“Temos que admitir que quando surgem esses sonhos, a falta de de memória histérica desempenha um papel que não pode ser subestimado: muitas ideias que em si mereceriam ser guardadas na consciência submergem; concatenações de ideias se perdem e continuam ativas no inconsciente, graças à dissociação psíquica; um processo que encontramos outra vez na gênese de nossos sonhos”. Sendo assim, é possível explicar o surgimento aparente mente repentino e inesperado dos devaneios oníricos. A total sub mersão da personalidade consciente no papel onírico causa indiretamente também o desenvolvimento de automatismos concomitantes: “Uma segunda condição pode levar à divisão da consciência; não é uma alteração da sensibilidade, mas uma atitude particular da mente, a concentração da atenção sobre um ponto único; desse estado de concentração resulta que a mente se torna distraída em relação ao resto e, de certo modo, insensível, abrindo o caminho para as ações automáticas; e estas ações […] podem assumir um caráter psíquico e constituir inteligências parasitas que vivem lado a lado com a personalidade normal que não as conhece”.
“Os romances da paciente lançam muita luz sobre as raízes subjetivas de seus sonhos. Neles há profusão de casos amorosos abertos e secretos, de nascimentos ilegítimos e outras insinuações sexuais. O centro de todas estas histórias ambíguas é uma senhora de quem ela não gosta e que aos poucos se transforma em seu polo oposto; enquanto Ivenes é o ápice da virtude, aquela senhora é a charneca mais profunda dos vícios. Mas sua teoria da reencarnação, na qual aparece como a mãe ancestral de incontáveis milênios, brota, em sua ingênua nudez, de uma fantasia exuberante, o que é bem característico da época da puberdade. É o sentimento sexual apreensivo da mulher, o sonho da fecundidade, que criou aquelas ideias monstruosas na paciente. Não estaremos equivocados se procurarmos na sexualidade emergente a principal causa desse quadro clínico peculiar. Visto sob este ângulo, todo o ser de Ivenes, juntamente com sua enorme família, nada mais é do que um sonho de realização de desejos sexuais que se distingue do sonho de uma noite pelo fato de prolongar-se por meses e anos. “
Nota* “A partir de nossa reflexão consciente sabemos que, utilizando a atenção, segui chegamos a uma ideia que não siste à crítica, nós quebramos; deixamos cair a ocupação da atenção. Parece então que o curso das ideias, começado e abandonado, pode continuar a tecer-se sem que a aten ção se volte de novo para ele, a não ser que em algum lugar atinja uma intensidade es pecialmente alta que force a atenção. Se um curso de ideias é de início rejeitado, com cientemente, por un julgatnento como sendo incorreto ou inútil para o objetivo atual do ato de pensar, isto pode ser a causa de um curso de ideias prosseguir, sem ser perce bido pela consciência, até o adormecer”, FREUD, 5. Op. cit., p. 351.”
JUNG, C.G. Estudos Psiquiatricos. OC, vol.1. Petrópolis: Vozes. 2013. Pag 82.
Páragrafo 119-120