Conhecimento absoluto no inconsciente

Resumindo, pode-se ver que Dorn concebe quatro elementos no trabalho interior de unificação e três estágios ou graus. Os quatro elementos são spiritus, anima, corpus e cosmos. No início, spiritus e anima se unem, e transformam-se em mens. A seguir, mens e corpus se unem e se convertem em vir unus e, por fim, na morte, o vir unus une-se ao Universo, embora não em sua forma visível mas como unus mundus, seu background potencial, invisível. Antes de Deus ter criado o mundo, Ele estava com Sua companheira, Sofia ou Sabedoria (conferir João II) ou a Palavra. Ela é também a alma de Cristo, ou Cristo em Sua forma divina preexistente, anterior à encarnação. Essa Sofia, segundo alguns filósofos medievais, é também a imagem mental da criação que preexistia na mente de Deus antes de Ele ter criado o mundo. Isso está associado à ideia platónica de um reino metafísico das ideias. Nele, Deus concebeu a ideia de todas as coisas reais, de tal forma que tudo na terra tem seu modelo arquetípico no unus mundus. Johannes Scotus Erigena, por exemplo, diz que todas as coisas reais existiam in potentia na sabedoria de Deus, que é a soma de todos os arquétipos na mente de Deus. A ideia de um unus mundus é uma variação do nosso conceito de inconsciente coletivo. A princípio, todos os arquétipos estão contaminados, e assim o unus mundus é uma multiplicidade unificada, uma separatividade das partes e ao mesmo tempo uma unicidade. Nesse mundo de fantasia, tudo era concebido como que estando em harmonia. No unus mundus não havia desarmonia, as coisas eram separadas e ao mesmo tempo unidas. Dorn diz que o estado do unus mundus só ocorre depois da morte; em outras palavras, é um evento psicológico por meio do qual o homem se torna um com tudo o que existe.

Concretamente, o unus mundus se manifesta, como assinalou Jung, nos fenômenos sincronísticos. Vivemos normalmente num mundo dualista de eventos “externos” e “internos”, ao passo que num evento sincronístico essa dualidade não existe; eventos externos comportam-se como se fossem uma parte de nossa psique, de tal modo que tudo está contido na mesma totalidade.”

“Essa experiência é também o derradeiro estágio do processo de individuação, o tornar-se uno com o inconsciente coletivo, mas não de uma maneira patológica, como em certas psicoses em que o processo de individuação deu errado e tudo tomou um rumo igualmente errado. Quando isso ocorre positivamente, em vez de uma separação, produz uma união com o inconsciente coletivo, e significa uma expansão da consciência, com uma diminuição da intensidade do complexo do ego. Quando isso acontece, o ego retira-se em favor do inconsciente coletivo, Atingir esse ponto em que a realidade externa e a realidade interna (a terra e o céu) se tornam uma só é a meta da individuação. Por meio dela, também se atinge um pouco daquilo a que Jung chama de “conhecimento absoluto” no inconsciente.”

“(…) Mas se se trabalhou realmente no sentido de resolver os próprios problemas e se os complexos são integrados, então é possível? estabelecer a ligação com o inconsciente coletivo e a sabedoria/deste pode fluir através da pessoa. No ponto final do desenvolvimento (o estágio final do processo de individuação), os mestres/zen estão em tal estado de harmonia com o inconsciente coletivo que se comunicam entre si subliminarmente; eles, por assim dizer, estão juntos no unus mundus.”

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e a Imaginação ativa: estudos integrativos sobre imagens do inconsciente, sua personificação e cura.  Ed. São Paulo: Cultrix, 2022. Pág.237-240.

6. Palestra

Vir Unus/Unus Mundus

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