin. — Você deveria colocar esse produto à venda. Poderia vender jarros dele. Merlin apenas sorriu. — O que é essa bebida? — perguntou o cavaleiro. — Vida — respondeu Merlin.

Mas como é possível você ainda estar vivo? Arthur viveu séculos atrás! — exclamou o cavaleiro. — Quando se está conectado à Fonte, passado, presente e futuro são tudo a mesma coisa — replicou Merlin. — O que é a Fonte? — perguntou o cavaleiro. — É o poder misterioso e invisível do qual tudo se origina.

— Por que você sempre responde com outra pergunta? — E por que você sempre busca nos outros as respostas às suas perguntas?”


FISHER
, Robert. O cavaleiro preso na armadura. Ed. Record, 2020, Local: 215-290.

Na Floresta de Merlin

O Dilema do Cavaleiro

“Nos períodos em que não havia muito o que fazer, ele tinha o terrível hábito de resgatar donzelas, mesmo quando elas não queriam ser resgatadas. Por isso, embora muitas damas lhe fossem gratas, outras tantas estavam furiosas com ele. Isso, no entanto, ele aceitava filosoficamente. Afinal de contas, não se pode agradar a todos.

Com o passar do tempo, o cavaleiro tornou-se tão enamorado de sua armadura que começou a usá-la para jantar e muitas vezes para dormir. Algum tempo depois, ele nem mais se importava em tirá-la. Pouco a pouco, sua família se esqueceu de sua aparência sem a armadura.

Ao pensar nisso, percebeu que a armadura realmente o impedia mesmo de sentir muita coisa, e ele a usava havia tanto tempo que tinha esquecido como era a vida sem ela.

Com uma voz clara e lírica, Bolsalegre cantou: — Problemas nunca me deixam balançando. São oportunidades que estão chegando.

Estamos todos presos em algum tipo de armadura. Apenas mais fácil de encontrar é a sua.

Dias, semanas ou anos, nunca se sabe ao certo. Quando o discípulo estiver pronto, o mestre estará por perto.

— Quando da armadura você se livrar, a dor dos outros também sentirá.”

FISHER, Robert. O cavaleiro preso na armadura. Ed. Record, 2020, Local: 70-196.

O Dilema do Cavaleiro