O Caminho da verdade

“Você não pode continuar a viver e a pensar como fazia no passado — continuou Merlin. — Essa é a principal razão por que ficou encarcerado nessa prisão de aço.

Parece uma subida árdua — observou o cavaleiro. Merlin concordou com a cabeça: — Este — disse ele — é o Caminho da Verdade. Ele torna-se mais íngreme à medida que se aproxima do cume de uma montanha que fica lá longe. O cavaleiro olhou para aquela trilha escarpada, sem entusiasmo. — Não sei se vale a pena. O que vou ganhar quando atingir o topo? — Trata-se do que você vai perder — explicou Merlin. — A armadura!

Mesmo se houvesse, você agora não tem a menor condição de resgatar quem quer que seja. Você tem de aprender a se salvar primeiro.

O primeiro castelo chama-se Silêncio; o segundo, Conhecimento; e o terceiro, Vontade e Ousadia. Após entrar neles, você encontrará a saída somente depois de ter aprendido o que está lá para você aprender.

Pressentiu que essa jornada seria muito mais difícil do que uma cruzada. Merlin sabia o que o cavaleiro estava pensando. — Sim — concordou ele —, há uma outra batalha a ser travada no Caminho da Verdade. A luta será aprender a amar a si mesmo.

Após algumas horas, o cavaleiro desmoronou, exausto e dolorido. Não estava acostumado a viajar de armadura sem estar montado no cavalo.

Esquilo foi até um riacho próximo e encheu algumas cascas de nozes com água, que o cavaleiro bebeu por meio do canudo que Merlin lhe dera.

Esse pedaço enferrujou e se desprendeu. — Mas como? — perguntou o cavaleiro. — Por causa das lágrimas do seu pranto, depois que você viu a carta em branco do seu filho. O cavaleiro refletiu sobre isso. A tristeza que ele sentira fora tão profunda que a armadura não pôde protegê-lo dela. Muito pelo contrário, suas lágrimas haviam começado a romper o aço que o circundava.

Os três continuaram montanha acima. Era um dia particularmente agradável para o cavaleiro. Ele percebia as minúsculas partículas iluminadas de sol que atravessavam os galhos das árvores. Olhou de perto o rosto de alguns tordos e viu que não eram todos iguais. Ele falou isso para Rebecca, que não parava de dar saltos, murmurando alegremente. — Você está começando a perceber as diferenças em outras formas de vida, porque está começando a perceber as diferenças no seu interior.

O cavaleiro confessou a Esquilo e a Rebecca que estava desapontado. Esperava uma extravagante estrutura. Em vez disso, o Castelo do Silêncio parecia com qualquer outro castelo da região. Rebecca riu e disse: — Quando você aprender a aceitar em vez de ter expectativas, seus desapontamentos serão menores.

— Estou começando a achar que os animais são mais inteligentes do que os homens. — O fato de poder dizer isso faz de você um ser tão inteligente quanto nós — replicou Esquilo. — Não acho que isso tenha a ver com ser inteligente — disse Rebecca. — Os animais aceitam, e os seres humanos têm expectativas.”

FISHER, Robert. O cavaleiro preso na armadura. Ed. Record, 2020, Local: 395-503.

O Caminho da verdade

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

Facebook
Twitter
Pinterest

QUER MAIS?

Trabalho sagrado

Uma característica proeminente da opus é o fato de ser considerada um trabalho sagrado que

Leia mais